No último domingo (7), o Flamengo perdeu um de seus grandes líderes. Antônio Augusto Dunshee de Abranches, que presidiu o clube durante a memorável era de 1981, faleceu aos 88 anos em decorrência do mal de Alzheimer. O anúncio de sua morte gerou uma onda de homenagens, destacando a importância de sua gestão na história rubro-negra.
Zico presta homenagem ao ex-presidente
Zico, o maior ídolo da história do Flamengo, não deixou de se manifestar. Em suas redes sociais, ele escreveu: "Hoje Deus levou um grande ex-presidente do Flamengo. Que ele descanse em paz e Deus conforte os familiares. Tive problemas pessoais com ele, mas reconheço a importância dele para nossa geração." A declaração reflete a complexidade da relação entre o ídolo e o presidente, marcada por momentos de glória e tensão.
A Era Dunshee: Conquistas e Controvérsias
A gestão de Dunshee de Abranches, que se estendeu de 1981 a 1983, é frequentemente lembrada como a fase mais vitoriosa do Flamengo. Sob sua liderança, o clube conquistou o Campeonato Carioca, a Libertadores e o Mundial em 1981, além dos Campeonatos Brasileiros de 1982 e 1983. Contudo, sua administração também foi marcada por uma crise significativa, que culminou na polêmica venda de Zico para a Udinese, resultando em sua renúncia.
A relação entre Dunshee e Zico: Um início promissor
A relação entre Dunshee e Zico começou de forma promissora. No início de seu mandato, Dunshee enfrentou a crucial tarefa de renovar o contrato do Galinho, que, aos 28 anos, era cobiçado por clubes europeus, incluindo o Barcelona. A negociação foi tensa, mas o presidente mostrou determinação. Para garantir a permanência de Zico, Dunshee buscou uma solução inovadora, fechando uma parceria com a Coca-Cola, que não apenas viabilizou o pagamento de 50 milhões de cruzeiros em luvas, mas também resultou em um contrato publicitário para o craque. Essa estratégia se mostrou acertada, pois Zico permaneceu no clube e ajudou a conquistar o título mundial em Tóquio, com uma vitória histórica sobre o Liverpool.
A crise e a venda de Zico: Um divisor de águas
Entretanto, a relação entre Dunshee e Zico se deteriorou em junho de 1983, quando o ídolo foi vendido para a Udinese por US$ 4 milhões. A decisão gerou revolta entre os torcedores, que invadiram a sede do clube em protesto. A diretoria justificou a venda pelo alto valor da proposta e o risco de perder Zico ao final do contrato, mas a condução do processo foi desastrosa. O presidente, em um impasse, condicionou a assinatura da venda à declaração pública de Zico sobre seu desejo de sair, enquanto o craque insistia que só se manifestaria se o Flamengo afirmasse não ter condições de mantê-lo.
O símbolo da crise: A imagem que ficou marcada
O episódio se tornou um símbolo da crise, especialmente após a publicação de uma sequência de fotos na capa de O Globo, onde Dunshee aparecia sorrindo e, em outra imagem, simulava chorar sobre a camisa 10 de Zico. Essa cena foi interpretada pela torcida como um gesto de cinismo, que nunca foi perdoado. Zico, em entrevista ao Globo Esporte em 2023, comentou: "Ele era uma pessoa muitas vezes irônica, então a questão da camisa foi algo desnecessário. Mas o respeito ao presidente do Flamengo sempre existiu. Não foi o problema da venda, mas o gesto."
O fim de uma era: A renúncia de Dunshee
A pressão sobre Dunshee se tornou insustentável. Após uma derrota por 3 a 0 para o Botafogo, ele foi hostilizado no vestiário e, escoltado pela polícia, deixou o Maracanã para anunciar sua renúncia, quatro meses antes do término de seu mandato. A trajetória de Dunshee de Abranches no Flamengo é um retrato de conquistas e desafios, que moldaram a história do clube e deixaram um legado que será lembrado por gerações.