100 anos: Inter x Vasco e Flamengo x Atlético-MG já fizeram finais de Brasileirão contadas pelo GLOBO; relembre

Dois jogos, dois clássicos interestaduais e duas histórias completamente diferentes. Na semana em que completa 100 anos, o GLOBO resgata duelos históricos entre Internacional x Vasco e Flamengo x Atlético-MG, que compõem a 17ª rodada do Brasileirão 2025. Partidas que já foram finais do torneio nacional pouco depois do cinquentenário do jornal. A partir daqui, você mergulha em como o GLOBO cobriu as decisões dos Campeonatos Brasileiros de 1979 e 1980, que tiveram desfechos de tristeza e felicidade, respectivamente, para as duas maiores torcidas do futebol carioca — e que interseccionaram momentos importantes da história do país e do mundo nas nossas páginas.

A véspera de Natal dos vascaínos que leram o GLOBO em 1979 foi amarga. Na capa da edição daquele dia 24 de dezembro — entre chamadas para matérias sobre a Revolução Iraniana, a possibilidade de eleições diretas em 1982 e até a presença de um elefante de circo em meio a um congestionamento em Mesquita — estava a segunda derrota do cruz-maltino na final do Campeonato Brasileiro daquele ano, que contou com 94 clubes na disputa: 2 a 1 para o Internacional, resultado que decretou o terceiro título nacional do colorado em cinco anos — o clube já havia vencido em 1975 e 1976.

A capa do GLOBO de 24 de dezembro de 1979 — Foto: Acervo O GLOBO
A capa do GLOBO de 24 de dezembro de 1979 — Foto: Acervo O GLOBO


“Na final, a vitória do Inter, campeão pela 3ª vez”, destacava a primeira página da edição, que, além do noticiário do dia, abordava a noite de Natal que viria. O suplemento esportivo chamava atenção para a sólida defesa gaúcha e a eficiência do setor ofensivo. A partida, disputada no Beira-Rio, teve gols de Jair e Paulo Roberto Falcão para os colorados, com Wilsinho descontando para o Vasco.

A segunda partida, no Beira-Rio, na antevéspera de Natal — Foto: Arquivo / Agência O Globo
A segunda partida, no Beira-Rio, na antevéspera de Natal — Foto: Arquivo / Agência O Globo

"Sem criatividade e combatividade no meio-campo e limitado no ataque às jogadas criadas por Roberto", descreveu a capa do suplemento sobre o jogo cruz-maltino. Roberto era Roberto Dinamite, principal nome da equipe comandada por Otto Glória, que tinha também Emerson Leão e Orlando Lelé entre seus nomes mais conhecidos. "Para o Vasco resta apenas o consolo da certeza de participação na Taça Libertadores", dizia outro trecho da reportagem. Inter e Vasco ficaram com as duas vagas para a competição internacional do ano seguinte.

O Vasco, campeão brasileiro em 1974, buscava o segundo título de sua história e teve essa oportunidade naquela mesma década. Mas tudo ficou mais difícil após a derrota por 2 a 0 quatro dias antes, no jogo de ida, no Maracanã, com dois gols de Chico Spina — resultado que reduziu o escopo e o ânimo da cobertura, já que o Inter ainda tinha a vantagem do empate.

Roberto Dinamite, no Maracanã, após a primeira derrota do Vasco na final de 1979 — Foto: Anibal Philot / Agência O Globo
Roberto Dinamite, no Maracanã, após a primeira derrota do Vasco na final de 1979 — Foto: Anibal Philot / Agência O Globo

Naquela partida, o fotógrafo do GLOBO Aníbal Philot, morto em 1996, fez uma das fotos mais icônicas de Roberto: a que ele segura uma das bolas da partida ao lado do rosto.

Roberto Dinamite, no Maracanã, na final do Brasileirão de 1979 — Foto: Anibal Philot / Agência O Globo
Roberto Dinamite, no Maracanã, na final do Brasileirão de 1979 — Foto: Anibal Philot / Agência O Globo

Na época, as páginas do GLOBO tinham atenção a especial a temas como turfe e até resultados da Loteria Esportiva. Nas capas daquele mês de dezembro, o futebol dividia espaço com o intenso noticiário internacional e com a cobertura tradicional das festas de fim de ano.

A edição do dia 21, após o primeiro jogo, teve bom destaque para o desafio que o Vasco enfrentaria. Ao lado de grande chamada para reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), e de uma chacina em Magé, o jornal destacava que o Vasco precisaria vencer por três gols em Porto Alegre.

"Derrotado pelo Internacional por 2 a 0 no Maracanã, o Vasco viu fugir praticamente a possibilidade de conquistar o Campeonato Brasileiro de 1979. O Inter, que necessitava de dois empates para conquistar o título, adotou tática defensiva e procurou explorar os contra-ataques", dizia a chamada.

Para chegar àquela decisão, o cruz-maltino eliminou o Coritiba na semifinal, com show de Dinamite no segundo jogo, no Maracanã. O artilheiro deu o passe para Paulinho marcar o primeiro e fez o segundo no 2 a 1 sobre os paranaenses. O GLOBO estampou as fotos do triunfo vascaíno em boa parte da capa da edição do dia 17 e de seu caderno esportivo, no qual também noticiou a classificação do Inter após empate com o Palmeiras na outra semifinal. "A final do Campeonato Brasileiro será disputada pela primeira vez entre o futebol carioca e o gaúcho", destacou.

