Que o Fla-Flu é o clássico destinado aos grandes personagens, todos já sabem. A dúvida era qual deles iria decidir. O Maracanã foi palco de dois heróis “caídos” que saíram do banco em busca da redenção. Do lado tricolor, estava John Kennedy, xodó da torcida que passou período emprestado e voltou para recuperar seu espaço justamente contra o alvo favorito. Mas brilhou mais a estrela de Pedro. Em má fase, desprestigiado pela direção e brigado com o técnico, ele retornou depois de dois jogos barrado para mostrar seu valor e decidir o duelo pelo Brasileiro em 1 a 0.
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Foi um gol sofrido, à altura do drama vivido por Pedro nas últimas semanas. Ele precisou se esticar todo para empurrar, com a ponta do pé, a bola desviada por Léo Ortiz após cobrança de escanteio. Na comemoração, tirou a camisa e exibiu uma por baixo com a mensagem: “Jesus é o suficiente”.
Além da fé, as pazes com a arquibancada. O atacante, que entrou aos 26 do segundo tempo sob um misto de vaias e aplausos, estendeu sua camisa sobre o escudo do Fla esticado na grama e o beijou. Um momento de delírio para a torcida, que reverenciou o herói renegado.
— Toda vez que visto essa camisa é uma alegria imensa. Eu me sinto em casa, como um torcedor, como um jogador. Eu sempre dei minha vida pelo Flamengo. E a cada oportunidade que eu tenho de entrar em campo, entro com muito amor, com muita garra. E dessa mesma maneira que eu reconheço que tive uma semana abaixo (em rendimento), eu espero que quem me feriu, esse membro da diretoria, também reconheça o erro — desabafou Pedro no fim.
O atacante se referia ao print vazado em que um membro da diretoria afirma a um jornalista que o negociaria por 15 milhões de euros. Na mesma conversa, o dirigente trata o centroavante como um empecilho para o clube contratar um reforço para a posição.
A resposta de Pedro foi manter o Flamengo na briga pelo título. O rubro-negro chegou aos 30 pontos e manteve-se três atrás do líder Cruzeiro. Na quarta, visita o Bragantino, terceiro colocado.
Já o Fluminense sofreu sua segunda derrota seguida desde que voltou do Mundial. O tricolor perdeu uma posição e agora é o oitavo, com 20 pontos. Na quarta, recebe o Palmeiras, no Maracanã, para tentar reagir.
Estas histórias individuais valorizaram o Fla-Flu muito mais do que o duelo entre as duas equipes. Num jogo que já começou marcado pelas muitas novidades nas escalações, o destaque ficou por conta do retorno do esquema tricolor com três zagueiros, considerado um dos trunfos do time no Mundial. Renato Gaúcho apostou na linha de cinco defensiva para segurar a força ofensiva rubro-negra. E deu certo mais uma vez.
O Flamengo praticamente não entrou na grande área do rival no primeiro tempo. Até mesmo as idas à linha de fundo para cruzar foram raras. Os avanços pelos lados pararam na marcação dupla ou até tripla. Wallace Yan, escalado em cima da hora no lugar de Plata, que sentiu a coxa direita no aquecimento, era o único que atacava o espaço. Mas ou era facilmente desarmado ou a bola era interceptada antes de chegar até ele.
O ferrolho tricolor na frente da área demandava que o Flamengo aumentasse a intensidade, trocasse passes com uma velocidade maior e reduzisse sua margem de erro. Só que o time de Filipe Luís não conseguiu fazer nada disso no primeiro tempo.
Se o Fluminense foi muito eficiente do ponto de vista defensivo, o mesmo não se pode dizer quando era ele quem atacava. Nos primeiros minutos de jogo, até conseguiu, seja a partir de desarmes na saída do adversário ou em bolas enfiadas na frente, criar algumas chances. Mas todas sem muito perigo. E, com o passar do jogo, o Flamengo encontrou o encaixe certo para não dar tantos espaços para contragolpes.
A partir daí, sofreu o torcedor. Do lado rubro-negro, um time que circulava a área sem ameaçar. Do lado tricolor, uma equipe sólida defensivamente, mas nula no ataque. Os dois foram para o intervalo com apenas uma finalização na direção do gol (do Fluminense, um chute fraco de Bernal defendido por Rossi).
A emoção ficou reservada para a volta do intervalo. O Flamengo conseguiu enfim levar perigo com lançamentos para a área. Num desses, Fábio precisou fazer grande defesa em cabeçada de Ortiz. Ali já era o sinal de que o caminho para o rubro-negro estava na bola aérea, um ponto de atenção para o time de Renato Gaúcho.
Os dois treinadores tentaram ganhar a partida apostando em mudanças. E, claro, lançaram mão de seus grandes personagens. Mas John Kennedy teve poucas chances. Com o Fluminense criando pouco, o camisa 99 pouco pôde fazer.
Já Pedro sabia que era sua noite. Com a presença dele e de Juninho no ataque, o Flamengo aumentou sua ofensividade e conseguiu destravar a marcação tricolor. Foi uma jogada da dupla que origem ao escanteio, aos 31. Na bola levantada na área, o camisa 9 aproveitou a desatenção de Renê para aparecer na segunda trave. Foi o suficiente.