Vinte e seis garotos estavam no centro de treinamento do Flamengo na madrugada de 8 de fevereiro de 2019, quando um dos alojamentos pegou fogo e fez dez vítimas fatais. Outros três jovens ficaram feridos com gravidade. A vida nunca mais foi a mesma para eles nem para o clube.

Desde então, decisões judiciais, acordos, negociações e até dispensas fizeram parte da rotina do clube e da vida das vítimas que sobreviveram ou das famílias.

Até hoje a investigação conduzida pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro e pela Polícia Civil não foi concluída. A promessa dos promotores é que ainda neste mês o inquérito tenha um desfecho, com apontamento dos culpados e a sugestão das penas a cumprir.

O que aconteceu de mais importante nesses 365 dias da tragédia no Ninho do Urubu até hoje, o fã de esporte pode acompanhar, abaixo, o super resumo da ESPN .

FEVEREIRO

A TRAGÉDIA. Um curto circuito em um aparelho de ar-condicionado provocou um incêndio dentro do alojamento usado pelos garotos da base do Flamengo no Ninho do Urubu, no bairro de Vargem Grande. O fogo começou por volta das 5h do dia 8 e rapidamente se alastrou. Dez garotos morreram queimados: Áthila, 14, Arthur Vinícius, 15, Bernardo, 14, Christian, 15, Gedson, 14, Jorge Eduardo, 15, Pablo Henrique, 14, Rykelmo, 17, Samuel, 15, e Vitor, 15.

FERIDOS. Três garotos foram internados com ferimentos por causa das queimaduras: Cauan Emanuel Gomes Nunes, 14, Francisco Dyogo Bento Alves, 15, e Jhonata Ventura, 15. Este último teve mais de 30% do corpo queimado e aspirou muita fumaça ao tentar ajudar os amigos a escaparem.

SOBREVIVENTES. Ainda naquele dia trágico, outros treze meninos estavam no alojamento e escaparam da morte e sem grandes ferimentos, embora traumatizados. Cinco deles foram dispensados neste ano (leia mais abaixo): Felipe Cardoso, Wendel Alves, João Victor Gasparin, Naydjel Callebe e Caike Duarte Pereira da Sival. Os oito que continuam são Rayan Lucas, Kayque Soares, Pablo Ruan, Gabriel de Castro, Samuel Barbosa, Felipe Chrysman, Kennedy Lucas e Jean Sales.

ALTA E VISITAS. Cauan Emanuel recebeu alta no Hospital Vitória no dia 11 . No mesmo dia, ele e Francisco Dyogo, internado no CTI (Centro de Terapia Intensiva), receberam a visita de William Arão, Diego, Juan, Jajá, Dener, Éverton Ribeiro, Rodolfo, Rodinei, Diego Alves, Nixon, César, Vitinho e Henrique Dourado.

FLAMENGO EM CAMPO. A primeira vez que o Flamengo entrou em campo após a tragédia foi no dia 14 do mês. Foi pela semifinal da Taça Guanabara contra o Fluminense, que acabou vencendo por 1 a 0, no Maracanã. O duelo foi marcado por homenagens aos dez jogadores mortos seis dias antes.

LIBERADO. O goleiro Francisco Dyego recebeu alta médica no Hospital Vitória, no dia 15 , exatamente uma semana após o incêndio no Ninho do Urubu.

MARÇO

1º ACORDO, ÁTHILA. O primeiro acordo firmado pelo Flamengo com uma das famílias das vítimas foi no dia 19 . O clube tratou com um advogado indicado pela família do atacante natural de Largato, interior do Sergipe. Os valores do acerto foram mantidos em sigilo por ambos os lados.

BASE GOLEIA. O primeiro jogo de um time de base do Flamengo após a tragédia foi no dia 14 . Pela Copa do Brasil sub-20, a equipe goleou o Ceilândia-DF por 4 a 0, em Volta Redonda. Nenhum dos 11 titulares estava no alojamento no dia do incêndio, embora Rodrigo Muniz, 17, morasse no local.

VISITAS ILUSTRES. No dia 15, Diego e Juan foram visitar Jhonata no hospital. Levaram uma camisa do Flamengo autografada para o garoto.

