Há movimentos que se repetem num jogo como um padrão. E o envolvimento do Flamengo sobre o Vasco na partida de volta da semifinal do Carioca teve uma das marcas mais notáveis do time de Filipe Luís: o brutal crescimento do time na saída de bola, a partir da paciência de defensores e até do goleiro Rossi para ficar com a bola, atrair a marcação e jogar às costas da pressão adversária.
Diante de um Vasco com problemas ao pressionar e um meio-campo que ficava esvaziado, o que mais chamou a atenção foi a leitura de jogo de Gerson para ser, quase sempre, o homem livre na saída de bola do Flamengo. Os vascaínos nunca tiveram uma resposta para os movimentos de Gerson.
Logo com oito minutos de jogo, o Vasco se vê diante da paciência rubro-negra na saída de bola. Na imagem, Léo Pereira tem a bola vigiado por Vegetti, enquanto Coutinho marca Léo Ortiz e Nuno Moreira controla Pulgar, que recuara para ajudar nos primeiros passes. De La Cruz, que aparece como apoio, obriga Paulinho a avançar e marcá-lo. Diante do cenário, Léo Pereira volta a bola até Rossi.
Flamengo inicia construção de jogada contra o Vasco — Foto: Reprodução
Instantes depois, a troca de passes encontra Arrascaeta e a imagem mostra um cenário que se repetiria no jogo: Hugo Moura segue o camisa 10 do Flamengo, mas Gerson, que se movia da direita para o centro, sobra como homem livre. Por vezes, Lucas Freitas deixava a linha de zaga para combater Gerson, porém hesitava ao perceber que deixaria um espaço na defesa. Neste lance, um passe errado de Arrascaeta interrompe um ataque perigoso.
Gérson aparece livre na meia direita — Foto: Reprodução
Gerson não se limitou a surgir como homem livre na meia-direita. Em dado momento, atravessou o campo até o lado esquerdo, aproximando-se de Plata. O Flamengo gera superioridade em torno da bola e o camisa 8, novamente, é hábil para tirar o time da tentativa de pressão.
Gérson atravessa o campo e surge na esquerda — Foto: Reprodução
Plata conduz a bola e, outra vez, Gerson está livre contra um Vasco que não conseguia povoar a frente de sua área.
A frente da área do Vasco desprotegida — Foto: Reprodução
Com o Vasco já em vantagem no placar e pouco depois do tempo técnico, a situação familiar se repete. O Flamengo conserva a bola perto de sua área e faz ela chegar em Rossi. Paulinho subiu para pressionar De La Cruz.
A saída de bola do Flamengo com Rossi — Foto: Reprodução
No entanto, este foi um dos poucos momentos de instabilidade rubro-negra no jogo. Rossi chuta longo, embora Gerson tivesse certa liberdade, com Lucas Freitas indeciso entre pressionar o camisa 8 ou retomar sua posição na linha defensiva. O Vasco acabou ganhando a disputa pelo alto.
Rossi chute longo, embora Gérson estivesse com espaço — Foto: Reprodução
Até que surge a construção do gol de empate do Flamengo. A troca de passes entre os zagueiros atrai a pressão de Paulinho. E o início do lance já mostra Hugo Moura com muito espaço para cobrir, sobrecarregado pelo posicionamento de Arrascaeta e Plata, que invertera posições com Gerson.
Flamengo inicia a construção do primeiro gol — Foto: Reprodução
Quando Arrascaeta recebe a bola, o Flamengo estabelece vantagem. Piton e Nuno Moreira são atraídos por Plata, enquanto Wesley fica solto.
Flamengo inicia a jogada do primeiro gol — Foto: Reprodução
O passe para o lateral não sai como Arrascaeta pretendia, mas De La Cruz pega a sobre e Hugo Moura está novamente sobrecarregado na frente da área. Dali sai o chute que sobraria para Bruno Henrique empatar.
Flamengo se aproxima do gol de empate — Foto: Reprodução
A parte final do primeiro tempo traz outro momento em que Léo Ortiz, Léo Pereira, Varela, Pulgar e De La Cruz atraem a pressão do Vasco. Era um padrão no jogo.
