Maracanã 70 anos: Mike Tyson, o maqueiro vascaíno que se rendeu a Zico

Nem só dos jogadores é feita a história do Maracanã. Sob a sombra dos atletas, muitos outros trabalhadores foram responsáveis pelo funcionamento do estádio ao longo dos últimos 70 anos. Poucos foram os que deixaram o anonimato para ocupar um espaço diante dos holofotes. Enéas de Andrade, o Mike Tyson, é um deles.

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Sua função o ajudou a conquistar fama. Maqueiro entre 1980 e 2010, suas idas e vindas no gramado para socorrer jogadores fizeram dele uma figura querida entre torcedores e jornalistas. Além dos próprios atletas.

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Como Zico, socorrido por Mike Tyson em diversas ocasiões. Na mais dramática delas, recebeu uma entrada do lateral Márcio Nunes, do Bangu, que lhe ocasionou uma série de lesões e afetou sua carreira de forma irreversível. Foi o maqueiro quem o tirou de campo, assim como em inúmeras outras ocasiões. Até sua despedida do Maracanã, em 1990, no amistoso entre o Flamengo e uma seleção de estrelas nacionais e internacionais (jogo eleito o 46º mais importante da história do estádio.

- Eu estava sempre tirando o Zico de maca. Ele era muito caçado. Mas também... jogava muito! - derrete-se o antigo maqueiro.

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O fato de ser vascaíno não impediu Enéas de se aproximar do ídolo rubro-negro, maior artilheiro do Maracanã (333 gols). Ele passou a ser chamado por Zico para atuar como segurança nos eventos promovidos em sua casa de Quintino. Para o Galinho, uma forma de ajudá-lo a complementar a renda e retribuir os socorros prestados com a maca.

- O Zico foi o primeiro jogador que carreguei na maca. Acabei pegando uma intimidade tremenda com ele, que me chamava de "Da maca".

Há cinco anos sem a visão, Enéas exibe seu álbum de fotos com jogadores que conheceu no Maracanã
Há cinco anos sem a visão, Enéas exibe seu álbum de fotos com jogadores que conheceu no Maracanã Foto: Pedro Teixeira / Agência O Globo

Aos 80 anos, Mike Tyson (apelido dado pelo locutor Januário de Oliveira) vive com a mulher e o filho no bairro de Braz de Pina, Zona Norte do Rio. Apesar de sua atuação como maqueiro do Maracanã ao longo de três décadas ser notória, nunca conseguiu comprovar vínculo empregatício com a Suderj (Superintendência de Desportos do Estado do Rio de Janeiro). Com isso vive apenas da pensão que recebe do extinto Banco Nacional, onde foi segurança antes de ingressar no futebol.

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Do Maracanã, guardou apenas fotografias que ajudam a contar sua história. Há registros dele com Zico, claro. Mas também com Roberto Dinamite, Maradona, entre outros. Imagens que hoje estão apenas em sua memória, já que ele perdeu a visão há cinco anos em decorrência de um glaucoma. Nem por isso as histórias caem no esquecimento.

- Lembra quando o Real Madrid veio jogar no Maracanã (para o Mundial de clubes, em 2000)? O Sávio, que nessa época jogava com eles, me reconheceu e me apresentou aos jogadores. Conheci o Raul, bati papo com o Roberto Carlos... - recorda-se.

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O rádio tornou-se seu fiel companheiro. É através dele que se mantém informado sobre o futebol. Com o esporte paralisado pela pandemia de Covid-19, agora só ouve notícias e música.

- Gosto de Diana Ross, George Benson, Stevie Wonder... Sou muito romântico!

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É com esse romantismo que ele lembra da extinta geral, dos shows no estádio em que atuou como segurança e, principalmente, que alimenta a esperança de voltar ao menos mais uma vez no local.

- Foi um prazer enorme trabalhar no Maracanã. Foi como uma casa. Queria muito voltar. Mas deixa essa doença passar. Deixa ele ficar limpinho.

Fonte: Extra
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