Imigração no futebol: goleiros brasileiros invadem Portugal e dominam a posição na elite

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Nesta quarta-feira, o Campeonato Português encerra a 19ª rodada da competição, a primeira do segundo turno, com dois jogos: Rio Ave x Estoril, às 15h45 (de Brasília), e Braga x Chaves, às 17h45 (de Brasília). Confrontos que são bons exemplos do domínio brasileiro na posição de goleiro em Portugal, que vem se consolidando nas últimas temporadas.

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Os quatro times iniciarão os jogos com goleiros brasileiros: Jhonatan no Rio Ave, Marcelo Carné no Estoril, Matheus no Braga e Hugo Souza no Chaves. Atualmente, na liga, são oito titulares em 18 times, sendo que Vinícius Silvestre era o dono da posição no Portimonense até recentemente perder a vaga para o japonês Nakamura. No total, 26 brasileiros estão nos elencos dos clubes portugueses na primeira divisão do país ( veja a lista no fim da reportagem ).

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Em 338 escalações do Campeonato Português até aqui, os goleiros brasileiros estiveram em 156, sendo 155 como titulares, pouco menos da metade do total. Nessa lista, o de mais destaque é Matheus, de 31 anos, do Braga, que também atua na Liga dos Campeões e está no clube desde 2014 depois de ser revelado pelo América-MG.

Hugo Souza, de 24 anos, talvez seja o mais conhecido no Brasil por ter sido titular do Flamengo na conquista do Brasileiro de 2020. Ele viveu bom momento no clube, mas perdeu espaço e acabou negociado por empréstimo no meio do ano passado ao Chaves. Seu contrato com o Flamengo vai até o fim de 2025.

- É um choque bastante grande. Sair de uma equipe com status e torcida grande, que é muito bom, mas eu precisava jogar. Abriram as portas para mim. É uma equipe a que tenho me adaptado cada vez melhor - disse Hugo, que evita pensar no futuro.

- Quero trabalhar e dar meu melhor até o fim da temporada, ajudar a manter o Chaves na primeira divisão. O futuro está nas mãos de Deus. Se voltar ao Flamengo, volto mais pronto, preparado e maduro. Se tiver a oportunidade de me manter na Europa, vou ficar muito feliz, pois seria um sonho também.

Outros nomes menos conhecidos nacionalmente conseguiram conquistar seu espaço e construíram uma carreira em Portugal. Ex-Bragantino e Mirassol, Kewin é hoje titular do Moreirense, sexto lugar, uma das surpresas da competição. O clube fica em uma pequena vila, com quatro mil habitantes e estádio para cinco mil pessoas.

- Historicamente, Portugal já pega muitos brasileiros. Acho que eles conseguiram entender como funciona o futebol do Brasil e fazem um garimpo nos estaduais. O meu caso foi assim. Na época, o Mirassol estava sem série. Depois do Paulista, recebi essa proposta. No Estadual, existe talento por um preço mais acessível - comentou Kewin, que precisou enfrentar o obstáculo da pandemia na mudança de país, deixando a esposa grávida no Brasil.

- Ela só conseguiu a liberação faltando 20 dias para o parto. Deu tudo certo, e minha filha nasceu aqui - comentou.

Jhonatan, de 32 anos, do Rio Ave, compartilha uma história parecida com a de Kewin. Natural de São Miguel do Oeste, uma pequena cidade de Santa Catarina, ele fez carreira nas categorias de base do Joinville até aparecer a oportunidade de mudar para Portugal em 2017. Ele passou por Moreirense e Vitória de Guimarães antes de assinar com o seu clube atual.

- Acho que a gente tem uma boa escola de goleiros. No mundo todo, somos muito bem falados. O Ederson foi eleito melhor goleiro, o Alisson também já foi. É uma escola totalmente diferente da europeia e muitos clubes aqui em Portugal são uma entrada para a Europa - explicou Jhonatan.

Goleiro do Estoril, Marcelo Carné, de 33 anos, é um dos poucos da lista com experiência como titular em Série A. Ele foi revelado pelo Flamengo e teve seu melhor momento no Juventude, entre 2018 e 2021, quando as primeiras oportunidades apareceram. Foi para o CSA e só então embarcou para Portugal.

- A gente não convive tanto com jogadores da base em Portugal. Mas tem a questão financeira também. Quando um português se destaca, ele é requisitado por outras ligas com maior poder financeiro. Tem o José Sá no Wolverhampton, o Rui Patrício na Itália. A tendência é essa. O goleiro do Porto não deve demorar para sair. Eles têm a facilidade do passaporte europeu - disse Carné.

Preparador de goleiros do Moreirense, Pedro Taborda fez carreira como goleiro em clubes menores de Portugal, teve uma passagem pelo Porto e encerrou no próprio Moreirense. Ele trabalhou com Kewin e Jhonatan e fez uma análise sobre o motivo de tantos brasileiros serem requisitados para a posição em Portugal.

- Os goleiros brasileiros são muito evoluídos tecnicamente. Conjugando um pouco o futebol sul-americano com o europeu, estão mais à frente em técnica. Em Portugal, direcionamos mais o contexto do jogo, e isso faz com que aproveitemos os brasileiros que chegam aqui mais formados no aspecto técnico. Já ganhamos alguma vantagem, facilita meu trabalho - explicou.

Taborda considera a facilidade de comunicação um fator importante, além de considerar o brasileiro de fácil adaptação. De olho no mercado do Brasil aberto para profissionais de Portugal, ele também espera um dia ter a oportunidade de trabalhar em um clube brasileiro.

- Seria a oportunidade de levar um pouco do trabalho do goleiro da Europa para o Brasil, situações novas, apresentar o trabalho fora do nosso país, fora do nosso habitat natural. Isso nos valoriza mais, nos dá mais confiança para transmitir aquilo que é nossa leitura de jogo - comentou Taborda.

Veja a lista dos goleiros brasileiros nos elencos da primeira divisão de Portugal