"A camisa do Flamengo está abençoada, e nesse ano vamos ser campeões brasileiros". A frase resume o inimaginável 22 de novembro vivido por Paulo Cesar Junior, um rubro-negro de fé.
Acompanhado da esposa Isabella, foi para a Europa com o objetivo de conhecer o Papa Francisco. Conseguiu muito mais. Diante da Basílica de São Pedro, no Vaticano, aproximou-se do papamóvel, tirou a camisa do Flamengo que vestia e a deu ao pontífice. Foi o grand finale da viagem dos sonhos que planejava há muito tempo ao lado da companheira.
PC deixará o Velho Continente rumo ao Brasil na noite desta quinta-feira sem poder assistir à partida contra o Bragantino, mas voltará com a certeza de que a fé move montanhas e a esperança de que ela pode alavancar o desacreditado Flamengo à conquista de seu eneacampeonato brasileiro.
- Depois que postei o vídeo, as pessoas falaram: "É Flamengo , você vai ver como a torcida rubro-negra vai fazer esse vídeo viralizar". Não tinha essa intenção, nossa visita foi muito pautada na religião. A gente queria ver o Papa e queria ter o máximo de atenção dele. Um olhar ou um aceno já eram suficientes para nós. Queríamos ter uma imagem mais próxima dele demonstrando que ele notou nossa presença. Mas é válido tudo que aconteceu.
- Além de ter nos dado atenção e ter recebido esse presente, tem toda essa fé rubro-negra. Se tiver 1% de chance de ser campeão brasileiro, a gente vai lutar até o fim. Qualquer movimento que seja feito a favor dessa vitória, a gente já leva para 100%. Viemos por um motivo religioso, mas o resultado está sendo muito interessante e está dando uma confiança muito grande para a torcida rubro-negra - afirmou o engenheiro mecânico PC, que aposta em vitória por 2 a 0 do Flamengo sobre o Bragantino.
A viagem de casal e os planos de conhecer o Papa Francisco
PC e Isabella já planejavam a viagem ao Vaticano, sede da Igreja Católica há bastante tempo. Estar com Papa Francisco era um sonho, já que enxergam o argentino de 86 anos como uma figura especial e muito dedicado à questão humanitária.
Sem a companhia das três filhas por se tratar de uma viagem de casal, os dois chegaram a Paris em 11 de novembro e passaram por Suíça e Milão antes de desembarcarem em Roma, na última segunda-feira.
A ida ao Vaticano estava prevista para o penúltimo dia na Europa e, para participarem da Audiência Papal, evento semanal realizado às quartas-feiras, teriam de contar com a sorte. Era necessário enviar um e-mail com meses de antecedência. Isabella o fez e recebeu a esperada confirmação no início de novembro.
A Audiência Papal é realizada no período da manhã e tem duração de pouco mais de uma hora. Além de passar uma mensagem - a do dia 22 foi de "alegria para todos" - , o Papa Francisco dá duas voltas na Praça de São Pedro dentro do papamóvel - uma antes e outra depois do evento -, pega crianças no colo e abençoa a todos os presentes ao evento, incluindo itens que as pessoas levam.
O-email com o aviso de que poderiam pegar os ingressos na chegou na última terça-feira e foi muito de muita comemoração e emoção.
A(s) camisa(s)
Como a Audiência Papal é muito concorrida, PC deixou o Brasil sem saber se aproximaria ou não do Papa. Rubro-negro apaixonado por influência do pai e do irmão André, o engenheiro de 37 anos não se permite viajar sem sua "segunda pele". Levou quatro camisas do clube de coração na bagagem para visitar estádios como o Parc des Princes, do PSG, e o San Siro, compartilhado por Milan e Inter. A ideia do presente ainda não havia nascido.
Porém, já de olho na remota chance de chegar pertinho de Francisco, pensou no vermelho e preto do Flamengo também como um chamariz capaz de reter a atenção de um argentino que ama futebol e é apaixonado pelo San Lorenzo.
A bênção e o presente: "Vamos ser campeões"
Com os ingressos em mãos e animadíssimos, PC e Isabella acordaram às 4h30 (horário local), chegaram ao Vaticano pouco antes das 6h e tomaram seus assentos às 7h30 . Conseguiram ficar na segunda fila. Fazia frio, e o rubro-negro foi com duas camisas, uma preta de manga longa por baixo e a do Flamengo à mostra.
