Tiago Nunes, 40, já poderia estar trabalhando de novo. O ex-técnico de Corinthians e Athletico-PR , parado desde setembro, recebeu alguns convites - dentre eles o do Fortaleza , que tornou-se público no último 11 de novembro .
Pública também tornou-se a razão da recusa: o desejo de pegar um trabalho desde o início, em fevereiro, quando vai começar a temporada 2021. E, se não der, aproveitar o tempo livre para estudar e se aprimorar - de preferência, fora do Brasil.
Não é um mero capricho. Nunes, um estudioso, pensa o futebol, não apenas ao jogo, por meio de convicções muito claras.
“Qual o papel do treinador? É treinar a equipe? Se eu vou para um clube agora e conquisto quatro vitórias seguidas, vão dizer que melhorei o patamar do time. E é mentira, porque você muitas vezes conta com as circunstâncias. Eu não acredito nisso”, disse ele em entrevista exclusiva para o ESPN.com.br .
Nunes, é tido como um expoente do futebol ofensivo, um rótulo que grudou nele e que ele nem sempre aprova. “Antes do Athletico, que jogava sim um futebol ofensivo, tive outros 20 anos de carreira, com times que trabalhavam de modos diferentes”, diz ele.
Tiago não é cabeça dura. No Corinthians, por exemplo, insistiu em fazer o time jogar ofensivamente, com a bola nos pés, como protagonista, até onde possível. Mas porque foi para isso que ele foi contratado: para mudar uma cultura defensivista e de contra-ataques que perdura há quase uma década no CT Joaquim Grava.
“Tive 28 jogos. Se você acha que se consegue mudar a cultura de um time em 28 jogos, temos maneiras diferentes de avaliar”, disse.
Um tanto pessimista, ele ainda acredita que vai demorar para os clubes brasileiros se livrarem da cultura resultadista, muito embora a exigência de se jogar um futebol de maior qualidade tenha começado a se impôr nos últimos anos.
“Só que isso vem para um contexto do Brasil em que isso nunca foi exigido”. Daí, a dificuldade.
Veja abaixo os principais momentos da entrevista exclusiva com o treinador.
ESPN - Qual o desafio de se implantar um estilo de jogo num país em que prevalece a cultura de que só ganhar interessa?
Tiago Nunes - Eu vejo com muita dificuldade que haja uma aceitação a curto prazo de que o trabalho precisa cumprir certas etapas para frutificar com qualidade. Como em qualquer processo de gestão, você passa por uma transformação quando você vai mudar uma cultura e implantar novas ideias. Primeiro vem o choque, depois a adaptação e, por fim, a crença. Se dentro desse processo de adaptação você tiver resultados para ajudar a aceitação, fica mais fácil. Não tem um prazo certo para isso acontecer, podem ser 60, 90 dias. O Klopp, quando chegou no Liverpool , falou que precisaria de três a quatro anos para entregar resultados. Imagina alguém falando isso no Brasil sem virar motivo de chacota?
ESPN - Impossível.
A nossa cultura é de imediatismo, nossa sociedade é muito acelerada, a construção de conteúdos e a desconstrução, também. Vamos viver muito tempo ainda com as trocas constantes de treinadores, até que a circunstância leve a isso (à aceitação), e alguém ganhe implantando algo novo. Só que no Brasil, muito time não ganha por sua própria qualidade, mas pela falta de qualidade do adversário.
Em geral, a gente tem em torno de cinco a seis clubes com alto potencial técnico e investimento que normalmente estão no patamar de cima na disputa, e um grande somatório de equipes que se parecem muito. Se for ver um time rebaixado, ele não sofre goleada, 4 a 0, 5 a 0. Ele perde de 1 a 0, 2 a 1, empata. Há uma diferença pequena entre as equipes da parte intermediária e as que são rebaixadas. Essa equiparidade nivelada por baixo, pela falta de ideias claras de metodologia de aplicação de trabalho, me faz pensar que, a curto prazo não vamos conseguir mudar essa cultura do imediatismo.
ESPN - Quando você fala em imediatismo, é da torcida ou só da diretoria? Eu já vejo torcedores entendendo um pouco melhor o processo de mudança de cultura, mas desde que seu time não esteja perdendo. É uma aceitação ‘de resultado’, não de compreensão de todo o processo, certo?
TN - Esse fato que citei antes, do Klopp, está numa entrevista a que qualquer pessoa tem acesso. E quando caras desse tamanho falam coisas como ‘tempo longo’ e ‘continuidade’, isso começa a ter uma aceitação no torcedor. No Brasil, o futebol faz parte da cultura nacional, que influencia decisões políticas e comportamentais da nossa sociedade. Hoje, a gente vive polarização em tudo e no futebol também. Ou você é muito bom, ou você é muito ruim. Ou você joga um futebol propositivo, bonito, ou prático e pragmático. Existem as correntes que influenciam quem assiste a futebol.
ESPN - E não existe um jeito ‘certo’ de ganhar um jogo...
TN - Se eu for entender o futebol exclusivamente como um jogo, de maneira muito pragmática, o sentido do jogo é vencer, e você pode vencer de diversas maneiras. Não está no estatuto que você tem que vencer com posse de bola, mais dribles, chutando mais vezes. O objetivo principal é colocar mais vezes a bola no gol adversário. Mas como a gente tem sofrido a interferência da globalização, hoje existe a necessidade de um futebol um pouco mais elaborado. Um jogo que seja de maior complexidade na execução dos atos. Mas a gente traz esse tipo de jogo para o nosso contexto do Brasil, onde isso nunca foi exigido. Um país que tinha um futebol técnico e bonito porque formava jogadores com essas características, era algo empírico. E agora traz para uma realidade com que o torcedor não está acostumado, que é perder, e que isso pode fazer parte de um processo a ser cumprido. Vai levar um bom tempo, até que se entenda que a continuidade não pode deixar de considerar o contexto do clube, a realidade socioeconômica de cada clube, e até onde ele pode chegar.
