Mapa dos agentes: saiba quem são os principais representantes de jogadores na Série A em 2023

Negócios milionários, viagens, muita influência e uma fama de “vilões”. A rotina de um agente no futebol é sempre agitada, especialmente nos períodos de janela de transferências, como o que será aberto no dia 1 de janeiro nas principais ligas europeias e dia 12 de janeiro no Brasil. Eles ganham ainda mais notoriedade nesta época do ano.

A vida de um agente e sua relação com os clubes fazem parte de curiosidade sobre quem são essas pessoas envolvidas nos negócios que movimentam milhões de euros e definem as carreiras dos jogadores.

Por isso, o ge fez um levantamento para saber quem são os agentes mais influentes do futebol brasileiro. A pesquisa - com ferramentas do site Transfermarkt, documentos oficiais da CBF, como canal de registro dos jogadores, e pelos sites dos próprios agentes - conta com mais de 450 atletas que atuaram na Série A em 2023. Além disso, a reportagem traz entrevistas com três dos principais representantes de jogadores.

Os empresários mais influentes do futebol brasileiro — Foto: Infoesporte

Os critérios

  • cada clube da Série A de 2023 teve entre 20 a 24 atletas incluídos no levantamento
  • foram contabilizados os jogadores que mais atuaram na competição e que encerraram o Brasileirão em seus clubes
  • se o representante do jogador não estava em uma das fontes, o atleta não foi contabilizado

Empresas com mais de cinco jogadores na Série A, que entraram no levantamento

Empresário Jogadores
BERTOLUCCI SPORTS (Giuliano Bertolucci) 25
Link (André Cury) 23
Roc Nation Sports Brazil (Frederico Pena) 16
Carlos Leite 14
Elenko Sports Ltda 12
MARCIO BITTENCOURT SPORTS 12
Casa Soccer 10
Brazil Soccer (Eduardo Uram) 10
Talents Sports (Paulo Pitombeira) 9
Un1que Football 9
sem agente 9
Família 9
Vibra Futbol 7
ADM Esporte 6

“Estar na hora certa, no momento certo”

A premissa acima é de Giuliano Bertolucci, agente de 51 anos de idade . Dentre os representantes de jogadores na Série A, a Bertolucci Sports é a que aparece com mais atletas no levantamento feito pelo ge : são 25.

Bertolucci, em entrevista por telefone, disse que um agente vive do futebol, com uma agenda cheia de viagens para encontros com jogadores e clubes - algo fundamental para qualquer negócio.

- Eu vivo o futebol, vejo jogos quase todos os dias, tenho que viajar muito para poder estar no mercado na hora certa e principalmente saber as necessidades do time e oferecer o atleta certo para o clube, sabendo que existe um setor de rendimento que irá analisar tudo do jogador.

O agente tem seis jogadores no Flamengo, como Pedro e Cebolinha, e tem atletas constantemente convocados para a seleção brasileira: como Marquinhos, Bruno Guimarães e Gabriel Magalhães.

André Cury, de 53 anos, é o responsável, por exemplo, pela venda de Vitor Roque ao Barcelona , em uma negociação que pode chegar a quase 400 milhões de reais. Sócio da Link, segunda colocada no levantamento do ge - com 23 atletas -, da BRIO - com 5 atletas - e de outras empresas do ramo, o empresário também ressaltou a importância das viagens no dia a dia empresarial.

- Você tem que participar ativamente, estar nos lugares, olhar com o próprio olho, sempre tentar melhorar as coisas e dar essa atenção para os jogadores poderem se desenvolver e chegar ao objetivo.

Além de representar jogadores, Cury também intermedeia negócios de clubes com outros atletas, que não pertencem às suas empresas. Segundo ele, atualmente na Série A, esteve envolvido nas negociações de mais de 50 jogadores.

O empresário afirma ter conduzido negociações de gringos de peso, como Arrascaeta , do Flamengo, Gustavo Gómez e Piquerez , do Palmeiras, Rochet e Aránguiz , do Internacional, e Medel, Vegetti e Ramón Díaz , do Vasco.

- Esses jogadores estrangeiros também são uma parte que eu acho muito legal. Dificilmente alguém vai poder entrar em qualquer entrevista com você e falar essa quantidade que eu tenho. Porque vem muito estrangeiro para o Brasil todo ano. Tem um monte aí que você não sabe nem o nome. Estou te falando de jogadores aqui renomados - disse Cury, em entrevista exclusiva ao ge .

O terceiro empresário é Frederico Pena, presidente da Roc Nation Sports Brazil, antiga TFM Agency. A empresa é a terceira do ranking com mais atletas representados no levantamento - com 16, ao todo. Há 18 anos no mercado, alguns dos principais jogadores brasileiros são agenciados pela empresa: Vini Jr, Paquetá, Gabriel Martinelli e Endrick.

