Para descrever Juninho , primeiro reforço do Flamengo para a temporada de 2025 e que será apresentado nesta terça-feira (21), às 15h (de Brasília), seus ex-companheiros no Qarabag , do Azerbaijão, não têm qualquer dúvida de sua principal característica: velocidade.

Em conversa com a ESPN , Júlio Romão detalhou as qualidades mais marcantes do novo atacante rubro-negro.

“A principal característica dele é a velocidade nas costas do adversário. E, também, a recuperação de bola, que ele fez muito com a gente aqui, recuperar a bola e atacar. A finalização também, com a direita e com a esquerda, é muito boa. O maior potencial dele, a maior arma dele, é a velocidade”, disse o meio-campista brasileiro que está no clube euroasiático desde 2022.

Com início de carreira no Brasil e com passagens por Athletico-PR, Brasil de Pelotas-RS, Novorizontino-SP, Figueirense-SC e Vila Nova-GO, Juninho atuou nos últimos cinco anos na Europa, onde defendeu Estoril e Chaves, ambos de Portugal, e se destacou no Qarabag, no qual chegou no início da temporada de 2023/2024.

Pela equipe azeri, anotou 42 gols em 80 partidas . Desconhecido do grande público no Brasil, o jogador de 28 anos e que usará a camisa 23 no time carioca, ganhou destaque da mídia na temporada passada, quando fez dois gols nos dois jogos das oitavas de final da Europa League contra o Bayer Leverkusen -ALE, finalista da competição e campeão da Bundesliga .

Richard Almeida, brasileiro naturalizado azerbaijano e que jogou a última Eurocopa pela seleção do país, usa a partida de ida deste confronto para detalhar a capacidade do atacante em roubar a bola da defesa e finalizar.

“Um atacante móvel, ele deixa o zagueiro pensar que ele não vai chegar e, quando o zagueiro vê, ele já está em cima roubando a bola. Pode ver o gol que fizemos contra o Bayer Leverkusen, em que ele rouba a bola e dá uma assistência. [No segundo gol], o Patrick Andrade dá o passe, ele carrega e faz um golaço”, relembrou e detalhou o volante.

No novo clube, Juninho vai encontrar um dos artilheiros do Brasil na temporada passada. Pedro , mesmo com uma lesão grave, anotou 30 gols em 43 jogos . Questionado pela reportagem se os dois podem jogar juntos, Richard Almeida opinou de forma positiva.

“O Pedro fica mais dentro da área, o Juninho é mais móvel, aquele cara que cai pelas beiradas. É um cara que abre espaços no meio de campo para entrar nas costas do defensor. Acho que ele e o Pedro podem jogar perfeitamente juntos. O Juninho pode jogar tanto aberto quanto por dentro. Acho que o Pedro é um goleador nato, e o Juninho é aquele jogador mais móvel. Acho que eles podem se completar.”

Porém, mesmo não tendo como característica principal ser fixo na área, Richard deixou claro que o atacante e agora ex-colega de clube não é daqueles atacantes que vão buscar a bola no meio-campo para construir a jogada.

“Juninho não gosta de vir buscar a bola, ele fica sempre nos espaços, nas entrelinhas... O entrelinhas dele é muito bom, onde ele pode controlar a bola já girando, fazendo um-dois”, detalhou.

Antes de acertar a ida para o Flamengo, o jogador esteve próximo do Sevilla -ESP, mas escolheu voltar ao Brasil e vestir a camisa rubro-negra. Richard estava próximo de Juninho neste momento de decisão e conta que o jogador seguiu o coração.

“Realmente veio o Sevilla atrás dele, estava tudo certo pra ir pro Sevilla, mas o dia que ele estava aqui, ele falou ‘pô, o Flamengo entrou na jogada, não sei o que eu faço’. Eu disse ‘só agradece a Deus, levanta a mão pro alto e chegando na sua casa Deus vai mostrar o melhor caminho’. Ele tomou uma decisão que estava no coração dele, ele criou essa oportunidade, é muito persistente naquilo que quer.”

