Amado Benigno, ícone do Flamengo, brilha em 123 partidas e conquista dois estaduais

Amado Benigno, nascido em Lábrea, Amazonas, no dia 1º de agosto de 1905, é uma figura emblemática do futebol brasileiro. Filho de um militar, sua infância foi marcada pela disciplina, mas foi nos gramados e na medicina que ele encontrou sua verdadeira vocação. Em 1923, estreou pelo Flamengo em uma vitória contra o São Cristóvão, iniciando uma trajetória que se estenderia até 1934.

A Trajetória no Flamengo

Nos seus 11 anos vestindo o Manto Sagrado, Amado disputou 123 partidas oficiais e conquistou dois títulos estaduais, em 1925 e 1927. Suas defesas se tornaram lendárias, consolidando-o como uma referência sob as traves rubro-negras durante a década de 1920. O Flamengo, ainda em seus primeiros passos no futebol, já revelava ídolos, e Amado se destacou como um dos principais.

Em 1923, o clube participava apenas da 11ª edição do Campeonato Carioca, e a chegada de Amado foi crucial para a defesa. Rapidamente, ele se tornou titular, sendo fundamental na conquista do título estadual de 1925. Dois anos depois, em 1927, ele brilhou novamente, ajudando o Flamengo a vencer um campeonato repleto de desafios políticos e esportivos, tornando-se um dos troféus mais celebrados da época.

Convocação para a Seleção Brasileira

O desempenho de Amado no Flamengo não passou despercebido pela CBD (Confederação Brasileira de Desportos). Em 1929, ele foi convocado para a Seleção Brasileira, participando de um amistoso contra o Rampla Juniors, onde o Brasil saiu vitorioso por 4 a 2. Além disso, defendeu a Seleção Carioca, conquistando o Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais em 1927 e 1928. Em 1930, era considerado o melhor goleiro do Rio e um forte candidato para a primeira Copa do Mundo.

O Corte da Copa de 1930

Entretanto, um episódio curioso alterou o rumo de sua carreira. Na véspera da apresentação à Seleção, Amado jogou um amistoso pelo Flamengo sem comunicar a CBD, o que foi interpretado como indisciplina. Como consequência, foi cortado da lista final, e o treinador Píndaro de Carvalho convocou Joel para seu lugar, deixando o Flamengo sem representante na Copa do Uruguai. Este episódio se tornou uma das histórias mais inusitadas do futebol brasileiro.

A Polêmica do Telegrama de 1928

Um ano antes, Amado já havia se envolvido em outra polêmica. Na véspera da final do Carioca de 1928, o atacante Preguinho, do Fluminense, recebeu um telegrama em nome do goleiro, que dizia: “És sopa! Amanhã não farás gol!”. Indignado, Preguinho prometeu marcar dois gols e cumpriu sua palavra, levando o Fluminense à vitória por 4 a 1. Anos depois, descobriu-se que Amado nunca enviou a mensagem; o autor foi o sócio tricolor Affonso de Castro, conhecido como Castrinho.

Vida Fora dos Gramados

Na época, o futebol ainda era amador e não sustentava os jogadores. Amado conciliava sua carreira esportiva com a medicina, já exercendo a profissão enquanto defendia o Flamengo. Após pendurar as chuteiras em 1934, dedicou-se exclusivamente à área da saúde. Além de médico e goleiro, Amado atuou como olheiro, tentando levar um jovem talento do Fluminense, Oscar Niemeyer, para a Gávea. O futuro gênio da arquitetura, no entanto, optou por seguir sua vocação, tornando-se uma referência internacional.

A Mística da Camisa Rubro-Negra em 1927

O título de 1927 começou envolto em desconfiança. O Flamengo, suspenso e com um elenco enfraquecido, se reorganizou ao longo da competição. Amado foi um destaque constante, garantindo vitórias cruciais, como a contra o Fluminense, onde suas intervenções seguras foram fundamentais. O clássico contra o Vasco, no primeiro turno, foi decisivo; sob pressão, Amado fez defesas espetaculares, enquanto Moderato, recém-operado de apendicite, e Vadinho brilharam no ataque. A vitória consolidou a força simbólica da camisa rubro-negra, lembrada por Mário Filho como a origem da “mística”.

Na reta final do torneio, o Flamengo venceu novamente o Vasco, desta vez em São Januário, e dependia apenas de si na última rodada contra o América. Amado, mais uma vez, foi seguro, e o time confirmou a conquista estadual. Ele se tornou um símbolo daquela campanha, associado à solidez defensiva e ao espírito de superação do clube.

Morte Trágica e Legado

Amado Benigno faleceu em 10 de setembro de 1965, aos 60 anos, após um trágico acidente em seu apartamento em Copacabana. Sua morte encerrou a vida de um personagem que deixou uma marca indelével tanto no esporte quanto na medicina. Com 123 partidas oficiais pelo Flamengo, ele permanece como o 15º goleiro com mais jogos na história do clube, sendo lembrado como herói do bicampeonato estadual e como um símbolo de uma era em que futebol e paixão se entrelaçavam.

Fonte: Redação Netfla
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