Saída de bola do Flamengo envolve o Vasco — Foto: Reprodução
Até Léo Ortiz achar lindo passe para De La Cruz, que toca para Pulgar. Neste momento, Gerson já leu o espaço e encontrou o pedaço de campo que, dali em diante, exploraria sem parar. Paulinho fora atraído para pressionar um dos volantes do Flamengo e, novamente, uma porção imensa de campo ficara às costas dele. Hugo Moura nem aparece na imagem.
Gérson com muito espaço às costas da pressão do Vasco — Foto: Reprodução
Quando surge, tem poucas chances entre Gerson e, neste momento, Bruno Henrique. Arrascaeta está fixando a linha defensiva do Vasco, enquanto o atacante deu passos atrás, novamente deixando Hugo Moura em inferioridade. O lance terminaria em finalização para uma defesa de Léo Jardim.
Hugo Moura, outra vez, em inferioridade no meio-campo — Foto: Reprodução
Parece repetição, mas não é. Ainda antes do intervalo, Rossi está novamente com a bola e Paulinho, impaciente, larga De La Cruz e vai pressionar Pulgar.
Novamente, a saída de bola do Flamengo — Foto: Reprodução
De La Cruz passa a ser o homem livre e Paulinho se frustra. Outra vez, Hugo Moura tem enorme espaço para cobrir.
Paulinho é batido e o Flamengo tem muito espaço — Foto: Reprodução
Gerson já leu o espaço na meia direita e Arrascaeta fez o mesmo na meia esquerda.
Hugo Moura sobrecarregado entre De La Cruz, Gérson e Arrascaeta — Foto: Reprodução
O segundo tempo não alterou o andamento do jogo. Na imagem abaixo, o Flamengo novamente aposta numa saída de bola paciente. Léo Ortiz conduz a bola pacientemente aguardando a aproximação de Coutinho. A única diferença é que, desta vez, Hugo Moura é o volante que sobe para pressionar junto com Vegetti e Nuno Moreira.
O mesmo cenário no segundo tempo — Foto: Reprodução
Novamente, é Gerson quem encontra o farto espaço às costas da pressão para iniciar o ataque do Flamengo.
Gerson recebe livre mais uma vez — Foto: Reprodução
Demorou mais do que o esperado para que a vantagem tática do Flamengo resultasse no gol que encerrou definitivamente a semifinal. Outra vez, a imagem mostra a bola com o goleiro Rossi, enquanto o Flamengo atrai a pressão do Vasco. Mudam os nomes, não a forma de o Vasco pressionar. Matheus Carvalho entrara no lugar de Paulinho, Payet está na função de Coutinho e Loide Augusto ocupa o lugar de Nuno Moreira. Rossi segura a bola até que Vegetti o ataque. Léo Pereira, no alto da imagem, passa a ser o homem livre.
Rossi controla a bola esperando a pressão do Vasco — Foto: Reprodução
Após receber a bola, Léo Pereira conduz e Gerson está novamente aproveitando um grande espaço livre e sinalizando para pedir a bola. Matheus Carvalho subira para pressionar e, fora da imagem, Arrascaeta arrastou Hugo Moura para longe.
Gérson sinaliza pedindo a bola — Foto: Reprodução
A posição de Gerson obriga Lucas Freitas a sair da linha defensiva, criando o espaço por onde Plata vai arrancar e dar origem à jogada do gol. No alto da imagem, aparece Arrascaeta fixando a marcação de Hugo Moura.
Lucas Freitas deixa a linha de zaga e Plata tem espaço para correr — Foto: Reprodução
Na jogada, Léo Jardim ainda defende um chute de Plata, mas a bola cai nos pés de Luiz Araújo, autor do gol da virada. O padrão foi repetido à exaustão até se tornar um gol. Em sua entrevista coletiva, Filipe Luís se referiu à evolução do seu time na saída de bola, o que também é produto da alta qualidade técnica de zagueiros e volantes. Mas claramente há um mérito coletivo: a paciência para ficar com a bola e o convencimento do time de que vale a pena assumir os riscos de trocar passes desde a defesa. Esta é uma marca do Flamengo atual.