- Temos um nicho muito claro, em que nós buscamos os atletas que têm o talento fora de série. E esses atletas são identificáveis muito cedo. Por serem fora de série, eles já têm, geralmente, inícios de carreira e de performance muito precoces. Então, são dois atletas (Vini Jr e Endrick) que identificamos e acompanhamos desde que eles eram muito jovens - afirmou Frederico ao ge .

A TFM Agency, neste ano, foi adquirida pelo rapper americano Jay-Z, que comprou 51% das ações da empresa . O cantor é dono da Roc Nation, que agencia artistas, produtores e compositores do mundo todo e desde 2013 tem uma vertente no esporte, a Roc Nation Sports.

- A Roc Nation é uma empresa que começou com o conceito de ser uma agência de um artista para representar artistas. Os cantores de rap e hip-hop nos Estados Unidos têm uma coisa em comum com os jogadores de futebol do Brasil, porque eles vêm de origens muito humildes.

- O intuito do Jay-Z é defender o interesse dessas pessoas que estavam saindo de suas origens humildes como a dele, quando ele começou no rap nos anos 90. É para defender o interesse desse cliente, porque hoje o artista no mundo de entretenimento não vive só daquilo que ele faz - disse o presidente da Roc Nation Sports Brazil.

Influência dentro de clubes

Alguns agentes têm mais de um jogador em determinados clubes, o que gera uma influência na representatividade nos times. No levantamento, os empresários mais influentes em uma equipe são Giuliano Bertolucci, no Flamengo, e a empresa Casa Soccer, no Cuiabá, cada uma com seis jogadores.

Empresas com mais de um jogador em cada time do Brasileirão e quantos jogadores entraram no levantamento

  • América-MG : 24 jogadores no levantamento - Elenko Sports e Marcio Bittencourt Sports (3)
  • Athletico : 24 jogadores - Brazil Soccer (2)
  • Atlético-MG : 23 jogadores - Elenko Sports, Bertolucci Sports e Roc Nation Sports Brazil (2)
  • Bahia : 23 jogadores - Promanager (2)
  • Botafogo : 23 jogadores - Left Sports (2)
  • Bragantino : 24 jogadores - Bertolucci Sports (5), Roc Nation Sports Brazil (3), Link e DK (2)
  • Corinthians : 23 jogadores - Carlos Leite (4), Bertolucci Sports (2)
  • Coritiba : 23 jogadores - Link e GR2 (2)
  • Cuiabá : 23 jogadores - Casa Soccer (6) e OF (2)
  • Flamengo : 23 jogadores - Bertolucci Sports (6), Roc Nation Sports Brazil e Carlos Leite (2)
  • Fluminense : 23 jogadores - Márcio Bittencourt Sports, Família e Bertolucci Sports (2)
  • Fortaleza: 24 jogadores - Link e Lipatin Sports(3)
  • Goiás: 23 jogadores - Márcio Bittencourt Sports (3)
  • Grêmio: 22 jogadores - Talents Sports (2)
  • Internacional: 22 jogadores - Link (4)
  • Palmeiras: 23jogadores - Un1que Football, Roc Nation Sports Brazil, Link e Talents Sports (3)
  • Santos: 20 jogadores - Casa Soccer (2)
  • São Paulo : 24jogadores - 4ComM (3), Link, Elenko Sports Ltda e Bertolucci Sports (2)
  • Vasco : 23 jogadores - Link (3) e Carlos Leite (2)

Bertolucci também tem cinco jogadores no Bragantino, mas o empresário não atrela a algum fator específico essa representação em alguns times e afirmou que as contratações são feitas por critérios dos times.

- Os investimentos são muito altos, os clubes têm uma estrutura que define qual é o jogador necessário para o time. Isso é feito com critério, e não há política e nem amizade. São profissionais que escolhem os nomes, e você tem os jogadores.

Um tema em comum nas entrevistas, sobre a influência maior em alguns clubes, foi "ter confiança em projetos". André Cury, da Link e de outras empresas, possui mais de dois jogadores em times como Palmeiras, Internacional, Vasco, São Paulo e Fortaleza.

- Estamos também tendo essa sorte e a competência do trabalho, porque normalmente quando a gente tem essa quantidade de jogadores, os clubes estão andando muito bem - disse Cury, que enumerou:

- O Cruzeiro bicampeão brasileiro tinha uma série de jogadores. No Atlético, campeão da Libertadores de 2013, tinha uma série de jogadores. No Atlético campeão brasileiro em 2021, a tríplice coroa em 21, também. Não é por coincidência. O Fortaleza mesmo, que eu tenho um orgulho muito grande de ser muito amigo do Marcelo, conheci ele no trabalho e consegui contribuir muito. Eu sou o agente que mais contribuiu para a história do Fortaleza em todos os sentidos. Com a chegada de jogadores de nível europeu e de seleção brasileira como Ederson, Lucas Lima, David, como hoje tem lá o Calebe, o Benevenuto.

