Leila Pereira propõe liga sem Flamengo: impacto econômico alarmante no futebol

A batalha judicial entre o Flamengo e a Libra tem gerado reações fervorosas nos bastidores do futebol brasileiro, culminando em uma proposta ousada da presidente do Palmeiras, Leila Pereira, que sugere a criação de uma nova liga sem a presença do clube mais popular do país. Essa declaração veio à tona após a Justiça determinar o bloqueio de R$ 77 milhões que seriam distribuídos entre os clubes da Libra, uma medida que atendeu ao pedido do Flamengo, que contesta os critérios de divisão de receitas e alega prejuízos no modelo atual.

“Minha sugestão seria criarmos outra liga excluindo o Flamengo. Acho que o Flamengo tem que jogar sozinho”, disparou Leila em entrevista à TV Record.

A presidente ainda ironizou: “Só se ele quiser jogar contra o sub-20 dele. Eu quero ver a audiência que ele vai ter.” Contudo, a ideia de uma liga sem o Flamengo é, na prática, inviável. Os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro já estão garantidos com a Globo até 2029, em contratos que incluem o Mais Querido. A rescisão desse acordo seria prejudicial para todos os clubes envolvidos, inclusive para o Palmeiras, e evidencia que o discurso de Leila pode ser mais uma bravata do que uma proposta realista.

O Impacto Econômico da Ausência do Flamengo

A reflexão sobre como seria um campeonato sem o Flamengo revela um cenário alarmante. O clube carioca foi o único a ultrapassar R$ 1,3 bilhão em receitas na última temporada, sendo R$ 1,210 bilhão provenientes de receitas recorrentes, sem contar as transferências de atletas. Esse montante é quase equivalente ao total arrecadado pelo Palmeiras (R$ 1,2 bilhão) e supera o de todos os outros clubes. Essa grandeza transforma o Rubro-Negro em um estabilizador do sistema, essencial para a saúde financeira do futebol brasileiro.

Para emissoras e patrocinadores, a presença do Flamengo é sinônimo de audiência garantida. O clube possui um número elevado e constante de espectadores, o que proporciona previsibilidade, independentemente do desempenho em campo. Sem a base rubro-negra, a Globo enfrentaria dificuldades para justificar os investimentos anuais de R$ 1,17 bilhão em direitos de TV, como é o caso da Libra. Portanto, uma liga sem o Flamengo significaria a retirada da maior marca, da maior audiência e do principal gerador de receita da competição.

A Dependência do Flamengo nas Receitas de TV

O modelo da Libra prevê a divisão dos direitos de transmissão com 40% igualitário, 30% por performance e 30% por audiência. É exatamente essa última fatia, que representa cerca de R$ 390 milhões por ano no contrato atual, que depende essencialmente do Flamengo. A dependência do mercado em relação ao clube é ainda mais evidente nos números do pay-per-view. Em 2022, o Flamengo foi responsável por 21,5% de todas as vendas do Premiere, o que significa que, de cada cinco assinantes, mais de um se declarava torcedor do Mengão ao adquirir o pacote.

Um cenário em que o Rubro-Negro não participa do Campeonato Brasileiro poderia resultar em uma queda brusca na base de assinantes. Sem a audiência do Flamengo, o pagamento de direitos de TV aos clubes de uma nova liga naturalmente diminuiria. Além disso, a ausência do clube mais popular do país afetaria a própria estrutura da liga, uma vez que a oferta de partidas dos clubes com as maiores torcidas é a principal força de negociação. A saída do Corinthians da Libra, por exemplo, reduziu o valor pago ao bloco em cerca de 10%, de R$ 1,3 bilhão para R$ 1,17 bilhão por ano.

O 'Prêmio Flamengo' nas Bilheteiras

Nos estádios, a presença do Flamengo também gera recordes de público e arrecadação para os rivais. Um levantamento exclusivo mostra que a simples presença do clube como visitante altera toda a lógica de arrecadação. O Ceará, por exemplo, teve uma média de público pagante de 33.856 torcedores na Série A, mas contra o Flamengo, esse número saltou para 57.752 no Castelão, com a arrecadação subindo de R$ 816 mil para R$ 2,7 milhões em uma única noite. O Cruzeiro também ilustra bem esse impacto, com uma média de público de 39.508 pagantes, mas recebendo 52.792 pessoas em um jogo contra o Flamengo.

Esse padrão se repete em praticamente todos os mandos de campo: mais torcedores no estádio, ingressos mais caros e arrecadações recordes. O Bragantino, por exemplo, viu seu ticket médio aumentar de R$ 29,81 para R$ 38,03 ao receber o Rubro-Negro, elevando a receita de R$ 518 mil para R$ 1,1 milhão. Assim, não é apenas a Nação Rubro-Negra que enche os estádios fora do Rio; os clubes rivais se preparam financeiramente para explorar o efeito Flamengo.

O Efeito Dominó de uma Liga Sem o Flamengo

As perdas de uma liga sem o Flamengo vão além das bilheteiras e da audiência. O Campeonato Brasileiro perderia sua marca mais valiosa. Segundo a Brand Finance, o Flamengo é avaliado em US$ 121,2 milhões (R$ 646 milhões), sendo o clube mais valioso do Brasil e o único a figurar no top-50 mundial. Essa força atrai patrocinadores que enxergam valor em investir no Brasileirão, pois há a certeza de expor suas marcas em jogos do Flamengo, que sempre atraem os maiores públicos e audiências.

Sem o Rubro-Negro, o retorno sobre o investimento dos patrocinadores provavelmente sofreria uma queda, afetando diretamente a visibilidade do campeonato, tanto no Brasil quanto no exterior. Essa situação cria um efeito cascata para os clubes, pois patrocinadores que investem em camisas de menor expressão buscam não apenas atingir a torcida local, mas também garantir visibilidade em jogos de destaque, especialmente aqueles contra o Flamengo.

A Queda do Impacto Digital

Além disso, uma liga sem o Flamengo enfrentaria desafios no mundo digital. O Rubro-Negro se destaca nesse cenário, com mais de 64 milhões de seguidores nas principais redes sociais, um número muito superior ao do segundo colocado, o Corinthians, que possui 41,7 milhões. Essa diferença evidencia a enorme vantagem de presença digital do Flamengo. A saída do clube geraria um vácuo online, reduzindo consideravelmente o engajamento e a relevância do campeonato como produto.

Conclusão: Bravata ou Alerta?

A fala de Leila Pereira, embora polêmica, não possui base prática e soa como bravata em meio à disputa judicial. No entanto, o exercício de imaginar uma liga sem o Flamengo revela uma dependência estrutural do futebol brasileiro em relação ao clube. O Rubro-Negro é a maior marca, a maior audiência e a maior bilheteira do país. Sem ele, não haveria como sustentar o mesmo valor de cotas, contratos de patrocínio ou receitas dos rivais. Uma liga sem o Flamengo não existe, mas pensar nesse cenário evidencia que, com ele, há todo um ecossistema que depende direta ou indiretamente do seu peso.

Fonte: Redação Netfla