A três semanas da eleição presidencial no Flamengo , o GLOBO inicia nesta segunda-feira a publicação de uma série de três entrevistas com os candidatos ao cargo. Ex-vice-presidente de Consulados e Embaixadas na gestão do atual mandatário, Rodolfo Landim , o advogado Maurício Gomes de Mattos defende medidas mais objetivas para a profissionalização do departamento de futebol, posiciona-se contra a transformação do clube em SAF e detalha seus planos para a construção do novo estádio. Na conversa, ele elogia o trabalho do técnico Filipe Luís e diz que quer discutir a renovação com Gabigol .
Na terça-feira, será a vez do candidato Luiz Eduardo Baptista, o Bap; e, na quarta-feira, de Rodrigo Dunshee, apoiado por Landim.
Como começou sua vida política no Flamengo?
Iniciei com Márcio Braga, em 2004. Naquele período, tivemos um problema financeiro grave, e eu entrei para ajudar no Jurídico. Me lembro de que iam ocorrer uma ação do INSS e uma da Fazenda. E o presidente da BR Distribuidora era o Landim, que também foi muito proativo nessa ocasião. Ele soube do problema através de um telefonema meu. E pressionou o presidente da Petrobras, que era botafoguense. A Petrobras depositou verbas que estavam atrasadas, e o Flamengo conseguiu pagar a folha dos seus funcionários. A partir daí, passei a atuar também juridicamente. Depois, percorri o Conselho Deliberativo e o de Administração. O Wallim Vasconcellos me convidou para ser o presidente do Deliberativo e o Eduardo Bandeira de Mello, ex-presidente, me convidou para ser vice-geral. Pesei os convites, agradeci os dois lados e decidi ficar com o Bandeira.
Depois, houve uma ruptura...
A ruptura com o Bandeira se deu porque ele escolheu um candidato (Ricardo Lomba) para sucedê-lo na presidência, em 2019, e não houve acordo em relação ao que eu pretendia para o Flamengo. Foi uma opção política, mas não houve ruptura de relação, tanto que hoje o Bandeira está na chapa. Isso muito me honra porque ele foi o presidente que deu a condição da estabilidade financeira ao Flamengo. E está na chapa como presidente da Assembleia Geral.
Quais são as diferenças entre a sua visão e a do Bap, também da oposição?
Bap diz que é a favor do profissionalismo, mas dá muita importância aos vice-presidentes. Eu tenho vários nomes, mas não dou importância a eles. E sim ao conteúdo do trabalho, que é o programa de governo. A partir do momento em que ele interfere, gera um sentimento de amadorismo, como a gente vê hoje. Você não vê isso nos maiores times do mundo. Nem nos que estão com resultado hoje no Brasil. O Flamengo sempre foi progressista, e agora você vê o clube em retrocesso. O ciclo se fechou. A gente tem que entender que, daqui para frente, quanto mais profissional a gente conseguir ser, melhor. Pretendo dar um norte profissional do marketing ao futebol, passando pelo futebol feminino, ao qual quero dar uma valorização maior, os esportes olímpicos, a parte médica... Nada disso pode ter interveniência de amadores.
Vale para escolha de técnico?
Você deve ter o plano de estratégia de jogo definido, com uma comissão técnica permanente. Não dá para o Flamengo sofrer. Jorge Jesus foi o acaso. Hoje, o acaso é o Filipe Luís, pedido por todos nós lá atrás e que veio agora como salvador da pátria e deu conta do recado.
Você quer reduzir as vice-presidências?
Vou reduzir. Não tenho um número, mas certamente vai ser mais enxuto. No primeiro ano, já vamos propor uma reforma estatutária. Isso vai ser debatido, e vamos chegar a um denominador comum, porque respeito os Conselhos e o estatuto.
Quer alterar algum artigo?
Do estatuto, não. Mas quero colocar os Conselhos Consultivo, Diretor e Gestor no estatuto. Porque fica um legado. Aliás, quero que fique claro que, diferentemente do Landim, não vou ser candidato à reeleição. Se acredito em metodologia, se tenho filosofia de trabalho, eu tenho que acreditar naquela visão que eu coloquei.
Landim deve ser CEO em caso de vitória do Dunshee. Quem será o seu, caso seja eleito?