Assista à primeira reportagem da série especial com as famílias dos meninos do Ninho:

ABRIL

PAI E MÃE DE RYKELMO. No dia 2 , após uma série de encontros e conversas, o Flamengo fez um acordo com José Lopes Viana, pai do volante de 16 anos. No entanto, o caso está na Justiça porque não houve concordância da mãe Rosana de Souza (os pais são separados). Ela pede indenização de R$ 6,9 milhões.

2º ACORDO, GEDINHO. No dia 8 , o Flamengo chegou a um acordo com a família do atacante Gedson dos Santos, o Gedinho. Quem tratou com o clube foi Claudionor, tio do garoto. Valores e condições foram mantidos em sigilo entre as partes.

ALTA HOSPITALAR. No dia 13 , Jhonata deixou o Hospital Vitória, na Barra da Tijuca, 64 dias hospitalizado (somando o período no Hospital Pedro II). Chegou a ficar em estado grave por aspirar muita fumaça e passou por cirurgias reparadoras e estéticas no período.

MAIO

FIM DOS DEPOIMENTOS. A Polícia Civil ouviu as últimas testemunhas do caso, entre as quais representantes da administração atual e a anterior à tragédia, no dia 4 .

ACORDO COM JHONATA. No dia 6 , o Flamengo formalizou o acordo de indenização com a família de Jhonata. O acordo previa que, caso o jovem não tivesse condição de prosseguir a carreira no futebol, ele seria empregado pelo clube.

VOLTA DA BASE. O Ministério Público do Rio liberou a entrada dos garotos das categorias de base ao Ninho do Urubu em 10 de maio , 91 dias depois da tragédia. A primeira categoria foi a sub-14, com cinco dos 16 sobreviventes do incêndio. Ainda sem a permissão para os atletas pernoitarem.

SOBREVIVENTES NO NINHO. Francisco Dyogo e Cauan Emanuel voltaram a treinar no local no dia 13 . As categorias sub-15, sub-17 e sub-20 também voltaram.

ÚLTIMA CATEGORIA NO NINHO. A última equipe de base a retornar ao Ninho do Urubu para treinos foi a sub-16, algo que aconteceu no dia 14 .

Assista à segunda reportagem da série especial com as famílias dos meninos do Ninho:

JUNHO

RETORNO AO ALOJAMENTO. As categorias sub-14 e sub-17 voltaram a se alojar no Ninho do Urubu no dia 4 do mês. Cinco dias antes, o clube recebeu o alvará definitivo para funcionamento do CT, liberando todas as atividades, incluindo pernoite, alojamento e concentração de atletas da base e do profissional.

INDICIADOS. No dia 11 , o ex-presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello, e outros sete suspeitos (o monitor Marcos Vinicius Medeiros, os engenheiros Marcelo Sá e Luis Felipe Pondé; Danilo da Silva Duarte, Weslley Gimenes e Fábio Hilário da Silva, da empresa de contêineres NHJ, e o técnico em refrigeração Edson Colman da Silva) foram indiciados pela Polícia Civil do Rio por dolo eventual (quando o agente assume o risco da morte).

JULHO

POLÍCIA CIVIL. O Ministério Público do Rio devolveu à Polícia Civil no dia 17 o inquérito do incêndio do Ninho do Urubu com pedido de novas diligências. A avaliação é que as provas coletadas e apresentadas eram insuficientes para o aprofundamento da investigação.

AGOSTO

CONCILIAÇÃO? No dia 12 , uma reunião no Tribunal Regional do Trabalho tentou viabilizar um acordo para o pagamento das indenizações. Àquela altura, o Ministério Público do Trabalho estudava pedir o bloqueio de R$ 100 milhões do clube como garantia, dos quais R$ 57 milhões destinados para as famílias dos mortos.

Assista à terceira reportagem da série especial com as famílias dos meninos do Ninho:

OUTUBRO

3º ACORDO, VITOR ISAÍAS. O Flamengo chegou ao terceiro acordo com uma das famílias das dez vítimas do incêndio no dia 8 . Diante do advogado Eduardo Beil, a diretoria tratou com Josete Isaías, vó do atacante Vitor Isaías. Os valores foram mantidos em sigilo.

