Flamengo é o grande que mais teve técnicos nos últimos 21 anos; clube não mantém um treinador durante toda a temporada desde 2011

Parece que já virou rotina: em algum momento da temporada, o Flamengo vai ter seu treinador vivendo uma crise. Foi o que aconteceu com todos os oito técnicos que comandaram o rubro-negro desde a saída de Jorge Jesus em 2020, incluindo Tite, atual comandante. Torcedores protestaram no desembarque do time do Chile, na quarta, e ontem, na porta do CT do Ninho do Urubu, no último treino antes do confronto de hoje, contra o Corinthians, às 16h, no Maracanã. É com esse clima que a equipe tentará reencontrar o caminho da vitória — teve apenas uma nas últimas seis partidas —, do bom futebol, da confiança e, principalmente, da paz.

Tite tem, sim, sua parcela de culpa pelas críticas que vem sofrendo. Muito das atuações bem abaixo da expectativa e dos resultados ruins se dão por conta da intransigência do treinador em relação a um modelo de jogo que não tem dado certo desde fevereiro. No entanto, o padrão no cenário vivido também pelos antecessores do gaúcho de 62 anos mostra que, mais do que algo pontual, o Flamengo tem um problema crônico que vem dos responsáveis por tomar decisões e comandar o planejamento do clube.

Sombra de Jesus

Desde 2003, quando o Campeonato Brasileiro passou a ser de pontos corridos, apenas quatro treinadores permaneceram no Flamengo 12 meses ou mais. O número é o segundo menor entre os 12 clubes grandes do país, na frente só do Atlético-MG. Dentro desses recortes, o rubro-negro é também quem mais teve técnicos: 36. Além disso, a última vez que um treinador esteve à frente do time durante uma temporada inteira foi em 2011, com Wanderley Luxemburgo. Nesse caso, só o Vasco está há mais tempo sem conseguir o feito.

Desde 2019, quando venceu o Brasileirão e a Libertadores com Jorge Jesus, a diretoria do Flamengo passa a impressão de que não entendeu, até agora, como conseguiu conquistar tais títulos. Não há, desde então, clareza nas diretrizes que a cúpula de futebol do clube pretende instaurar no DNA da equipe e no modelo de jogo.

Escolhas incoerentes

Após a saída de Jesus, não houve praticamente nenhuma indicação por parte da direção rubro-negra de que se buscaria um treinador que tivesse um estilo de jogo semelhante àquele que havia dado tão certo, ou que pelo menos dialogasse com as características de jogo do elenco.

— Se há uma coisa que não existia entre esses treinadores é compatibilidade em forma de jogo, mas mais do que conceitos, acho que a grande mudança era de contexto. Por vezes, o contexto era muito ruim para cada escolha. Acho que a falta de critério estava no contexto em que cada treinador chegava — analisa Carlos Eduardo Mansur, comentarista do SporTV e colunista do GLOBO.

A saída de Dorival Júnior pode ter sido o maior erro esportivo da atual gestão de Rodolfo Landim. Mesmo campeão da Copa do Brasil e da Libertadores com a melhor campanha da história da competição, criou-se a ideia de que o desempenho estava abaixo do esperado e que Dorival não havia disputado o Brasileiro com a prioridade que deveria.

Tite, já em 2024, ciente desse histórico, afirmou que seria “humanamente impossível” brigar 100% pelas três frentes. Ainda assim, com discursos científicos embasados pela diretoria, satisfeita com a prioridade dada ao Campeonato Carioca, como lhe fora pedido, o treinador começou a derrapar no início das principais competições do ano. Resta saber se ele conseguirá reverter o cenário, ou se o futuro do Flamengo repetirá o passado mais uma vez.

O Flamengo pode ter o retorno de Arrascaeta hoje. O uruguaio será avaliado momentos antes da partida. Por outro lado, Bruno Henrique, com entorse no pé esquerdo, está fora. O Corinthians deve ter o retorno do meia Garro.

Uma vitória faz o Flamengo dormir na liderança do Brasileiro e pode aliviar um pouco o clima, mas na quarta-feira Tite e seus comandados terão uma partida de vida ou morte na Libertadores, diante do Bolívar, no Maracanã. A pressão segue no ar.

Fonte: Extra