Construído como o maior do mundo, o Maracanã nasceu gigante demais para ser especial apenas para os brasileiros. Sul-americanos, europeus e até asiáticos vêem nele o sinônimo de um momento de glória na carreira. A lista vai desde os integrantes da seleção do Qatar, que viveram o sonho de jogar no local durante a Copa América de 2019, até Ghiggia e Mario Götze, heróis das finais das Copas de 1950 e 2014. Mas ninguém lutou para preservar as lembranças do estádio tanto quanto Salvador Cabañas.
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Protagonista da vitória do América-MEX por 3 a 0 sobre o Flamengo, jogo de volta pelas oitavas da Libertadores-2008 (e que foi eleito o 52º mais importante da história do estádio), o paraguaio viu as memórias deste dia desaparecerem junto a tantas outras. O motivo: o tiro que levou na cabeça em 2010 e que interferiu de forma drástica em sua carreira. Durante alguns anos, o jogo no qual se sagrou carrasco do Flamengo foi uma página em branco.
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- Depois do tiro que levei na cabeça, não lembrava de muitas coisas que eram importantes para mim. Foi aí que meus amigos jornalistas do Paraguai passaram a me enviar vídeos de jogos. Dos gols, na verdade. Quando vejo um gol sempre me lembro de como foi aquela partida - conta o atacante.
Rever os gols daquela partida, o que pode provocar calafrios em muitos rubro-negros, representa mais do que saudosismo para Cabañas. É um resgate de sua própria história. Hoje, ele lembra com alegria e, principalmente, com orgulho de seu feito.
- Foi um dos jogos mais importantes da minha carreira. Se não me equivoco, fica atrás apenas dos jogos contra Argentina e Brasil pelas Eliminatórias (da Copa de 2010) - afirma Cabañas. - Recordo que, quando fomos para o Brasil, diziam ser uma viagem de férias, que estava tudo perdido (o América-MEX perdera a primeira partida por 4 a 2). Nós dizíamos que não, que ainda faltavam 90 minutos. E foi realmente uma vitória muito boa.
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Cabañas marcou dois dos três gols que deram a vaga para o time mexicano. O último deles, aos 32 da etapa final, calou os quase 61 mil rubro-negros que, antes do jogo, já faziam uma festa de despedida do técnico Joel Santana, a caminho da seleção da África do Sul.
- Na época o Maracanã ainda era o Maior do mundo (na verdade, este posto já havia sido perdido na década anterior). Estava muito cheio. E não acreditamos quando fizemos ele ficar em silêncio. Até hoje nos surpreende. Todos daquele time vão se recordar deste dia para sempre. É uma façanha que quase nenhuma equipe fez em nível internacional.
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Embora Cabañas defendesse uma equipe mexicana, seu feito enche de orgulho seus conpatriotas. No Paraguai, a reviravolta comandada pelo atacante comparada ao Maracanazo de 1950. A boa fase do jogador, que também se destacou pela seleção nacional, era motivo de orgulho no país.
- O "doblete" de Salvador Cabañas foi uma sensação entre os paraguaios. A virada não estava nos planos, mas o faro e a personalidade de Cabañas nos grandes jogos deixava uma sensação no ar de que algo poderia se passar no Maracanã - recorda Darío Ibarra, jornalista esportivo do diário ABC Color. - Cabañas era sinônimo de gol. Aqueles dois foram uma mostra da grandeza e do valor que a seleção paraguaia podia ter com ele. Seja no Maracanã ou em qualquer outro estádio do mundo.