Zé Ricardo ganha casca com pressão e críticas: "Bagagem para o futuro"

Zé Ricardo Flamengo (Foto: Rodrigo Coca/Divulgação) Zé Ricardo no dia 29 de maio, na sua estreia diante da Ponte Preta (Foto: Rodrigo Coca/Divulgação)

Zé Ricardo completou nesta sexta-feira três meses do primeiro dia de trabalho frente à equipe profissional do Flamengo. Claro, há o que comemorar. A equipe faz campanha consistente e está em terceiro lugar no Brasileiro a apenas três pontos da liderança. Mas ele sabe que é apenas o início. O sinal disso é que ainda não se acostumou à pressão e às críticas, seja de torcedores, imprensa e outros personagens que compõem o ambiente do futebol. O exemplo recente foi a derrota por 4 a 2 para o Figueirense, na última quarta-feira, pela Copa Sul-Americana. Neste sábado, contra a Chapecoense, ele fecha, de forma simbólica, um turno do Brasileirão pelo Rubro-Negro, já que na rodada seguinte o compromisso será contra a Ponte Preta, que foi seu adversário de estreia, em 29 de maio.

Primeiro interino, agora efetivado, Zé Ricardo ainda experimenta novidades em diferentes aspectos dessa experiência. Isso inclui críticas, elogios e o fato de lidar com atletas profissionais, muitos já consagrados, e não mais com jovens das categorias de base, em formação. No bate-papo com o GloboEsporte.com, o treinador admitiu que o fato de iniciar a carreira num clube grande como o Flamengo também ajuda a compor esse mundo onde tudo ganha uma nova e grande dimensão.

- Tenho que ganhar experiência o quanto antes. Tudo isso está me servindo de bagagem para o futuro, e espero ter tranquilidade para seguir com o trabalho - disse.

Confira a entrevista:

Números de Zé no Fla:

18 jogos
9 vitórias
3 empates
6 derrotas

GloboEsporte.com – Em apenas três meses como treinador profissional, já conseguiu se acostumar à pressão e às críticas?

Zé Ricardo - É do ser humano sentir as críticas. Sabemos que muitas delas são para ajudar, mas outras são de forma gratuita e incomodam um pouco. É um exercício. A gente sabe da grandeza do Flamengo, da multidão que é alcançada em cada jogo, e a gente sabe que não vai agradar a todos. Procuro estar um pouco alheio para não ficar incomodado, mas sou ser humano, e algumas vezes incomoda, sim.

Acredita que o fato de ainda não ter se acostumado tem a ver com ter iniciado a carreira profissional logo num clube do tamanho do Flamengo?

Não é algo normal. São poucos os exemplos, aqui e até fora do Brasil, de um treinador que começa a carreira profissional num clube da dimensão do Flamengo. Já que apareceu a oportunidade, tenho que ganhar experiência o quanto antes. Isso tudo está me servindo de bagagem para o futuro, e espero ter tranquilidade para seguir com o trabalho.

A derrota para o Figueirense, na última quarta-feira, e as críticas por poupar muitos jogadores, serviram também para você como parte do aprendizado?

O mais importante para mim é que os jogadores estão comprando a ideia do trabalho da comissão, e isso facilita essa adaptação. Mas tem que estar pronto sempre. O futebol ainda é muito condicionado a resultados. É uma prática do futebol brasileiro e até mundial, mas aqui no Brasil é mais evidente. Toda a carreira que você construiu não importa, mas sim o resultado que aconteceu e se aquilo que você pensou não deu certo.

Essas críticas não mudaram suas convicções?

Foi uma sequência de vacilos nossos. Taticamente não fomos bem, mas foi muito mais a parte individual que na questão técnica acabou fazendo uma diferença. Erramos bastante, e custou o jogo. O desafio contra o Figueirense ainda está aberto, mas foi um resultado que não esperávamos, até porque muitos já vinham jogando, e todos têm condição técnica para atuar. Uma hora teríamos que colocá-los para jogar porque nosso objetivo é seguir longe nas duas competições. Lá na frente, com o Brasileiro e a Sul-Americana, vamos ter viagens, desgaste e temos que pensar no grupo. Não adianta chegar numa semifinal de um torneio que vale vaga na Libertadores e colocar um cara para jogar pela primeira vez. Pensamos dessa forma, mas a torcida só quer vitória. Quando o empate vem já não está legal, e quando vem a derrota, então... Só que são 20 equipes no Brasileiro. Uma ganha, outra perde e outra empata. É difícil, mas isso está servindo de aprendizado para mim, com certeza.

Há muita diferença em lidar com um elenco de jovens e formação e outro com atletas experientes e com passagens pela Seleção?

Não tenho dúvida disso. Mas aos poucos as relações vão ficando mais estreitas, intensas. Eles vão me reconhecendo, e vou conhecendo a maneira de ser de cada um. Faz parte do aprendizado do treinador, porque também é preciso administrar as vaidades, os egos. Isso acontece porque de certo modo todos somos vaidosos com uma coisa o outra. Mas de forma geral não tenho nada do que reclamar desse grupo. Em três meses não tive problema com ninguém, seja aquele que está jogando mais ou com o que não está jogando tanto. Todos entendem o momento. O principal é você mostrar sinceridade no que fala e sentido de justiça, porque se for diferente disso o atleta acaba se abalando. Então, de forma clara estamos sabendo levar.

Fonte: Globo Esporte