Imagine estar a alguns minutos de entrevistar Pelé , em Santos, e receber a seguinte mensagem pelo WhatsApp: "Vamos te colocar em um ônibus para o Peru. Ok?". Resposta e decisão tomada sem refletir sobre absolutamente nada do que viria na sequência: "Fechado".

Em um intervalo de apenas quatro dias, lá estava eu embarcado rumo a capital peruana no terminal rodoviário do Tietê.

A motivação da viagem veio da chefia da ESPN Brasil por causa da final da Copa Libertadores ; Com as passagens aéreas exageradamente caras, eles se perguntaram: "Como será o trajeto para os torcedores que vão de ônibus?". É o que vamos buscar contar aqui até a próxima quinta-feira.

Conhecendo o percurso

Foram poucos dias para me informar e me preparar. Descobri que só existe uma companhia que, partindo de São Paulo, chega até a Lima. Ela tem mais de 50 anos de existência, mas são apenas nove anos presente no Brasil. O preço da viagem é salgado: R$ 990, somente ida e no assento mais confortável.

O percurso também é ousado. O ônibus sai do Rio de Janeiro, passa por São Paulo e depois por Cuiabá, Rio Branco e Assis Brasil, citando as paradas principais. Ao cruzar a fronteira em Iñapari, são duas grandes paradas no Peru (Puerto Maldonado e Cusco) até o destino final.

São mais de quatro dias inteiros na estrada, mais de cem horas dentro de um ônibus, administrando recursos e rotina. Isso significa refeições, banhos e uso do banheiro restritos às paradas. Nem todos os assentos são leitos. O desgaste é real e já é logo avisado na compra das passagens.

Devagar no Brasil

Os ônibus saem todas as quintas-feiras, aliás, há somente uma viagem por semana. A final da Libertadores fez a companhia Ormeño transferir a ida da última quinta para este sábado, 16 de novembro, justamente para atrair mais passageiros.

O responsável pela empresa no Brasil, Oscar Vasquez-Solis, 56, vistoria tudo. Ele me disse que os passageiros geralmente são peruanos que estão regressando para casa ou visitando parentes. Nem sempre as viagens lotam. Durante o caminho, aí sim costumam preencher todas os lugares.

Dessa vez, ao lado dos peruanos com saudade da pátria, juntaram-se torcedores do Flamengo . Oito vieram do Rio. Mais cinco ingressaram em São Paulo. Alguns tímidos. Outros cantando e tirando sarro dos "paulixtas". Havia mais quatro jornalistas dentro do "busão".

Os homens do volante

O começo da viagem foi também uma descoberta. Os motoristas, apenas dois, William Guerra e Victor Quintana, se revezam a cada cinco horas. Para um dirigir, o outro tem de dormir. A cama é única. Eles dividem o mesmo lençol, a mesma coberta e o mesmo travesseiro. Um lugar apertado e abafado.

Eles já estão nessa há alguns anos, mas ainda se confundem com o trânsito brasileiro. Em São Paulo, logo na saída da cidade, um deles errou o acesso para a Rodovia Castello Branco. Os passageiros acabaram "presenteados" com uma volta pela Marginal Pinheiros, e meia hora a mais de estrada....

Sem banho

O primeiro dia de viagem teve como roteiro a passagem por Rio e São Paulo, com pausa em algumas cidades, como Roseira, e outras pequenas, como Pardinho, escolhida para ser a última pausa deste sábado. Local para usar o banheiro, jantar e... bom, e só!

Logo que o ônibus parou no restaurante à beira da estrada, um funcionário do local informou que não havia banheiros próprios para banho. Foi possível ouvir o lamento da maioria. Três passageiros não quiseram saber. Acabaram conseguindo tomar uma ducha em um local utilizado pelos caminhoneiros.

O restante jantou e se preparou para voltar ao ônibus um tanto quanto irritado e dormir...