Brasileirão 2024: veja análise técnica e tática do Flamengo

O que acontece quando o melhor elenco do Brasil recebe o principal treinador do país há uma década? O casamento entre Flamengo e Tite, iniciado na reta final do último Brasileirão, gera altas expectativas desde que foi consumado. E o início em 2024 tem mostrado que o sentimento é totalmente justificável. O time entra na Série A como principal favorito ao título.

Arrascaeta e Viña comemoram gol do Flamengo — Foto: Divulgação / Flamengo

Encontrar problemas em uma equipe que marca quase dois gols de média por partida e quase não foi vazada é uma tarefa quase impossível. O título carioca invicto e o início na Libertadores são os primeiros exemplos dos frutos colhidos na preparação.

O plantel está mais enxuto e equilibrado em relação às últimas temporadas. Se Everton Ribeiro saiu, De la Cruz se adaptou rapidamente ao clube e é titular incontestável do meio-campo. Filipe Luís se aposentou. Thiago Maia, Pablo, Matheuzinho e Rodrigo Caio integraram a ‘’barca da renovação’’. Igor Jesus ganhou espaço como reserva de Pulgar.

Léo Ortiz chegou para disputar posição na zaga, e Varela cresceu muito de nível com a sequência como titular. Luiz Araújo é mais uma peça que chegou em 2023 e desabrochou de maneira regular em 2024.

Tite em treino do Flamengo no CT da Federação Colombiana — Foto: Marcelo Cortes/Flamengo

A melhora desses jogadores tem muito a ver com a organização coletiva implementada por Tite e sua comissão técnica. Com mais tempo de treinamento em relação ao final do ano passado, o crescimento defensivo impressiona. O Rubro-Negro não deixa de buscar a bola e empurrar o adversário para trás em quase todos os minutos do jogo, mas o trabalho sem ela tem beirado a perfeição.

Não que vá fazer isso o jogo inteiro, mas a marcação adiantada é a prioridade. Pedro e Arrascaeta dão o primeiro combate, sempre induzindo o passe para a lateral, local em que a pressão se intensifica com Luiz Araújo ou Everton Cebolinha. Pulgar e De la Cruz oferecem suporte logo atrás, ‘’saltando’’ a pressão caso o adversário supere a primeira linha de marcação.

O comportamento dos quatro defensores também é determinante. Coordenados, encurtando o espaço para os volantes ou correndo na direção da meta em bolas ‘’descobertas’’. Fabricio Bruno é muito veloz nas coberturas. Léo Pereira tem jogado de forma segura, e os laterais entenderam bem o posicionamento para não oferecer lacunas.

Complementam-se a isso as transições defensivas fortes feitas pelo Mais Querido. O conceito de pressão pós-perda - reagir imediatamente e em bloco a uma perda de bola - funciona muito bem. A equipe já fez alguns gols com bolas roubadas a partir de tiros de meta dos adversários ou retomando rapidamente após um desarme rival. É letal para concluir com velocidade nesses lances.

O time-base do Flamengo neste início de Brasileirão — Foto: Rodrigo Coutinho

Pedro vive grande fase mais uma vez. Tite o fixou como centroavante, deixando Gabigol no banco, e o camisa 9 mostra total entendimento da função que precisa exercer dentro de um ataque mais posicional. Cada jogador rubro-negro tem um espaço para ocupar quando o time ataca. Eles até trocam de posição às vezes, mas sempre obedecem a um posicionamento mais racional.

Desta forma as linhas de passe aparecem com naturalidade. Everton e Luiz Araújo passam grande parte do jogo muito abertos. Só se aproximam da área quando a jogada desenvolvida pelo lado contrário terminará em cruzamento, ou quando há um avanço aberto esporádico do lateral do setor. Varela e Ayrton Lucas quase sempre avançam por dentro e oferecem suporte aos pontas.

Com o problema renal de Gerson, De la Cruz se fixou no meio. Ele se alinha a Arrascaeta no momento ofensivo, oferece muita dinâmica e velocidade na circulação da bola. É o complemento ideal para seu genial compatriota. Arrasca é o líder de assistências da equipe e parece longe dos problemas físicos que lhe tiraram regularidade nas últimas temporadas.

Estrutura posicional da equipe em fase ofensiva. Muitas vezes um 2-3-5 é formado — Foto: Rodrigo Coutinho

As bolas paradas aéreas têm sido outra arma interessante. Há variações entre escanteios cobrados diretos e com passes curtos, repertório de jogadas ensaiadas para encontrar Pedro, Léo Pereira e Fabricio Bruno, os principais alvos em bolas alçadas. Defensivamente, a equipe basicamente não sofre em jogadas assim. Gera poucas chances aos rivais. Protege a área de forma quase impecável.

Como não existe time perfeito e o estágio de meses de trabalho de Tite impede que se aproxime de tal nível, o Flamengo pode melhorar em um cenário específico. Diante de adversários que se fecham bem, a equipe tem encontrado dificuldades de gerar as interações perto da área. Ocupa bem os espaços, faz os movimentos certos, mas por vezes se precipita nas decisões com a bola.

Os clássicos contra Botafogo e Vasco, na fase de classificação do Carioca, são bons exemplos. É verdade que, mesmo alçando bolas que poderiam ser mais trabalhadas, o Rubro-Negro tem alcançado os objetivos. Fruto da maciça ocupação que faz na área rival e dos ataques coordenados em cruzamentos na segunda trave, buscando as costas do lateral contrário. É um padrão nítido e funciona!

Posicionamento do Flamengo nas marcações executadas no campo de ataque — Foto: Rodrigo Coutinho

Administrar egos está entre as tarefas de Tite para manter o ambiente saudável e competitivo no Flamengo. O suspenso Gabigol e Bruno Henrique hoje são reservas. Gerson certamente voltará da cirurgia que fez nessa condição. Eles foram grandes nomes de títulos relevantes conquistados pelo clube recentemente e lutarão por suas vagas.

A Copa América é outro calo rubro-negro. Com a absurda decisão de continuar o Brasileirão em meio à competição, o clube deve perder metade do time titular. Mesmo com elenco de qualidade disponível, não há quem não sofra para ajustar as coisas. Perder poucos pontos antes de ter seus jogadores convocados é aconselhável

Controlar os resultados no futebol é algo impossível, mas é inegável que o Flamengo tem cumprido o ‘’checklist’’ de quesitos determinantes para a conquista de um título nacional por pontos corridos. É um time muito difícil de ser batido atualmente.

Fonte: Globo Esporte