Frederico Pena, da Roc Nation, acrescentou que um agente avalia antes se, por exemplo, o clube cumpre com suas obrigações financeiras e trabalhistas. Isso acontece, segundo ele, para o empresário poder fornecer ao jogador as melhores condições de negócio e futuro.

- Eu acho que acaba tendo uma afinidade com aquilo que o clube pensa, com a montagem do elenco, de você saber que é um clube sério. Um clube onde o que for combinado com o atleta vai ser cumprido. Tem muito clube hoje em dia que ainda atrasa salário, atrasa direito de imagem, atrasa pagamento da comissão do agente. Tentamos buscar os melhores parceiros.

O agente ainda alertou que até uma proximidade geográfica do escritório com o clube pode influenciar, mas que isso não é um impeditivo.

- Vou dar um exemplo aqui. Nós não temos nenhum atleta jogando no Cuiabá, que é um projeto super legal, nada impede que amanhã a gente tenha. A gente sabe que é um projeto sério, que é um projeto cumpridor das suas obrigações. Aconteceu ali, de repente, por uma montagem do elenco, por um relacionamento, por uma escolha, de repente do treinador ou do dirigente. Depende muito.

As negociações e a profissão

- Trabalhamos num ramo de negócio que é prestação de serviços. Eu tenho que saber quem é meu cliente, o que ele quer e entregar pra ele isso - Frederico Pena, da Roc Nation Sports Brazil.

Para trabalhar com a profissão, os agentes precisam passar na prova da Fifa para tirar licença. Em abril deste ano, cerca de 500 intermediários brasileiros fizeram a prova de 20 questões. Quem não passasse pela prova não poderia realizar transações internacionais reconhecidas pela Fifa, por exemplo.

Na semana passada, no entanto, uma decisão do juiz Marcelo Nobre de Almeida, da 7ª Vara Cível da Barra da Tijuca, impediu que a CBF aplicasse novo regulamento da Fifa no trabalho de agentes. A ação coletiva de empresários do futebol contra a CBF impede a aplicação de regras que exigiam prova para agente Fifa e poderia diminuir mercado de empresários no Brasil

O desafio da profissão é captar os jogadores e convencê-los de que o seu serviço é o melhor para a carreira do atleta. Por isso, o contato corpo a corpo e a rede de relações é tão importante no dia a dia dos agentes.

- Eu comecei a trabalhar com marketing esportivo muito novo. Criei uma rede de relações e de conhecimento no futebol e resolvi me tornar agente em 2005. Fiz a prova na época para agente Fifa, passei, tirei a minha licença e comecei a trabalhar do zero.

- Primeiro, trabalhei como parceiro de outros empresários já estabelecidos até eu conseguir captar o meu primeiro cliente. Com o primeiro, vem o segundo. E aí, vocês já conseguem intermediar um negócio, e uma coisa vai levando a outra - contou Frederico Pena.

Às vezes acusados como vilões, seja por torcedores ou até mesmo por ex-clientes, como jogadores e técnicos, os agentes garantem que o prazer da profissão é estar envolvido nos grandes projetos para seus clientes.

- Vendi o Ronaldinho Gaúcho para o Barcelona em 2003. Em 2013, eu vendi o Neymar. Em 2023, o Vitor Roque. De 10 em 10 anos você levar um cara assim. Tomara que o Vitor tenha a mesma história que os outros dois tiveram lá - disse André Cury, que completou:

- Isso tudo nos ajuda muito pelo know-how (conhecimento da área), pelo serviço já prestado, pela transparência de como a gente trabalha. E isso vai criando uma marca mesmo que nos orgulha muito de poder estar trabalhando e estar ajudando todos os jogadores a terem uma carreira bem-sucedida.

Apesar das burocracias técnicas, Frederico Pena disse que é apaixonado pelo trabalho de agente e afirmou que "nem parece trabalho", às vezes.

- Eu sou apaixonado por futebol desde jovem, então eu me sinto como se eu não estivesse trabalhando. Algumas vezes, tem que fazer algumas coisas chatas administrativas, mas geralmente é um trabalho muito prazeroso. Eu acho que, acima de tudo, você está ajudando as pessoas e sabendo que você está ali, estruturando a vida de alguém, ajudando uma família.

- Você fala assim “eu fiz isso por ele, e esse cara vai ter uma vida excepcional”. Eu ajudei uma família inteira, e eles vão ajudar outras pessoas, e eu participei dessa construção de carreira. Acho que isso dá uma sensação excepcional. Você se sente um pouco responsável por isso também.

O ge ouviu os três primeiros empresários no ranking feito - André Cury e Frederico Pena foram entrevistados por vídeo, enquanto Giuliano Bertolucci foi entrevistado por telefone. O levantamento foi feito pelo site especializado em transferências, o Transfermarkt, por documentos da CBF e pelos próprios sites dos agentes. A reportagem também contou com a ajuda dos setoristas do ge.

Fonte: Globo Esporte