Você possivelmente não ouviu nem falar de Jean-Marc Bosman, mas ele é um dos grandes responsáveis pelo atual domínio absoluto dos times europeus sobre os sul-americanos, que teve seu último capítulo neste sábado, com o título do Mundial do Liverpool sobre o Flamengo .

Bosman foi um meio-campista belga que atuou como profissional entre as décadas de 80 e 90. Dentro de campo, teve pouquíssimo destaque, não chegou seque a conquistar um título como profissional e mal atuou em clubes conhecidos.

Fora das quatro linhas, porém, mudou a história do futebol.

Tudo começa em 1990. Bosman estava em seus últimos meses de contrato com o RFC Liège, da Bélgica. O clube propôs uma renovação, mas quis reduzir o salário em 75%. O meia não aceitou e foi colocado na lista de transferências. Ele até teve um interessado, o Dunkerque, da França. Só que as duas equipes não entraram em um acordo financeiro, e o jogador acabou ficando sem ter o que fazer. Ele não aceitava o contrato novo, com o corte de salário, mas também não podia jogar por outra equipe.

Bosman, então, decidiu tentar a sorte na Justiça.

Ele precisou de cinco anos de espera, mas viu uma lei ser aprovada com seu nome que mudaria completamente a história.

Em 1995, a Corte de Justiça Europeia aprovou a Lei Bosman, que liberava os jogadores para deixarem seus clubes ao término dos contratos.

Se parasse por aí, a transformação talvez não fosse tão grande. Só que a nova regulamentação também transformava a forma como jogadores da União Europeia seriam vistos em seus clubes. Eles não seriam mais considerados estrangeiros, o que fez explodir o mercado de transferências na Europa.

Isso possibilitou, por exemplo, que o Liverpool entrasse em campo neste sábado para enfrentar o Flamengo com apenas quatro ingleses: Arnold, Joe Gomez, Henderson e Chamberlain. Eram ainda dois brasileiros, um escocês, um egípcio, um holandês, um senegalês e um guineano. E vários desses não-europeus estavam em campo também por possuírem um passaporte europeu.

Para se ter uma ideia em números da transformação do futebol.

Até 1995, considerando o Mundial de Clubes teve 20 campeões sul-americanos e 14 europeus.

Depois disso, foram 19 títulos para a Europa e apenas 6 para a América do Sul.

O próprio Jean-Marc Bosman admitiu recentemente que sua lei acabou se transformando em um paradoxo, ficou distorcida.

“A Lei Bosman nasceu para redistribuir a riqueza entre todos, especialmente aos jogadores mais pobres, mas agora o ganho está nas mãos de poucos. Ainda acho que a decisão do Tribunal de Justiça foi correta. Foi uma lei positiva, mas agora está distorcida. Infelizmente o futebol não é saudável agora, jogadores recebem quantias astronômicas de dinheiro. Contratos não estão sendo respeitados”, disse, em entrevista ao jornal italiano Gazzetta dello Sport.