Organizado por Jorge Jesus? Al-Hilal diz que não é bem assim

Jorge Jesus fartou-se de dizer nas últimas semanas que “montou todo o Al-Hilal", time saudita que pode ser adversário do Flamengo na semifinal do Mundial de Clubes. Entre os árabes, a declaração causou surpresa, a sensação de que o técnico do Flamengo se atribuiu, digamos, um mérito excessivo.

É possível compreendê-los. Afinal, apenas dois dos auais titulares do time chegaram ao Al-Hilal os sete meses de Jesus no clube. Taticamente, o time se transformou bastante depois da saída do português. Mas dizer que se verá em campo um Al-Hilal construído por Jorge Jesus é exagero.

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Quando ele assumiu o clube, de cinco a seis jogadores da base titular já iniciavam jogos com frequência havia ao menos um ano. Outros, já tinham cinco a seis anos de clube. Em sua passagem, somente o francês Bafétimbi Gomis e o peruano André Carrillo foram contratados, com participação de Jesus.

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Se o italiano Sebastian Giovinco, outro nome de peso do elenco, teve sua contratação definida enquanto o português saía, o zagueiro coreano Jang Hyun-Soo assinou seis meses depois.

— É importante dizer que este time tem um histórico de chegar a várias finais asiáticas. Isto é o trabalho de muitos treinadores. Se falarmos de um, teremos que falar de todos. Mas se ele (Jesus) está dizendo que montou o time, então vamos agradecer. Mas também olhar o trabalho de outros e dizer o mesmo — afirmou, com certa ironia, o romeno Razvan Lucescu, nada menos do que o terceiro treinador do Al-Hilal desde a saída de Jesus. Antes, o croata Zoran Mamic e o brasileiro Péricles Chamusca – que foi campeão da Copa do Brasil pelo Santo André em cima do Flamengo, em 2004, e é irmão de Marcelo.

O Al-Hilal deve enfrentar o Espérance, da Tunísia, hoje com meio time diferente da última escalação de Jesus. Três jogadores escalados pelo português em seu último jogo, em janeiro passado, nem estão mais no clube.

Saudosos do mister

Mudou também a forma de jogar. O jeito intenso do treinador do Flamengo, que gosta de pressão no rival e ataques construídos em poucos toques, deu lugar a um time mais cadenciado.

– Continuamos ofensivos, mas a forma de atacar mudou bastante – disse o meia Carlos Eduardo, 30 anos, que teve passagem pelo Fluminense em 2009.

O que não significa que o treinador não tenha deixado marcas. Quem trabalhou com Jesus na equipe saudita se lembram de sua forma intensa de trabalhar e de suas contribuições às carreiras.

– Ele introduziu coisas no clube, como a presença de um nutricionista junto à equipe e um trabalho mais especializado de prevenção de lesões – conta Carlos.

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Mas é o estilo intenso e detalhista, tão notado em sua passagem atual pelo Flamengo, que ficou na memória dos jogadores.

– Ele é um grande treinador. É fato que tem sua maneira de trabalhar, de repetir jogadas, fazer reuniões que por vezes são muito longas. Como um professor, ele te explica o futebol de A a Z. Isso é bom, especialmente para mim. Mesmo na minha idade, aprendi muito – disse o atacante francês Gomis, de 34 anos. – Mandei uma mensagem para ele quando soube que foi para o Flamengo. Disse que ele foi para lá porque ele é o melhor.

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Em relação a Carrillo, a convivência com Jesus não se limitou aos sete meses de Al-Hilal. Ele já trabalhara com o hoje técnico rubro-negro por um ano no Sporting, de Portugal.

– Não é por acaso que ganhou tudo no Flamengo. Seu jeito exigente e detalhista na parte tática é característico. É muito intenso. No campo, é um louco pelo futebol – analisou o meia, que se tornou amigo pessoal de Jesus. – Mantivemos contato. A final da Libertadores foi em Lima e o ajudei em algumas coisas que ele precisava na cidade. Ele tem muito bom coração.

Coincidência

É de se perguntar, portanto, por que foi tão curta a relação entre Jorge Jesus e o Al-Hilal. A coincidência é que os motivos da ruptura repetem a situação que o português vive no Flamengo.

Em janeiro, o treinador cumprira pouco mais da metade do contrato de um ano. O Al-Hilal, no entanto, queria que Jesus renovasse até o fim de 2019, para tê-lo em toda a temporada. O treinador não aceitou e o clube preferiu dispensá-lo.

A diferença é que o Flamengo, ao que parece, pretende ficar com ele até o meio de 2020, mesmo sem a garantia de permanência. No meio de 2020, é possível que muitas portas europeias se abram para o técnico, que nunca escondeu o desejo.

Fonte: O Globo
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