Quem olha só a festa no Maracanã após a goleada do Flamengo sobre o Bolívar por 4 a 0 nem imagina que o clima estava tenso antes de a bola rolar. As duas derrotas nos últimos dois jogos da Libertadores haviam deixado o Rubro-Negro em situação delicada no torneio. Embora os outros resultados do grupo ajudassem, de nada adiantaria se o time de Tite não fizesse o seu dever de casa diante do líder e invicto Bolívar na noite de quarta-feira.
Era um clima de final, e os rubro-negros fizeram a sua parte enchendo o estádio com 63.169 torcedores presentes (59.424 pagantes), recorde de público dos clubes brasileiros na Libertadores 2024 . E antes de a bola rolar, o recado veio das arquibancadas: o grito de "queremos raça, queremos raça" ecoou no Maracanã entre uma música e outra.
Porém, a tensão não durou um minuto. O gol de Gerson aos 56 segundos fez o Maracanã explodir e os rubro-negros "arquivarem" o tom de cobrança. O mesmo não podia se dizer em relação a Tite. O técnico vinha sendo alvo de críticas de parte da torcida, e leves vaias foram ouvidas quando ele apareceu no telão do estádio, durante o anúncio da escalação.
O gol relâmpago facilitou a jornada do Flamengo , mas não tirou a tensão dos ombros de Tite, que comemorou de forma tímida indo até o banco e abraçando os membros de sua comissão técnica e os jogadores reservas. Sua concentração era tamanha que ele nem esboçou reação no chute de Arrascaeta que passou pertinho da trave e arrancou o "uh" da torcida. Tanto no ataque quanto na defesa. Na melhor chance do Bolívar no jogo, no chute na trave de Patito Rodríguez, o treinador ficou imóvel e colocou só as mãos na cintura ao observar o lance capital.
Em vários momentos, Tite chamava o filho Matheus Bachi e Cleber Xavier, seus auxiliares técnicos, para conversar. E passava orientações aos jogadores mais próximos dele em campo: Cebolinha, Ayrton Lucas e Léo Pereira. Chegou a gritar para o time avançar. Com o Bolívar marcando alto, ele não queria que o Flamengo saísse jogando e preferia as bolas longas.
Um a zero, torcida fazendo festa, enquanto o técnico não escondia o nervosismo em alguns momentos. Em uma boa trama ofensiva aos 30 minutos, Tite levantou o braço indicando Varela livre na direita. Arrascaeta viu e fez o passe, mas o lateral errou o cruzamento, para irritação do comandante, como ficou claro em sua reação corporal. Também foi evidente sua incredulidade quando o árbitro não deu uma falta clara em De la Cruz, que teve o calção puxado.
Os torcedores que ainda estavam um pouco preocupados se aliviaram de vez quando Ayrton Lucas fez o segundo gol do Flamengo , aos 37 minutos. Não funcionou para Tite, que reagiu da mesma forma do primeiro e logo chamou Fabrício Bruno à beira do campo para passar instruções. Mas aos poucos a tensão foi caindo, e enfim o treinador conseguiu vibrar no terceiro gol.
Quando Cebolinha estufou a rede aos 42 minutos, o técnico cerrou os punhos e comemorou para valer. E foi em dose dupla. Como houve dúvida se Pedro estava ou não impedido, teve revisão do VAR. Após a confirmação do gol, Tite vibrou de novo, como se fosse o quarto. E logo depois foi para o vestiário certamente mais aliviado no intervalo.
Na etapa final, o técnico manteve as orientações para a defesa jogar mais avançada e também instruia a todo instante os atacantes a pressionarem as saídas de bola do Bolívar. Tite chamava os seus jogadores, apontava com os dois dedos para os seus olhos e em seguida fazia sinal de "abafa" com as duas mãos. Talvez por estar focado nisso ele nem comemorou o quarto gol, marcado por Pedro aos 10 minutos.
Depois disso, Tite passou a conviver com a pressão para a entrada de Gabigol. A torcida começou a cantar: "Ôô, êê, coloca o Gabigol nessa p...". O técnico atendeu aos pedidos e chamou o atacante junto de Lorran e Luiz Araújo. Ansioso, o ídolo saiu correndo e chegou primeiro ao banco de reservas para se trocar, enquanto ouvia dos rubro-negros: "ô, o Gabigol voltou". Porém, ainda não foi dessa vez que o camisa 10, ainda sem ritmo após voltar de suspensão, fez as pazes com a rede.
Dos cinco jogadores substituídos, De la Cruz foi quem ganhou o maior afago do técnico. Após sair ovacionado pela torcida, o uruguaio recebeu um longo abraço do comandante enquanto caminhava para o banco. E assim que o árbitro pediu a bola, Tite já começou a se dirigir para o vestiário e entrou no túnel ao soar do apito final.
Como é de praxe do treinador, ele não costuma ficar em campo após as partidas por entender que ali é o momento dos jogadores. E com a vaga agora bem encaminhada nas oitavas de final, os atletas comemoraram em campo o sonho renovado do tetra.
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