Para encerrar a cerimônia, o Papa Francisco fez a bênção final, momento no qual os fiéis exibiam objetos na direção do palco onde o religioso estava sentado na intenção de que estes fossem abençoados.
- Disse à Isabella: "Eu vou com a camisa do Flamengo , esse papa gosta de futebol". A gente vai estar lá na frente, ele vai ver a camisa do Flamengo e vai vir falar com a gente. Não me liguei com a história do papamóvel. "Imagina se ele tocar na camisa do Flamengo , ela vai ficar abençoada". Estava frio, fui com a camisa do Flamengo e botei uma camisa preta de manga comprida por baixo.
- Na hora da bênção final, eles perguntaram se tínhamos alguns objetos que gostaríamos abençoar (os itens eram devolvidos na sequência). Tirei a camisa do Flamengo e a botei junto com alguns objetos que compramos para presentearmos amigos próximos. Ele fez a bênção final e falei: "Cara, a camisa do Flamengo está abençoada, e nesse ano vamos ser campeões brasileiros".
Abençoada, a camisa teria um novo dono e não voltaria ao Brasil
Ditas as últimas palavras, Francisco, que já dera uma volta no papamóvel logo no início do evento, retornou ao veículo para se despedir dos presentes. Alguns já deixavam o local, e aí nasceu a oportunidade para o torcedor do Flamengo .
PC já estava muito feliz por ter conseguido abençoar algumas lembranças que levaria a amigos e em especial a camisa do Flamengo que vestia, mas, de supetão, entendeu que aquele uniforme merecia ter um novo dono.
O rubro-negro de fé foi além e, aos 45 minutos do segundo tempo, revelou o plano mirabolante à vascaína Isabella, que recusou-se a acreditar.
- Acho que ela não levou a sério. Falei: "Você está filmando aí, amor? Vou dar essa camisa para o Papa". Ela respondeu: "Que isso!". Aí o Papa entrou no papamóvel, quando ele começou a descer, eu peguei a camisa e levantei. Foi uma decisão ali, cara. É Deus. Deus falou: "Faz isso, cara, que vai dar certo".
Para a camisa chegar do Flamengo chegar às mãos de Francisco, PC não apenas a exibiu, mas também recorreu ao "portunhol" e gritou.
- Quando ele estava vindo, eu dei uma arranhada no portunhol: "Ei, Papa Francisco, un regalo (um presente)! Ele pediu para alguém pegar, e a emoção foi total. Só de ver o Papa Francisco foi muito emocionante, mas saber que ele recebeu um presente meu, e sendo a camisa do Flamengo , foi muito mais do que emocionante. Só de tocar na camisa do Flamengo ele já está abençoado a toda a nação rubro-negra.
Exemplos que reforçam a fé rubro-negra
As primeiras lembranças como rubro-negro vêm de 1992, quando tinha 5 anos e assistia ao pai implicar com amigos botafoguenses às vésperas de o Flamengo conquistar o pentacampeonato brasileiro em cima do rival, título que veio após uma arrancada na primeira fase. Mas é outra reviravolta flamenguista que faz o torcedor acreditar no enea.
- Está difícil de a gente acreditar nisso porque o Flamengo está dando mole em algumas rodadas, mas é possível, sim. A gente viu em 2009 como é que foi. Na penúltima rodada, tomou a liderança. Nesse ano não vai ser diferente. Eu estou com fé, principalmente agora, de que nesse ano o Flamengo ainda consegue. Faltam poucos jogos, mas a gente vai conseguir. Com a bênção do Papa Francisco, a gente chega lá
Com fé no Papa Francisco, em Tite e no Mengo, PC recorreu a um revisitado famoso "poeta rubro-negro" para se permitir a enxergar uma taça de campeão no fim do ano.
- A gente sabe como é o Flamengo em reta final. Lembro bem daquela frase do Ronaldinho: "Estão deixando a gente sonhar".
Mas PC não precisa de Ronaldinho Gaúcho ou da arrancada comandada por Petkovic e pelo Imperador para acreditar. A própria história e o inesquecível 22 de novembro mostram que é possível sonhar e realizar. E, rubro-negro, vamos combinar: não custa nada.
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