Neguinho da Beija-Flor em festa pelos 40 anos de ‘O campeão’, seu maior sucesso

O rubro-negro Neguinho da Beija-Flor está rindo à toa. Não apenas pelo ótimo ano de seu time do coração, próximo do título do Brasileiro e finalista da Libertadores. Neste mês, seu maior sucesso, a música “O campeão” —tão cantada pelas torcidas cariocas —completa 40 anos.

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Curiosamente, essa canção, que começa com o famoso “Domingo, eu vou ao Maracanã”, foi feita, inicialmente, para um amigo vascaíno, que pretendia lançar uma torcida gay. E um dos trechos dizia: “Vou torcer pro Vasco que sou fã”.

— Aí o Eurico Miranda não aceitou a torcida que esse meu amigo, Paulo Roberto, queria fundar. Peguei o samba de volta e botei “vou torcer pro time que sou fã”. E o Flamengo adotou e arrebentou — recorda, orgulhoso.

Outra curiosidade é que o primeiro local em que Neguinho, hoje com 70 anos, cantou “O campeão” foi no River Futebol Clube, em Piedade, homônimo do rival da final da Libertadores.

— Era uma roda de samba comandada pelo JC Escafura, o Piruinha. Fez tanto sucesso que cantei uma vez e ele me disse que teria outro cachê, para cantar de novo. Peguei a grana e cantei por volta da meia-noite, foi outro sucesso. Saí do River e fui para o Salgueiro, onde os ensaios eram aos domingos e terminavam às 5h da manhã — relembra o sambista.

O sucesso inicial da música, destaca Neguinho, contou com a ajuda de alguns amigos intérpretes. Aroldo Melodia, Rico Medeiros e Dedé Portela o ajudaram a divulgá-la nas rodas de samba da cidade.

Se o compositor mantém até hoje gratidão a quem deu uma força naquela ocasião, emoção é a palavra que vem à mente de Neguinho sobre a primeira vez que ouviu a música ser cantada no Maracanã, no ano seguinte, no dia 1º de junho, que garantiu o primeiro título brasileiro do clube:

— Foi com uma torcida organizada, que era comandada pelo meu amigo Claudio Cruz, policial civil. Nem consegui assistir ao jogo direito, de tanta emoção. Ver 150 mil, 200 mil pessoas cantando sua música é muito emocionante. O Flamengo venceu o Atlético-MG por 3 a 2, com gol do Nunes, que faz parte da minha história. Aquele gol e a música explodindo foram uma emoção muito grande. Até hoje sou grato ao Claudio.

Se “O campeão” ajudou a pavimentar a estrada do sucesso de Neguinho como compositor e intérprete, recentemente o sambista fez uma adaptação de outra canção. “Obrigado, Jesus”, que ele fez em parceria com Marquinhos FM, há dez anos. O motivo: homenagear o atual técnico do time rubro-negro:

Lição com o câncer

— Fizemos essa música na época em que venci o câncer (de intestino). Outro dia, num show em Manaus, o percussionista Ivan Sorriso, que trabalha comigo há 36 anos, me sugeriu a adaptação. A música está explodindo; o Mister tem uma importância muito grande neste time, merece a homenagem.

Por falar na grave doença superada em 2009, Neguinho diz que aprendeu uma lição:

— Me arrisco a dizer que o câncer foi uma das melhores coisas que Deus botou na minha vida. Com ele aprendi que todos são guais. Não adianta ter sucesso, dinheiro, se não tiver saúde.

Apaixonado por futebol, Neguinho vê com tristeza os casos recentes de racismo nos estádios:

— Infelizmente, talvez nem daqui a 200 ou 300 anos o racismo seja banido. Sempre vai existir. O negro incomoda quando faz sucesso, infelizmente, para algumas pessoas. Dificilmente você vê um gerente de banco, um emprego comum, negro. Piloto negro só se vê na África, infelizmente.

Voltado ao seu time do coração, qual o palpite para a final da Libertadores contra o River Plate?

— Mengão 4 a 1, pode escrever aí, como no jogo contra o Corinthians.

Fonte: O Globo
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