Vasco e Internacional fariam a final do Brasileirão de 1979 — Foto: Acervo O GLOBO
Vasco e Internacional fariam a final do Brasileirão de 1979 — Foto: Acervo O GLOBO

A primeira conquista do Flamengo

A capa do GLOBO no dia 2 de junho de 1980, preenchida em mais da metade com fotos e textos exaltando o jogo realizado no Maracanã no dia anterior, não deixa dúvidas: “Flamengo, campeão do Brasil”. O primeiro título do rubro-negro no Campeonato Nacional veio após uma final contra o Atlético-MG marcada por provocações e tensão, e terminou com um gol de Nunes que descompassou o Rio de Janeiro naquela noite.

A capa do GLOBO de 2 de junho de 1980 — Foto: Arquivo O Globo
A capa do GLOBO de 2 de junho de 1980 — Foto: Arquivo O Globo

A cobertura do jornal na semana daquelas duas partidas começou para valer na terça-feira, dia 27 de maio, pois o caderno de Esportes da segunda falava mais sobre as classificações de cariocas e mineiros contra Coritiba e Internacional, respectivamente. A partir dali, ganhou destaque uma rivalidade interestadual que já florescia.

O grande personagem era Zico, que virou dúvida imediata após a semifinal, ao machucar a coxa esquerda. Desfalque certo para o jogo no Mineirão, no dia 28 — no qual o Flamengo perdeu por 1 a 0 —, havia grande expectativa por sua presença no domingo seguinte. O camisa 10 não apenas se recuperou, como ainda teve seu contrato renovado, com direito a foto em destaque na capa da edição de sábado, dia 31.

Zico se recupera em casa para final do Brasileirão de 1980 — Foto: Sebastião Marinho / Agência O Globo
Zico se recupera em casa para final do Brasileirão de 1980 — Foto: Sebastião Marinho / Agência O Globo

A cobertura teve bom humor, com provocações feitas por atletas como o goleiro Raul e o atacante Reinaldo — algo pouco usual hoje em dia. “Não estou nem um pouco preocupado. O Atlético é meu velho freguês”, dizia o goleiro, relembrando a rivalidade dos tempos de Cruzeiro. No dia seguinte, uma charge provocava os atleticanos por estarem com medo de Zico e “sonhando” com ele. No dia 30, a capa do jornal trazia a informação de que “o Flamengo já encomendou medalhas, faixas e chope”.

Raul, goleiro do Flameng, provoca Atlético-MG antes da final do Brasileirão de 1980 — Foto: Arquivo O Globo
Raul, goleiro do Flameng, provoca Atlético-MG antes da final do Brasileirão de 1980 — Foto: Arquivo O Globo

Da mesma forma, havia um clima de preocupação no ar, principalmente sobre um possível enfrentamento das duas torcidas no Mineirão. Mais de 70 ônibus saíram do Rio de Janeiro para Belo Horizonte, em caravanas que foram divulgadas pelo próprio GLOBO à época. Apesar de não haver conflito, o jornal relatou muita confusão para compra de ingressos nas duas partidas, assim como denúncias de cambismo.

Torcida do Flamengo faz confusão na fila da bilheteria do Maracanã, para comprar ingressos para a final do Brasileirão de 1980 — Foto: Athayde dos Santos / Agência O Globo
Torcida do Flamengo faz confusão na fila da bilheteria do Maracanã, para comprar ingressos para a final do Brasileirão de 1980 — Foto: Athayde dos Santos / Agência O Globo

Os conteúdos daquela semana também se diferenciavam por oferecer amplo acesso aos jogadores e demais personagens do futebol, que concediam entrevistas projetando os jogos. Entre eles estavam Zico, Palhinha, Paulo Cesar Carpegiani, Dario e até o treinador da seleção brasileira, Telê Santana.

Um episódio que chamou a atenção foi a fratura na mandíbula do zagueiro Rondinelli, após choque com Palhinha no jogo de ida. No dia 30, o GLOBO trouxe versões dos dois jogadores. Enquanto o atleticano alegou "choque acidental", o rubro-negro, que foi desfalque no jogo decisivo, o acusou de "soco desleal".

Rondinelli e Palhinha dão versões sobre lance que terminou em fratura na mandíbula do zagueiro do Flamengo — Foto: Arquivo O Globo
Rondinelli e Palhinha dão versões sobre lance que terminou em fratura na mandíbula do zagueiro do Flamengo — Foto: Arquivo O Globo

À época, as páginas traziam, além da crônica de jogo, notas e atuações de todos os jogadores, reportagens de vestiário e até análise do juiz. Três correspondentes foram ao Mineirão: Mario Jorge Guimarães, Renato Maurício Prado e Sebastião Marinho. No dia 1º, após uma edição de domingo com três páginas de apresentação, o Flamengo venceu por 3 a 2 e se sagrou campeão brasileiro. A vitória bastava ao rubro-negro, e Nunes marcou o gol do título na reta final do segundo tempo.

Nunes comemora gol que deu título brasileiro ao Flamengo em 1980 — Foto: Agência/O Globo
Nunes comemora gol que deu título brasileiro ao Flamengo em 1980 — Foto: Agência/O Globo

No dia seguinte, o jornal trouxe, claro, o pôster de campeão, além de toda a festa da torcida “do Maracanã à Gávea”, com direito ao carro de Zico sendo bloqueado por torcedores na saída do estádio e à previsão do título mundial — que realmente veio para o rubro-negro no ano seguinte. Do lado atleticano, restaram frustração e acusações de Reinaldo sobre um “roubo”.

Carro de Zico é parado por torcedores após título do Flamengo no Brasileirão de 1980 — Foto: Arquivo / Agência O Globo
Carro de Zico é parado por torcedores após título do Flamengo no Brasileirão de 1980 — Foto: Arquivo / Agência O Globo
Pôster original do Flamengo campeão brasileiro em 1980 — Foto: Anibal Philot / Agência O Globo
Pôster original do Flamengo campeão brasileiro em 1980 — Foto: Anibal Philot / Agência O Globo

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Fonte: O Globo
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