Novo diretor de futebol do Flamengo , José Boto concedeu nesta quarta-feira a sua segunda coletiva no cargo, antes da reapresentação do elenco para a pré-temporada de 2025. O português apresentou o seu assistente direto, Alfredo Almeida, e o novo chefe do departamento médico, Fernando Sassaki. Além disso, avisou que não falará sobre negociações.
— Eu venho de uma cultura diferente, em que o segredo é a alma do negócio. A divulgação de coisas sobre negociações prejudica o Flamengo . Não estou aqui para prejudicar o Flamengo , e sim proteger. Portanto, não vale a pena me mandarem mensagens perguntando se jogador tal é verdade porque não vou responder. Essa é a diferença às vezes de pagar 10 ou 15 (milhões).
— Quando eles forem contratados vão ser apresentados aqui, vai se explicar todo o processo. De resto, não percam tempo de encherem meu telefone de mensagens. Continuem a mandar nomes porque ajudam algumas ideias (risos). Mas não vou responder, é da minha cultura, é assim que trabalhamos na Europa.
A prioridade do Flamengo no mercado é o ataque. O clube está próximo de fechar a contratação de Juninho, do Qarabag (Azerbaijão). O jogador de 28 anos estava a caminho do Sevilla, mas deve se tornar o primeiro reforço rubro-negro para 2025.
Sobre as novidades anunciadas por Boto na pré-temporada, ele prometeu que o clube voltará a abrir alguns treinos e a fazer entrevistas coletivas com jogadores.
— Vocês vão receber algum material, ter acesso à programação do elenco profissional, todas as semanas vão receber uma planilha do que vai ser, que horas começam os treinos, viagem. Vão existir alguns treinos abertos para fazerem imagens, vão ser disponibilizados jogadores para algumas entrevistas. Me disseram que havia questões em relação à duração da pré-temporada nos Estados Unidos. Foi uma decisão técnica que levou ao encurtamento. Basicamente é isso.
Veja outros trechos da coletiva:
— Contato desde o dia 18 é diário. Agora com ele aqui é mais fácil, cara a cara é sempre melhor. Tudo que disse no primeiro dia eu mantenho. Alguém em quem vejo um futuro maravilhoso. E eu quero ser o diretor português que vai acabar com a hegemonia dos treinadores portugueses no Brasil. Isso vai acontecer através do Filipe. Com todo respeito aos treinadores portugueses, alguns são até meus amigos, mas eu quero ajudar a acabar com a hegemonia e nada melhor do que ser o Filipe.
— Existe um diretor médico de todo o Flamengo (José Luiz Runco) que não depende do futebol e decidiu fazer essas mudanças. Explicou-me algumas porque eram necessárias, e agora vamos ver como as coisas funcionam em termos de futebol. O departamento médico das outras modalidades não é da minha responsabilidade.
— Quem reporta direto ao presidente sou eu. Acho que posso dizer isso, se calhar é a primeira vez que um presidente não vai estar na chegada dos jogadores. Eu reporto a ele, os outros reportam a mim. Não levem como arrogância, é a forma como se deve trabalhar. Ele (Alfredo Almeida) é uma pessoa com experiência muito grande principalmente em metodologia de treino, vai ser um apoio muito grande para a base também. E, tal como o nome diz, é meu assistente. Quando estou acompanhando a equipe em algum lugar qualquer, preciso de alguém tome conta da parte mais técnica. Não é da parte de contratações. É um olhar mais técnico do que se está fazendo aqui.
— Vou responder assim. Eu com Filipe Luís falamos de todos os jogadores, o Fabrício Bruno foi um deles (risos).
— A questão aqui é: todos os jogadores que vierem servem ao modelo do Flamengo . Ninguém vai ser contratado para agradar à imprensa à torcida... Nós temos sempre dois campeões na Europa: o da pré-temporada e o real. O que nós queremos é ser o campeão real ao final da temporada.
— Eu não sou financeiro, mas o Bap já falou que existem problemas de caixa. Eu estou ciente deles, o Filipe também, mas não nos preocupam esses problemas, porque o que existe vai ser suficiente para os reforços cirúrgicos que queremos trazer. O elenco é excelente, é só fazer alguns ajustes pontuais. Não precisamos de contratações só pelo nome, só porque são muito caras, que depois não têm cabimento no modelo de jogos que queremos. Isso é jogar dinheiro fora, não vai acontecer.
— Em todos os clubes onde passei, a base sempre era cuidada com muito carinho. Aqui não vai ser diferente. Ganhar muitas vezes esconde formar mal. O que é ganhar na base? É o número de jogadores que jogam na primeira equipe ou que são vendidos. Aquela crítica que eu fiz foi geral, porque o Brasil tem condições para criar mais jogadores daqueles que nos encantam. Eu comecei a gostar de uma forma apaixonada pela seleção brasileira de 82. Isso era devido a quê? Qualidade e criatividade dos jogadores. Pessoas vão dizer que futebol mudou, é mais intenso. É verdade. Mas os bons jogadores, aqueles talentosos, têm sempre lugar. O que acho é que podemos aportar um pouco isso e revelar jogadores mais criativos. Não há criatividade sem liberdade. Isso nos diz muito, não há processo de crescimento se alguém tem medo de errar.
