Mundial de Clubes: Casas de apostas e aéreas do Oriente Médio dominam os patrocínios másters dos times

A luta pelo título de melhor time do mundo não é o único interesse das 32 equipes presentes na Copa do Mundo de Clubes da Fifa, nos Estados Unidos. Há outro jogo em disputa fora das quatro linhas. Durante um mês — um pouco menos para quem cair na primeira fase —, os clubes poderão estampar seus patrocinadores nas camisas às vistas de uma audiência de bilhões de pessoas. E são dois os vetores que movem o dinheiro no futebol atual: capital de risco das casas de apostas e investimentos estratégicos de empresas do setor aéreo do Oriente Médio.

Segundo levantamento feito pelo GLOBO, sete clubes participantes têm como patrocinador máster alguma plataforma de apostas — incluindo os seis times sul-americanos e o Porto. Mas o número é ainda maior quando se considera qualquer tipo de parceria com esse setor: 17 dos 32 clubes têm algum vínculo com casas de apostas, incluindo gigantes como a Inter de Milão, que optou por estampar a Qatar Airlines na camisa durante o Mundial no lugar da Betsson, que paga 32 milhões de euros por temporada.

O sócio-diretor da Wolff Sports e especialista em marketing esportivo, Fábio Wolff, define o setor como "perfil do mercado mundial no momento". A expansão é limitada por proibições legislativas e até questões religiosas — alguns países muçulmanos, como a Arábia Saudita, não permitem jogos de azar baseados na lei islâmica.

Bem diferente do Brasil, onde o mercado explodiu após a regulamentação do setor finalmente sair do papel neste ano. Todos os times da Série A do Brasileirão estampam alguma bet no uniforme, sendo que 90% deles têm a marca como patrocinador máster.

— O segmento de apostas, em muitos casos, ocupou o espaço que antes era dominado por empresas financeiras. Hoje, é a principal força em volume e capilaridade no esporte, especialmente na América do Sul e em partes da Europa, onde a regulamentação ainda está em construção ou transição — afirma Wolff.

A aposta como motor financeiro do futebol, contudo, convive com outro fenômeno: a presença de companhias aéreas do Oriente Médio como protagonistas no patrocínio a clubes de elite. Das quatro empresas do setor presentes entre os patrocinadores máster, todas são da região: Emirates (Benfica e Real Madrid), Qatar Airways (PSG e Inter de Milão), Etihad (Manchester City) e Rhyadh Air (Atlético de Madrid).

O peso financeiro das aéreas é gigante. A soma dos valores dos patrocínios dos seis clubes citados chega a 273 milhões de euros (R$1,73 bilhão) — contando a Qatar Airways estampada na camisa da Inter de Milão. Praticamente quatro vezes mais que os sete times patrocinados pelas bets (R$463 milhões), sem contar o contrato do time italiano com a Betsson.

Para o especialista em marketing esportivo e professor da ESPM, Ivan Martinho, os dois movimentos têm lógicas diferentes, mas igualmente poderosas.

— As casas de apostas representam capital privado de alto risco buscando escala rápida. Já as companhias aéreas do Oriente Médio operam com visão de longo prazo e apoio institucional, muitas vezes articuladas com políticas de Estado. Elas usam o esporte como ferramenta de soft power, para construção de marca e influência global — analisa.

O mapa global dos patrocinadores do Mundial

O ranking por nacionalidade dos patrocinadores também reforça essa polarização. Os Emirados Árabes Unidos lideram com três marcas presentes em cinco clubes, seguidos pelos Estados Unidos (3) e pela Grécia e Suécia (com duas, ambas do setor de apostas). Já o Brasil aparece apenas uma única vez — com a Flabet, que estampa a camisa do Flamengo.

Além de apostas e aviação, há espaço no Mundial para setores variados: telecomunicações (Etisalat, no Al Ahly e Al Ain), indústria, automobilismo e energia (Evonik, Mitsubishi, Jeep, HD, JAC e Ingelec), saúde (Providence, no Seattle Sounders), bebidas (Danone e Michelob Ultra), tecnologia e entretenimento (Savvy Games, da Arábia Saudita), turismo (Royal Caribbean, no Inter Miami) e o modelo da marca de bebidas Red Bull (Salzburg), que é proprietária de diversos clubes pelo mundo.

Mas nem todos os clubes estão com patrocinadores estampados: o Chelsea atua sem marca no uniforme, já que seu patrocinador máster é fruto de um acordo temporário, válido apenas para o Campeonato Inglês e a Liga Conferência.

Segundo o regulamento da Fifa, é permitido que os clubes exibam até dois patrocinadores em seus uniformes durante o torneio — um na parte frontal e outro em uma das mangas. A restrição vale para todo o kit de materiais dos times (treino, agasalhos e coletes usados no banco de reservas). A justificativa da entidade é pela padronização visual. Para Wolff, essa decisão é "assertiva".

— Cada país tem normas diferentes. No Brasil, por exemplo, é comum vermos camisas com até oito marcas. Já em mercados europeus, há limite para dois. A Fifa precisa equilibrar essas diferenças, ao mesmo tempo que garante a visibilidade que os patrocinadores exigem — pontua.

Martinho complementa:

— Eventos globais como o Mundial de Clubes são fundamentais para marcas que querem audiência internacional. Para patrocinadores como as companhias aéreas do Oriente Médio, trata-se de exposição alinhada a uma estratégia geopolítica maior.

Fonte: O Globo
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