INDEFERIDO. A Justiça do Trabalho indeferiu o pedido do Ministério Público do Trabalho pelo bloqueio de R$ 100 milhões do Flamengo, no dia 21 .

NOVEMBRO

CAMPEÃO EM DOSE DUPLA. O ponto alto do Flamengo, esportivamente falando, aconteceu nos dias 23 e 24 desse mês. Foi campeão da Copa Libertadores ao derrotar o River Plate por 2 a 1, de virada, no sábado. No domingo, quando voltava ao Brasil, teve a confirmação do título brasileiro por uma combinação de resultados.

DEZEMBRO

PENSÃO. No dia 5 , o Tribunal de Justiça do Rio determinou ao Flamengo o pagamento de R$ 10 mil para cada uma das 13 famílias (dez mortos e três feridos) até uma determinação definitiva do caso. Até então, o clube pagava R$ 5 mil para cada família.

POLÍCIA CIVIL DE NOVO. O Ministério Público do Rio devolveu para a Polícia Civil, pela segunda vez, o inquérito. No dia 19 , o caso voltou para a 42ª DP, com prazo estipulado de 45 dias, com diligências para intimar a CBF para fornecimento de cópia e informações sobre o certificado de clube formador de atletas de base do futebol e pedido de explicações para a empresa NHJ do Brasil Containers sobre a venda e fornecimento de container para o Flamengo.

JANEIRO

DISPENSAS. No dia 15 , o clube dispensou 27 garotos entre as categorias sub-14 e sub-20 "por critérios técnicos" . Entre eles estavam os meias Caike, 14, e Felipe Cardoso, 16, o lateral direito João Vitor, 15, o zagueiro Naydjel, 15, e o atacante Wendel, 15, todos sobreviventes da tragédia.

VOLTA AOS GRAMADOS. Quartoze dias antes de completar 16 anos, o zagueiro Jhonata voltou ao Ninho do Urubu e deu um passo importante na sua recuperação. Conseguiu dar algumas voltas no gramado de um dos campos, parte do trabalho de reforço muscular e movimentação. Foi no dia 15 .

VASCO. O clube cruzmaltino chegou a convidar os sobreviventes da tragédia dispensados pelo Flamengo para integrar a base, no dia 17 . Eles não aceitaram.

"TIME ASSASSINO". Durante o clássico contra o Fluminense, no dia 29 , alguns torcedores tricolores proferiram gritos de "time assassino" aos jogadores do Flamengo. Além de repercurtir mal, o gesto fez o clube das Laranjeiras ser denunciado no TJD (Tribunal de Justiça Desportiva) por "praticar ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante, relacionado a preconceito em razão de origem étnica, raça, sexo, cor, idade, condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência".

RED BULL. No dia 30 , Felipe Cardoso foi contratado pelo Red Bull, assinando um acordo de três anos. A equipe disputa a Série A-2 do Campeonato Paulista.

FEVEREIRO

VÍDEO. No dia 1º , o Flamengo publicou em suas redes um vídeo em que o presidente Rodolfo Landim, o vice Rodrigo Dunshee e o CEO Reinaldo Belotti respondem algumas perguntas feitas pela FlaTV. O mandatário disse que estava aberto ao dialógo com as famílias, sem ultrapassar o teto definido para as indenizações .

CPI. Landim e Bandeira de Mello foram convocados no dia 7 à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro). Também foram chamados foram mais cinco dirigentes, alguns da antiga gestão, para depor. Eles não se apresentaram .

DE VOLTA AO MP . No dia 7 , a Polícia Civil reencaminhou ao Ministério Público do Rio o inquérito com o depoimento do coronel Antônio Carlos Nunes de Lima, então presidente em exercício da CBF no momento em que a entidade concedeu ao Flamengo o Certificado de Clube Formador, liberando o uso do Ninho do Urubu para a base. Além de uma resposta por escrito da empresa NHJ do Brasil afirmando que tinha liberação para instalar os containeres no CT.