O que já foi uma relação harmoniosa, hoje revela atritos significativos nos bastidores do Ninho do Urubu. José Boto, contratado com o objetivo de profissionalizar o departamento de futebol do Flamengo, tem enfrentado crescente desgaste e tensões com a alta cúpula do clube.
A recente desistência na contratação do atacante Mikey Johnston foi apenas mais um episódio dentro de uma sequência de impasses que evidenciam a instabilidade e colocam em dúvida a permanência do dirigente português.
O foco central dos conflitos gira em torno da relação entre Boto e o presidente Luiz Eduardo Baptista, o Bap. A nova gestão esperava que o diretor técnico tivesse uma postura crítica e autônoma, que agisse com independência em relação à comissão técnica. No entanto, segundo informações da ESPN, o comportamento mais próximo ao estilo “boleiro” de Boto e sua relação estreita com o técnico Filipe Luís são vistos por parte da diretoria como impeditivos para essa expectativa.
Um exemplo claro desse desalinhamento aconteceu logo no início do mandato, quando Filipe tentou impedir cortes nas áreas médica e de comunicação. Boto apoiou o treinador, se opondo à decisão do presidente e criando o primeiro atrito sério.
A forma como Boto conduziu questões envolvendo nomes importantes do elenco também foi criticada. No caso de Gerson, enquanto Bap adotava um tom duro ao comentar as exigências de seu empresário, Boto manteve uma postura mais diplomática, mesmo quando a transferência para o Zenit já estava praticamente acertada. Internamente, essa conduta foi vista como falta de autoridade.
Outra situação delicada envolveu Pedro. Após a eliminação no Mundial de Clubes, veio à tona a informação de que o Flamengo estaria disposto a vendê-lo por 15 milhões de euros. O vazamento foi atribuído a uma conversa entre Boto e o jornalista Mauro Cezar Pereira. Apesar da negativa do dirigente, o episódio causou repercussão negativa e foi interpretado como um erro grave em um momento de fragilidade institucional.
A demora em dar andamento à renovação de Arrascaeta, um dos principais jogadores do elenco, também tem gerado incômodo, com o uruguaio sendo orientado a aguardar.
A atuação de Boto no mercado de transferências também é alvo de críticas. Durante a disputa do Mundial, o dirigente chegou a mencionar publicamente jogadores que interessavam ao clube, como Dušan Vlahović, da Juventus, em entrevistas à imprensa internacional. A exposição em meio a uma competição importante não agradou à diretoria.
As contratações efetivadas até aqui, como Danilo e Jorginho nomes que já estavam mapeados anteriormente e Juninho, que não foi um pedido de Filipe Luís, não empolgaram os bastidores. A situação se agravou com o caso de Mikey Johnston. Indicada diretamente por Boto, a negociação pelo jogador irlandês da segunda divisão inglesa gerou forte rejeição interna, sobretudo após avaliações médicas apontarem histórico de lesões preocupante. O investimento próximo de R$ 35 milhões acabou sendo abortado, intensificando a pressão sobre o dirigente.
Mesmo com os ruídos e críticas crescentes, Bap ainda garante a continuidade de Boto no cargo. A ideia é manter estabilidade para o restante da temporada, ao menos por ora. O Flamengo volta a campo no próximo sábado (12), quando enfrenta o São Paulo, pelo Campeonato Brasileiro, mas o ambiente interno ainda é de incerteza e desconforto. O que antes era visto como um reforço de profissionalismo, hoje gera dúvidas sobre a condução da gestão de futebol no clube.