— O que falta é esse processo naquelas idades menores, de deixar os jogadores errarem, depois os colegas é que vão lhe dizer: "Não pode fazer caneta, lençol, porque não sabe". Há um professor em Portugal que é o pai de uma metodologia usada em quase toda a Europa, se chama Vitor Frade, que o futebol não se ensina, aprende-se. Isso que o futebol de rua nos dava. O último a ser escolhido não tinha jeito. Era uma seleção natural, não tinha intervenção de adultos. Jogadores iam experimentando, imitando... Na Noruega querem imitar o Haaland. Aqui vão querer imitar Neymar ou o Vini. Deixem imitarem. Depois vão perceber que não podem fazer. Isso que queria dizer quando falei da formação.
— Deixem as crianças se divertirem. No Shakhtar, os jovens queriam imitar os brasileiros, e os treinadores não deixavam. Uma das coisas que fiz foi mudar a base de lá, levei um coordenador português, e começou a sair Mudryk, vendido por 100 milhões de euros para o Chelsea. Jogadores como (Heorhiy) Sudakov e (Artem) Bondarenko, quem segue futebol internacional sabe que são muito apreciados e vão sair por muito dinheiro. Porque nós começamos a deixar imitar os brasileiros que lá havia, isso fez a diferença;. Futebol é muita imitação. Se o que tenho para imitar é um tosco, com dois tijolos nos pés e que nem correr sabe, não vamos criar talento.
— Eu gosto de falar por metáforas. Essas coisas todas: fisiologia, psicologia... São coisas muito importantes, que agregam. Mas são as batatas fritas. O importante é o bife. E o bife é a comissão técnica, o elenco. O resto são as batatas fritas. Vem para agregar quando a comissão técnica precisa. Não façam disso o bife. Ou o prato principal. São coisas que existem para ajudar que o bife saia melhor.
— Não está nos nossos planos vender nenhum jogador fundamental para nós, a não ser que seja uma loucura, daquelas que não podemos dizer não. É agregar alguns jogadores para que o elenco seja mais forte. Depois, nós não podemos entrar numa temporada pensando que o ponto alto vai ser o Mundial. O foco principal tem que ser a Série A. Mas o foco imediato é a Supercopa no dia 2 de fevereiro. Depois, o Mundial vai chegar ao seu tempo. Não vamos para passear, vamos para competir e fazer o melhor possível.
— Neste momento, vamos ver se há necessidade de agregar alguém à comissão. Muito provavelmente vamos acrescentar alguém que vai agregar. Vamos fazer algumas reestruturações em alguns departamentos que têm mais contato direto com a comissão técnica, o que não quer dizer mandar pessoas embora. E vamos trabalhar com padrões que consideramos corretos. Depois, a estrutura é dinâmica, e vamos fazendo ajustes conforme as necessidades.
— Vocês vão receber o time que vai ficar no Brasil. Vamos lutar para ter menos viagens possíveis, o que é quase impossível num calendário como esse. Mas as que puderem evitar vamos evitar.
— É verdade que sempre é mais fácil trabalhar a ganhar. E posso dizer que estamos a fazer tudo, forma árdua, tenho saído do CT às 20h, 21h, para tentar que os jogadores cheguem e tenham todas as condições para entregar resultados. Há clubes em que nós podemos pedir, com tempo. Estou ciente de que é um processo que tem que ser feito ao mesmo tempo em que entregamos resultados.
— Não, nós trabalhamos com conseguir o que queremos e achamos que encaixa no modelo do treinador do Flamengo . Se tiver que levar mais três ou quatro dias, leva. Até porque a pressa é inimiga da perfeição. Não temos pressa nenhuma, nenhuma. Óbvio que não vamos esperar seis meses para contratação. O que queremos é pagar o que queremos, e o tempo vai ser o tempo em que conseguirmos ter essas duas coisas juntas.
— Já tive contato direto com eles. O que me custa mais é ver jogador com talento, condições, desperdiçar isso. Esse custo é imenso, essa é a mensagem que tenho passado a alguns jogadores que têm essas coisas e não podem desperdiçar. E também não é a primeira vez que estou a ver o time sub-20, já apanhei uma insolação. O sol aqui no Rio é uma coisa... (risos).
— O João Paulo é alguém que conheço há muitos anos. Na minha opinião não é o melhor do Brasil, é um dos melhores do mundo. E um dos melhores do mundo interessa sempre ao Flamengo . Às vezes não é possível, mas também não é por isso que deixa de ser um dos melhores amigos que tenho no futebol.
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