Pode parecer até roteiro de ficção: um ônibus com 19 torcedores do Flamengo cruzando os estados de Rondônia e Acre para chegar ao lado brasileiro da fronteira com o Peru antes de ela fechar e frustrar a nossa passagem.

Não é. A história é real e resume de forma simplificada a jornada desta terça-feira da viagem em que a ESPN embarcou no último sábado: chegar a Lima, local da final da Copa Libertadores, de ônibus.

O ponto de partida dessa busca foi o problema no ar condicionado do ônibus no dia anterior . O veículo foi para a manutenção e a viagem acabou sofrendo um atraso de seis horas, levando em conta o retorno dele, os esclarecimentos prestados e a saída.

Entre o final da noite de segunda e a madrugada de terça, uma verdadeira tempestade tropical colocou mais dificuldade . O motorista da vez era William Guerra e ele teve de conduzir no máximo a 50 km por hora. Estava sem visibilidade e a BR-364 tem muitos buracos.

Chegamos em Candeias do Jamari (RO) por volta das 8h. Foi uma parada de quase 40 minutos para banheiro, banho e café.

Partimos cientes de que cruzar o lado brasileiro da fronteira seria praticamente impossível. Ele encerra o expediente às 19h. Depois só voltaria abrir às 7h do dia seguinte.

Os passageiros começaram a estudar uma estratégia, caso fracassasse o plano de chegar no horário. As ideias mais recorrentes foram prolongar as paradas de forma que o ônibus chegasse no início da manhã seguinte.

A viagem prosseguiu até cruzarmos a balsa sobre o rio Mamoré/Madeira, perto da divisa com o Acre. Aí que a preocupação aumentou. Os funcionários da companhia de ônibus tentavam contato com a fronteira para saber se a liberação poderia ocorrer após às 19h.

O problema é que estávamos atravessando parte da floresta amazônica e sem qualquer sinal. Nem internet nem linha telefônica.

Um não mudaria todo o roteiro do dia. Um sim nos faria acelerar a viagem para chegar.

Às 13h30, fizemos uma parada para almoço em um restaurante de beira de estrada: Caipirão, em Vista Alegre de Abuña.

Tivemos acesso à internet. Mas sem qualquer notícia sobre o funcionamento da fronteira.

A viagem prosseguiu. Muitas e muitas horas. Quando nos aproximamos de Rio Branco, capital do Acre, e já pensávamos como seria a parada para jantar surgiu a boa notícia: com autorização da Polícia Federal, os funcionários da fronteira nos aguardariam para fazer o trâmite de imigração.

Só paramos em Rio Branco para abastecer e para o ingresso de três novos passageiros. Todos flamenguistas --por isso o número de torcedores no ônibus aumentou de 16 para 19. O ônibus prosseguiu viagem.

Passamos Brasiléia e Epitaciolândia. Depois o ônibus prosseguiu até Assis Brasil, onde fica o posto da fronteira Brasil-Peru. Chegamos 0h17. E após uma hora fomos liberados.

Até este ponto foram percorridos 3.950 km, levando em conta a saída da rodoviária do Tietê, em São Paulo, e 4.373 km para quem partiu do Rio de Janeiro. Um total de 92 horas de viagem.

Por volta de 1h40 de quarta, chegamos ao posto de imigração do lado peruani ds fronteira. O atendimento foi rápido. E, finalmente, às 3h35 de quarta seguimos viagem...