Três decisões e três significados diferentes para Botafogo, Flamengo e Fluminense na Libertadores

A partir de amanhã, Fluminense, Botafogo e Flamengo tentam ampliar um recorde: se já era inédito ter três times de uma mesma cidade nas quartas de final da Libertadores, desnecessário dizer que tal fato jamais aconteceu nas semifinais. O curioso é que, se o objetivo é o mesmo, o sabor da classificação será muito diferente para cada clube.

Para o Botafogo, melhor time do país no momento, a vaga significa a chance de seguir na direção de uma temporada de sonhos, com as duas principais taças em disputa. No sábado, não exibiu sua melhor versão, o que até era natural num clássico em que poupou meio time. Ainda assim, teve as melhores chances em um jogo equilibrado, além do mérito de competir até o fim: aos 50 minutos do segundo tempo, cinco alvinegros aparecem pressionando a saída de bola do Fluminense e induzindo Felipe Melo ao erro.

Este Botafogo de padrões ofensivos muito definidos, dono de repertório e de ótima capacidade física manteve os três pontos de vantagem em relação ao Palmeiras. No sábado, mostrou que qualquer time do Brasil pode sentir os efeitos de disputar jogos decisivos a cada três dias. A ausência de Almada tirou do time o jogador mais criativo nos últimos metros, enquanto Tiquinho, em busca do reencontro com a melhor forma, não tem o ataque em profundidade e a boa pressão de Igor Jesus nos zagueiros rivais. Ainda assim, o altíssimo investimento permite poupar titulares e montar um time forte.

Se para os alvinegros a Libertadores pode ser a consagração em um ano de redenção, o Fluminense se vê entre a sensação do êxtase revivido e a da distração. A Libertadores é, neste 2024, o terreno em que se pode lutar pela glória, e não para evitar o desastre. O bicampeonato sul-americano seria um feito imenso, mas tal história seria escrita de forma amarga em caso de rebaixamento no Brasileiro: cair traria um impacto talvez mais potente do que a reconquista da América. Em noites como a da vitória nos pênaltis sobre o Grêmio, o Maracanã pulsou e o tricolor reencontrou a felicidade. Mas a tabela do Brasileiro insiste em fazer parecer que aquela não é a maior urgência.

O fim de semana trouxe notícias ruins para o Fluminense, como se o gol sofrido nos acréscimos no Maracanã não fosse amargo o bastante. No sábado, o Vitória venceu seu jogo, o Corinthians confirmou que as contratações o fizeram crescer de rendimento e não jogar mais como um provável rebaixado e, no domingo, Grêmio, Criciúma e Athletico-PR pontuaram. O Fluminense melhorou ao longo do ano, basta comparar os dois duelos com o Botafogo para notar. Mas se ver novamente na zona de rebaixamento com 13 jogos por disputar reabre preocupações que o recente crescimento do tricolor parecia ter dissipado.

Para o Flamengo, a Libertadores virou salvação do ano. É a única taça capaz de fazer o tão promissor 2024 ser lembrado com simpatia. Do status do elenco ao nível de receita do clube, não seria a Copa do Brasil capaz de restaurar a imagem da temporada rubro-negra.

Antes mesmo de entrar em campo no domingo, em Porto Alegre, o Flamengo terminou de assumir algo que já se insinuava: as copas são o alvo. A decisão de deixar 12 jogadores no Rio pode ter tirado peso da derrota para o Grêmio, que encerrou de vez qualquer ambição no Brasileiro, mas ampliou a carga posta na decisão de Montevidéu. Discordar que atletas precisam descansar no insano calendário brasileiro é negacionismo, é desconhecer a ciência. O debate é sobre a forma. O desgaste pareceu se apresentar ao Flamengo sempre em jogos do Brasileiro: o torneio mais nobre do calendário nacional foi sistematicamente o mais sacrificado nas escalações.

Consagração, alívio ou salvação: os cariocas mostram como uma só taça pode ter tantos significados distintos.

VASCO SEM SAÍDA

O Vasco é, obviamente, um time melhor hoje do que no início da temporada. Mas vinha tendo resultados melhores do que as atuações. Contra o forte Palmeiras, sofreu com os encaixes de marcação e acumulou erros de saída de bola, inclusive no gol de Lopez. Coutinho melhorou este aspecto no segundo tempo, buscando a bola perto dos volantes, mas ainda tenta alcançar sua melhor forma. Payet vive momento físico e técnico abaixo do que já exibiu.

Payet e Coutinho em treino do Vasco — Foto: Leandro Amorim/Vasco
Payet e Coutinho em treino do Vasco — Foto: Leandro Amorim/Vasco

JOVENS DO FLAMENGO

No dia em que oficializou que sua relação com o Brasileirão será protocolar, o Flamengo viu jovens como Matheus Gonçalves terem boa atuação na derrota previsível em Porto Alegre. Ao longo da temporada, eles tiveram presença tímida no time. Difícil dizer se a comissão técnica não os desenvolveu, ou se eles não deram, nos treinos, motivos para merecerem espaço. Sem a afirmação de jovens, formar times vencedores será sempre mais caro.

Matheus Gonçalves comemora seu gol pelo Flamengo sobre o Grêmio — Foto: Marcelo Cortes/Flamengo
Matheus Gonçalves comemora seu gol pelo Flamengo sobre o Grêmio — Foto: Marcelo Cortes/Flamengo

FERNANDO DINIZ DE VOLTA

Será fascinante ver Fernando Diniz de volta após o marcante trabalho no Fluminense, em parte acumulado com a breve passagem pela seleção. O Cruzeiro tem jogadores que podem se adaptar ao modelo do treinador, mas a chave será respaldo e estabilidade. A SAF do clube tem como dono alguém com o perfil do antigo dirigente voluntário, e não ajudará em nada se, em breve, surgir um áudio vazado criticando a "saidinha de bola".

Fernando Diniz é o novo técnico do Cruzeiro — Foto: Reprodução/Redes sociais
Fernando Diniz é o novo técnico do Cruzeiro — Foto: Reprodução/Redes sociais
Fonte: O Globo