Eu não quero concorrer (à reeleição) exatamente porque sou antagônico ao que ele fala. Para CEO, vou trazer a empresa mais gabaritada possível com headhunter, que vai escolher, sem indicação minha, um CEO do mercado. Não quero um mais ou menos. Quero o melhor. Todos vão poder indicar, menos eu.
Você não teme que a existência desse Conselho Consultivo possa levar a interferências no futebol, principalmente nas crises?
Não haverá interferência de amadores em cima dos profissionais. Isso é inegociável. Vou ter um diretor técnico e outro profissional para fazer a interface entre os Conselhos. O que eu, Bap ou Landim entendemos de futebol? Se eu falar, vou atrapalhar. Mas, se você tiver um ídolo, por exemplo, para conversar, passar o que está sendo feito... Então ele vai ser essa interface e também o porta-voz com a imprensa. Mas digo isso só para exemplificar, porque ainda não falei com ninguém.
Essa pessoa seria o chefe do departamento de futebol?
Não. O diretor técnico será o chefe. E esse profissional estaria dentro da equipe.
Esse diretor técnico, então, será um executivo de futebol?
Esse executivo vai comandar o futebol e fazer as contratações para a equipe dele. Vai nomear um diretor para a base, um para scout, um para saúde e performance... Isso é vital. A interveniência dos amadores bota em risco o departamento. Por que não colocamos a neurociência do esporte no Flamengo? Quero colocar psicólogo, psiquiatra... O atual vice-presidente (Rodrigo Dunshee) disse que não precisa, mas vamos implantar. Quero criar um sistema em que todas as ferramentas estarão em conjunto. O Flamengo tem que dar o melhor em qualquer esporte. Quero colocar 4 mil assentos no estádio da Gávea e fazer dois camarotes para os jogos do feminino e da base. Quero valorizar o feminino.
Como você pretende realizar as contratações de todos esses profissionais?
A contratação desse diretor técnico vai ser discutida no Conselho Diretor. Vamos escolher com base no plano de gestão para o futebol. Ver qual é o perfil dele, se tem o DNA do Flamengo, o estilo de jogo... Vamos ter dois ou três estilos pré-determinados. O estilo do Flamengo é como o futebol argentino, jogado para frente, com marcação no campo do adversário. Tudo isso o profissional vai ter que entender. Eu morro de ódio quando vejo o Flamengo retrancado. Quero um profissional que não me escute, porque todos os que escutaram os presidentes nos últimos tempos fracassaram. Mesmo ganhando. Eu não quero ganhar fracassando, quero ganhar de forma assertiva.
Qual é o seu projeto para o novo estádio no Gasômetro? Como viabilizar as obras sem que o futebol perca força?
O custo de obra preocupa, mas não assusta. Trabalhamos com as informações de R$ 2 bilhões. Em março de 2025, a gente inicia o tijolinho, porque é o tempo para o projeto ficar pronto e começar a arrecadar para ter fluxo de caixa. Vamos ter o início da venda dos apartamentos do Morro da Viúva, que são um dos ativos. E aí vem a possibilidade de ter o potencial construtivo e criar receitas, como a cadeira cativa. Seria R$ 1 milhão cada. Hoje, o Flamengo destina menos de 1% dos investimentos ao Marketing. Em qualquer empresa, são 6% a 8%. Queremos colocar 4%, porque vamos buscar ativos e tornar o Marketing mais produtivo. Ele é o pulmão e o coração das finanças.
Virar SAF é uma opção?
A gente foge da SAF. Ela é a venda da alma rubro-negra. Sou o único candidato à presidência que se colocou contra isso desde o início.
Quer renovar com Gabigol?
Ele ainda não fechou com nenhum time. Se não fechar até dia 9 (data da eleição), no dia 10 vou tratar do assunto. Já tenho o profissional que estará comigo.
Quem?
Não vou expor o nome porque ele tem uma ocupação e ainda não sentamos para ver valores. Mas tenho tudo mapeado. Nós contatamos dez pessoas entre Brasil e mundo. Já temos planos A, B e C.
Qual é sua opinião sobre o trabalho de Filipe Luís? E quais são os planos para ele?
Eu fiquei do lado dele em um voo para Florianópolis. Ele foi receber uma homenagem, e a Embaixada me pediu para ir. Ele passou o tempo todo estudando, analisando jogos. Isso me impressionou. Eu já tinha uma simpatia por ele como jogador. E, como técnico, foi uma aposta que eu faria.
AMANHÃ: ENTREVISTA COM LUIZ EDUARDO BAPTISTA