Famoso no Azerbaijão

Em um país de 10 milhões de habitantes, Juninho e os jogadores do Qarabag são verdadeiras estrelas no Azerbaijão. Nos últimos 11 anos, a equipe venceu a liga local dez vezes e é a atual tricampeã. A saída do atleta foi muito sentida pelos torcedores e pelos companheiros de clube.

Uma das figuras mais próximas dos atletas brasileiros é quem contou à ESPN sobre isso: Elvar Quliyev, funcionário da agremiação há oito anos, nascido no Azerbaijão e fluente em português, trabalha traduzindo no clube o azeri (língua oficial do país) e o russo, muito falado no país como herança da época em que o Azerbaijão fazia parte da antiga União Soviética.

“Você não tem noção, único time que está jogando competição europeia. Todo o país, todo mundo está triste. Quando a gente saía, todo mundo parava ele. É muito famoso, todo mundo conhece o Juninho, foi um grande sucesso e, como falei, a maioria está muito triste”, relatou.

Segundo pesquisa da AtlasIntel, o Flamengo tem aproximadamente 47 milhões de torcedores, o que equivale a mais de quatro vezes a população do Azerbaijão. Mesmo sendo muito famosos no país, Júlio Romão explica que a pressão no futebol azeri é diferente da do futebol brasileiro.

“Aqui é totalmente ao contrário do Brasil. No Brasil, a gente tem muita pressão do torcedor, mas aqui a gente tem muita pressão do treinador [Gurban Gurbanov é o comandante do Qarabag), ele cobra muito. O treinador não deixa jornalista nem que torcedores cheguem perto da gente. Aqui é bem mais tranquilo, quando perdemos a gente pode ter nossa vida normal. Se quiser sair na rua, ninguém vai mexer com a família, ninguém vai falar nada do jogo. É mais a pressão do treinador, diária, que ele cobra bastante.”

Juninho vai aguentar a pressão?

Mas quando perguntados se Juninho vai aguentar a nova realidade do futebol brasileiro, os três entrevistados pela reportagem acreditam que o atacante está preparado para o desafio no Flamengo.

“A gente falou sobre isso com ele. Ele falou que está preparado, se não, ficaria aqui. É uma pessoa muito ambiciosa, ele quer muito um desafio, ele está preparado. Ele quer jogar em grandes times, ele está preparado para essa pressão”, disse o tradutor da equipe.

“O Juninho vai mostrar o porquê de ter sido contratado pelo Flamengo, o porquê do Filipe Luís e do diretor esportivo do Flamengo (José Boto) quererem ele. Acredito que ele vai sobressair em todos os aspectos e surpreender muita gente no Brasil”, afirmou Richard Almeida.

“Normal ter muita pressão, acredito que ele está muito motivado para estrear e provar que ele tem potencial para estar no Flamengo, pode esperar o melhor dele”, complementou Júlio Romão.

Juninho dá esperança

A ida de Juninho ao Flamengo abre uma esperança aos brasileiros que atuam em campeonatos alternativos ao redor do mundo. Richard Almeida, de 35 anos de idade e há 13 anos fora do Brasil, cita a fala do diretor de futebol do Flamengo, José Boto, em entrevista e acredita que se o jogador encaixa com o treinador, merece uma oportunidade.

“O sonho de todo mundo é voltar ao Brasil. Muita gente quando me encontra no Brasil não me conhece, mas agora vão conhecer o Qarabag, porque o Juninho está aí. Muita gente menospreza o Azerbaijão, nossa liga…”, começou Richard Almeida.

“Vi a entrevista do Boto, dele falando que não importa de onde veio o jogador, do Azerbaijão, do Cazaquistão, se o jogador se encaixar no perfil do treinador, taticamente, acha que é válido fazer a contratação”, finalizou o brasileiro.

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