A recente decisão do Flamengo de acionar a Justiça para bloquear um repasse de R$ 77 milhões da Libra não é apenas um movimento estratégico, mas um reflexo de uma disputa interna que se intensifica nos bastidores da Gávea. O que começou como uma simples divergência sobre os critérios de divisão de receita de TV rapidamente se transformou em um embate que expõe as tensões entre a atual gestão e grupos ligados ao ex-presidente Rodolfo Landim.
A diretoria rubro-negra, sob a liderança de Luiz Eduardo Baptista (Bap), argumenta que o modelo atual de distribuição pode resultar em uma perda de receita de cerca de R$ 100 milhões em 2025, em comparação ao que o clube faturou em 2024. Para a gestão atual, a conduta da Libra é considerada "ilegal", e a via judicial se apresenta como a única alternativa após meses de debates infrutíferos.
Reação da Libra e seus membros
Por outro lado, a Libra, junto a clubes como Palmeiras, Atlético-MG e Grêmio, ficou surpresa com a manobra do Flamengo, interpretando-a como uma tentativa de "sufocar" os demais clubes para forçar uma mudança nos critérios de audiência. Em nota, a liga afirmou que o tema foi "exaustivamente debatido" e que defenderá na Justiça a legitimidade das decisões coletivas.
Tensões internas e a reunião decisiva
Enquanto a batalha externa se desenrola nos tribunais, a situação interna promete esquentar na próxima terça-feira (7), quando será realizada uma reunião convocada do Conselho Deliberativo. O objetivo oficial é "esclarecer dúvidas e alinhar os próximos passos", mas muitos veem o encontro como um palco para expor as fissuras políticas dentro do clube. Embora a maioria na Gávea reconheça que a diretoria agiu corretamente ao defender os interesses do Flamengo, a forma como o processo foi conduzido gera desconforto.
Integrantes de grupos que apoiaram Landim, e que ainda fazem parte da gestão atual, expressam incômodo com a maneira como o caso foi tratado. A principal crítica recai sobre a gestão anterior, que, segundo relatos, não apresentou o contrato da Libra em sua totalidade ao Conselho Deliberativo na época. A projeção inicial de perda era de R$ 80 milhões, mas agora já chega a R$ 100 milhões. Essa falha de comunicação impediu que os conselheiros compreendessem a real dimensão do que estava sendo votado.
Acusações e clima de caça às bruxas
Ao mesmo tempo, membros desses grupos acusam a cúpula atual, ligada a Bap, de "colocar a culpa de tudo na antiga gestão", criando um clima de caça às bruxas que se estende a outras pautas, como a renegociação para a construção do estádio no terreno do Gasômetro. Enquanto isso, o ex-presidente Rodolfo Landim, figura central no acordo original com a Libra, mantém um silêncio estratégico. Aliados afirmam que ele fará um pronunciamento online em breve para apresentar sua versão dos fatos.
Um futuro incerto para o Flamengo
O cenário é de incerteza. O Flamengo se vê obrigado a lutar em duas frentes: uma batalha judicial contra a Libra que pode travar até R$ 230 milhões até o fim do ano, e uma articulação política interna para apaziguar os ânimos e unificar o clube em torno de uma solução. A reunião da próxima semana será decisiva para o futuro dessa disputa, e todos os olhos estarão voltados para a Gávea, onde o Flamengo busca não apenas justiça, mas também a coesão necessária para seguir em frente.