Mansur: Decisão premiou coragem do Chelsea, campeão após brutal imposição ao PSG

Há uma distância entre apontar que a nova Copa do Mundo de Clubes nasce com uma série de problemas, do calendário à seleção dos participantes, e reconhecer que o torneio é um ótimo produto: por produzir confrontos raros, por colocar frente a frente times importantes, por reunir grandes craques, ou mesmo pela natureza deste tipo de copa, sempre convidativa às surpresas e às grandes histórias.

A final foi mais uma delas. Não são 90 minutos que irão reformar as impressões de toda uma temporada, e ainda é verdade dizer que o Paris Saint-Germain é o melhor time do mundo. Mas o que estava em jogo nos Estados Unidos não era medir qual a melhor equipe do planeta, mas quem ganharia o torneio. E a decisão premiou um plano corajoso do Chelsea, que chegou à competição sob um olhar muito diferente do que era posto sobre seu rival: um time em construção, cujo desempenho ao longo do último ano não o colocava entre os oito ou dez melhores da Europa. Hoje, é campeão do mundo após uma brutal imposição sobre os franceses.

Várias foram as tentativas recentes de parar o PSG. O Chelsea optou por uma estratégia um tanto similar à do Bayern de Munique nas quartas-de-final: aceitou que o jogo seria uma disputa de pressões com encaixes individuais, perseguições longas, mesmo que o preço disso fosse ter zagueiros perseguindo atacantes até longe da linha defensiva. O time era coordenado para preencher eventuais buracos gerados por estes deslocamentos, arriscados contra um PSG sem posições fixas. Com bola, o Chelsea explorava as costas dos laterais do PSG, os ataques rápidos, com movimentos inteligentes para fugir da marcação adversária.

Os 3 a 0 do primeiro tempo mostram que funcionou. Mas não há jogo de futebol deste nível que, em algum momento, não possa ganhar outro rumo. As circunstâncias também precisam ajudar. Após minutos dominantes do Chelsea, o PSG ameaçou fugir das perseguições do adversário com Hakimi correndo por todo o ataque e Fabián Ruiz infiltrando de trás. Quando mais era ameaçado, o Chelsea viu uma bola longa de Robert Sánchez contar com erro de Nuno Mendes e gol de Palmer, o mais brilhante da decisão.

Mais adiante, Palmer fez outro belo gol às costas de Nuno, antes de Kvaratskhelia não acompanhar Malo Gusto, Nuno Mendes se ver entre Palmer e Malo Gusto, na jogada que terminou em gol de João Pedro.

Ainda mais notável foi ver o Chelsea mudar radicalmente de plano defensivo no segundo tempo. Em boa vantagem, passou a defender por zona, e não mais em encaixes individuais. Montou uma linha de cinco na defesa e, novamente, neutralizou os franceses, que tiveram atuações individuais abaixo do habitual. No fim, a Copa de Clubes repetiu algo já visto em torneios de seleções: um time mediano na fase de grupos crescer no mata-mata e arrancar para o título.

Desta primeira experiência, fica a lição de que o futebol, com seus confrontos entre culturas distintas e seus grandes jogadores, pode salvar ideias imperfeitas. Para o futuro, será preciso resolver a questão das férias dos jogadores: não é possível que a elite da Europa, a cada ciclo de quatro anos, fique três temporadas sem o descanso ideal. As novas competições e a busca por dinheiro novo não podem ter como preço as pernas e a saúde dos atletas.

Outra questão é um sistema de classificação que aproxime mais a representação dos continentes, em especial da Europa, do que existe de melhor no momento. E, para isso, o obstáculo é o caráter quadrienal do torneio, algo que não combina com o futebol de clubes. Sem contar as temperaturas, horários dos jogos, quase sempre o sacrifício dos atletas em nome da busca por mais dinheiro.

Mas o futebol sempre estará aí para produzir boas memórias.
Fonte: O Globo
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