Tostão afirmou que gostaria de ver Jorge Jesus comandar uma das forças da Europa para ver como o português, que alcançou rápido sucesso no Brasil, se sairia. O desejo é motivado por uma dúvida. Afinal, por que o treinador de 65 anos não estava no Liverpool , Barcelona ou Juventus .

A declaração foi dada em uma longa entrevista ao jornalista da ESPN Brasil Mauro Cezar Pereira no portal UOL. O conteúdo foi dividido em três partes. A terceira foi ao ar nesta quinta-feira (30).

A resposta surgiu após Mauro Cezar Pereira questionar qual técnico Tostão contrataria hoje. A resposta do campeão do mundo em 1970 foi Jürgen Klopp, do Liverpool, ou Pep Guardiola, do Manchester City .

“[São] os que mais me encantam por terem uma visão mais abrangente do jogo, existem outros técnicos que são bons mas têm visão mais limitada, como [Carlo] Ancelotti e [José] Mourinho. Já o Jorge Jesus, a grande sacada dele, é que não defende um estilo, tem a mente aberta e sabe fazer. Mas muita gente tem ideia e não sabe fazer. Como Klopp está um pouco à frente, fica a ideia de que passou o Guardiola, mas é cada um do seu jeito”, disse o colunista da “Folha de S.Paulo”.

Foi a deixa para ser questionado se Jorge Jesus teria condições de fazer um grande trabalho na Europa. Tostão defendeu que o treinador do Flamengo tem capacidade, mas que não se pode criar a ilusão de que onde ele chegar vai transformar tudo rapidamente. E disse ter uma dúvida sobre o português.

“Como esse cara há tanto tempo e com essa capacidade que demonstra aqui não está no Liverpool, no Barcelona, na Juventus, no Real Madrid ? Ele deveria ter brilhado num grande time, fico sem saber porquê?”, disse, para voltar a falar do estilo dos técnicos preferidos.

“Klopp já era bom demais no [Borussia] Dortmund. Eu gostava de ver aquele time jogar por causa dele, pelo jeito que montava o time com jogadores mais modestos. Já o Guardiola montou times brilhantes com grandes jogadores. O técnico precisa encontrar condições boas para uma revolução, o que Jesus encontrou no Flamengo. Mas não existe varinha mágica, se ele chegar ao Arsenal não significa que fará um time tão bom como Liverpool e Manchester City, precisa encontrar condições boas para isso”.

Em outra parte da entrevista, Mauro Cezar Pereira questionou sobre a diferença entre o trabalho desempenhado por João Saldanha e o que foi feito por Zagallo no final dos anos 60 na seleção brasileira .

Saldanha comandou o time brasileiro nas eliminatórias, com campanha perfeita. Foram seis jogos e seis vitórias. Mas acabou demitido pouco depois. Zagallo dirigiu o time na conquista do Mundial.

Tostão entende que Zagallo jamais deu crédito a Saldanha por questão de vaidade.

“Na verdade o Saldanha não era um estrategista, como 99% dos técnicos da época. Mas ele era um sujeito capaz”, disse. “Ele teve um papel de organização inicial do time. O Zagallo mudou [na Copa] uns três jogadores, então Saldaha teve valor. Ele era muito humanista, conversava muito bem, gostava de sentar com o jogador e ter um papo”.

“Zagallo, na época, foi muito bom técnico do ponto de vista da estratégia, porque, como disse, 99% dos treinadores eram de entregar camisa. Zagallo não. Ele treinava muito tático e o Parreira era uma pessoa preocupada em saber o que era o correto. Saldanha era visto como um jornalista, alguém nada a ver com o futebol. Zagallo era aquele pensamento, ‘méritos meus somente’. ‘Se eu não entrasse o time não ganhava’. Ele falava isso, não houve nenhum gesto de gentileza, de reconhecimento, sempre quando perguntado não davam nenhuma importância ao Saldanha.”