Com passagem pela Premier League , Jorge Silas foi um meia que chegou a ser convocado para a seleção portuguesa e foi treinado ao longo da carreira por nomes consagrados como José Mourinho, Jorge Jesus e Luiz Felipe Scolari. O trio foi fundamental para que o português seguisse na profissão de treinador, que ele exerce desde 2017.
Natural de Lisboa, Jorge Manuel Rebelo Fernandes começou nas categorias de base do Sporting e era grande fã do brasileiro Paulo Silas (ex- São Paulo ), que fazia sucesso no time principal dos "Leões".
“Ele era um craque e queria ser como ele. Quando ia jogar com os amigos eu dizia que era o Silas e o apelido pegou”, disse ao ESPN.com.br .
Após ser dispensado do time alviverde, foi para o Atlético CP, no qual profissionalizou-se. O meia jogou na Espanha por Ceuta e Elche antes de ir para o União Leiria, em 2001. Na equipe portuguesa, foi comandado pelo jovem José Mourinho – em seu segundo trabalho como treinador – por seis meses.
“Já dava para ver que era diferente de tudo o que tinha visto. Relação humana com o jogador e a parte tática dele são muito fortes. Ele o Jesus são muito similares. Nunca tinha jogado na primeira divisão de Portugal e o Mourinho me conhecia da Espanha porque era auxiliar no Barcelona", afirmou.
“Uma vez no treino eu driblei três vezes e perdi a bola. O Mourinho me disse: ‘Silas, você foi desarmado três vezes e está perdendo confiança. Faça assim: drible a primeira vez. Se for bem, continue. Se for mal, nas jogadas seguintes faça o simples. Vai começar a ganhar confiança e depois pode tentar driblar outra vez’. Foi um aprendizado que levei para o resto da carreira”.
Com o destaque no Leiria, ele foi convocado por Felipão para disputar alguns amistosos pela seleção portuguesa. Em 2003, transferiu-se para o Wolverhampton disputar a Premier League ao lado de nomes famosos como Dennis Irwin (ex- Manchester United ) e Paul Ince (ex-United e Liverpool ).
“Cheguei a fazer alguns amistosos com o Paul Gascoigne, que estava fazendo uma experiência por lá. Jogar na Inglaterra é uma experiência que acho todo os jogadores deveriam passar pela forma como eles encaram o futebol. Os torcedores entendem a derrota, mas você precisa dar o máximo”.
Apesar disso, ele não era muito fã da correria dos jogos. “O futebol era muito direto e eu não gostava porque gostava de bola no pé. Precisei me adaptar a isso”.
Após uma temporada na Inglaterra, ele voltou para Portugal e defendeu o Maritimo antes de ir para o Belenenses , no qual trabalhou por duas temporadas com Jorge Jesus.
“Lembro que quando Jesus chegou, eu liguei para o Renato - um amigo meu que tinha sido treinado por ele - para pedir informações. Ele respondeu: ‘O nível tático é tão bom ou melhor que o Mourinho. Eu disse: ‘Tu és maluco, não acredito’. Verdade é que na primeira semana lembrei do que ele tinha me dito. Realmente, o Mister tinha me dito coisas que nunca tinha ouvido antes. Nunca tinha visto um treinador que me corrigisse tanto”.
Jesus colocava estacas no campo para mostrar o posicionamento que gostaria que o time fizesse em campo e dava um número para cada jogador, que representava as funções.
“Quando trabalhei com ele passei a ver que gostaria de ser treinador quando parasse de jogar. Ele inspirou a mim e a muitos outros como o Abel Ferreira. Eu era um jogador muito técnico, mas via o jogo de forma muita individual. Passei a desfrutar o futebol a nível coletivo também”.
De tanto treinar com Jesus, Silas conta que depois de um tempo já sabia o que o Mister iria dizer em alguma situação. “Às vezes antes mesmo de ele falar eu já levantava o braço: ‘Mister, eu já percebi’ (risos). Tínhamos um grande entendimento porque era o capitão da equipe e conversávamos muito”.
“Jogador com ele precisava saber que as broncas não eram contra a pessoa, era para ajudar. Alguns jogadores achavam que era algo pessoal ou estava implicando, mas não era assim. Quando você percebe o que ele fala, será melhor. Alguns não conseguem suportar porque a pressão é grande e ele exige concentração máxima em todos os momentos do treino. A maneira como ele fala é direta”.
Mas nem todos os jogadores entendiam as broncas de Jesus da mesma forma.
“Lembro do Roma [ex-atacante do Flamengo], que era craque, mas não conseguiu. Quando ele chegou o achamos muito bom. Ele bloqueou de uma maneira que a verdade é que passados três meses parecia que não era o mesmo. Ele era muito bom individualmente e faltava a parte coletiva. Ele achava que era pessoal e não conseguia ultrapassar isso pelas broncas. Os mais fortes a nível psicológico evoluem muito com ele”.
“O que mais gosto dele - e que adotei também na minha carreira - é o fato de ser um dos treinadores com quem mais falei sobre futebol. Alguma vez ele falava para eu fazer algo e eu falava para fazer outra. Se conseguisse provar que a minha ideia era melhor, ele acatava. Não era nenhum ditador. Muitas vezes ele chegava no dia seguinte e disse que tinha pensado no que eu tinha dito e experimentava. E não era menos treinador, ao contrário”.
É a justiça a uma carreira de um ENORME TREINADOR 👏🙌👏🙌parabéns MISTER...todos estes momentos são mais do que merecidos 🏆🥇👏🙌 pic.twitter.com/FGh2Tv1gOm
— Jorge Silas (@J_silas10) November 23, 2019
“É importante saber ouvir o jogador e haver esse diálogo, mas quem manda é o treinador”.
Silas ainda jogou por Leiria e mais três times do Chipre (Ethnikos Achnas, AEP e AEL Limassol) antes de ir para o NorthEast United (Índia). O meia ainda jogou mais duas temporadas pelo Cova da Piedade (Portugal), antes de pendurar as chuteiras aos 40 anos, em 2017. Depois, treinou Belenenses e Sporting.