ESPN - Mas o torcedor não quer saber disso, ele quer ganhar
TN - Você imagina, por exemplo, alguém, que dirija o Flamengo ou o Corinthians falar assim: "não, esse ano queremos estar entre os cinco, seis primeiros"? O torcedor vai te matar, vai dizer “tu é louco, Corinthians e Flamengo têm que pensar em ser campeões sempre. Por muito tempo, o Flamengo não venceu porque tinha essa mentalidade. Por muitos anos, o Corinthians venceu porque não tinha cobrança para ser campeão, porque eram equipes que surpreenderam dentro de campo. Não tinha jogadores tão conhecidos. Tinha cobrança para vencer, mas não tinha aquela a expectativa ser campeão do mundo e da Copa Libertadores . Era um clube que foi se fortalecendo um certo tempo, eram jogadores que vinham surgindo, ali por 2010. Estou trazendo esses exemplos para mostrar como é difícil mudar a cultura de resultados no Brasil.
ESPN - Como que muda, então? Espera o amadurecimento de torcedores e diretorias?
TN - Eu enxergo dois caminhos. Falando exclusivamente do meu papel no Corinthians, foi pedida uma mudança de perfil de jogo, mas também da filosofia de trabalho. Para aplicar uma nova ideia, você tem que ter um condução de gestão diferente, porque você passa a pensar como protagonista num jogo de proposição. E você tem que ter uma gestão emocional para que os atletas e o próprio clube entendam que você precisa parar de só reagir, que só vencer por 1 a 0, de maneira pragmática, não basta. Que se você fez 1 a 0, busque o segundo, busque o terceiro, que continue sendo dono das ações no jogo todo. E nesse processo, ou você contrata o perfil de atleta para executar isso, ou você dá um tempo pra que exista um amadurecimento e um processo de seleção natural dos atletas que tem condição de fazer aquilo. E aí é um processo de tentativa e erro, de você ir testando e expondo os atletas.
ESPN - Existe um tempo mínimo ou ideal para um jogador se adaptar?
TN - O Flamengo que chega e chama atenção e foi maravilhoso e jogou muita bola, no início do ano, ele ganhou a Flórida Cup e o Campeonato Carioca . E aí chega o Jorge Jesus e ganha tudo também. ‘Ah, mas esse time não jogava bem com o Abel (Braga)’. Mas foi campeão e deixou uma base de trabalho para o Jorge Jesus. Quando eu falo base de trabalho foi testar muita gente, e isso facilita o trabalho de quem chega depois. ‘Esse cara já jogou 20 partidas, não foi bem’, então eu já sei se ele tem comportamento para jogar. Emocionalmente, talvez esse cara não consiga. Então, mesmo se o trabalho tático é diferente, ele já estabelece uma base para quem chega depois. E aí me chama atenção que o Jorge Jesus se torna o maior técnico da história do Flamengo em quantos meses?
ESPN - Três?
TN - Será que é tão fácil? Será que é só o trabalho dele? É um processo que já vem de longo tempo. O Flamengo passa um tempo sem vencer, pagando contas, muda direção, aí investe em jogadores de alto nível e traz um técnico com ideias mais contemporâneas, um jogo mais clássico, encaixa e vai embora.
‘Por que o Tiago Nunes teve sucesso no Athletico?’. Porque eu entro num processo que já vinha acontecendo há algum tempo. Eu não entro no lugar do Fernando Diniz. Eu entro no lugar do Diniz, do Fabiano Soares, do Eduardo Baptista, do Paulo Autuori, de vários caras que vieram, construíram ideias e já tinham selecionado quem serve quem não serve. E quando você chega num clube de alto potencial técnico, a chance de ganhar aumenta muito. Qual time tem três jogadores de seleção? Aquele Athletico tinha Renan Lodi, Bruno Guimaraes e Santos.
Esse detalhes são importantes para você entender a estrutura em que você está inserido, entender que você chega num Corinthians e para você mudar, ou você tem tempo ou jogadores com potencial para entender tudo rapidamente. Ou paciência. E paciência pressupõe oscilações e entendimento de que o resultado vai vir, vai voltar, vai perder, vai ganhar, até conseguir um padrão.
ESPN - E aquele grupo do Athletico não era um grupo caro.
TN - Se for analisar o grupo do Athletico, se fala em grupo barato, porque comparado com times que mais investem, o Athletico fica em uma prateleira abaixo. Mas você tem o Santos, goleiro de seleção, Jonathan, que jogava na Inter de Milão , Thiago Heleno, que fez final de Libertadores com o Cruzeiro e passou por Corinthians e Palmeiras , Léo Pereira, que veio da base com os comportamentos certos, Renan Lodi, Lucho Gonzalez, Bruno Guimarães, Raphael Veiga, Pablo, Marco Ruben, Nikão... nomes acostumados a jogar em alto nível e de grande potencial técnico. Isso quer dizer que o time era bom.É questão de circunstância de mercado, encontrar a característica que casa, não só técnica e atlética, mas comportamental.
Só que se você for ver, a gente ganhou no limite. Ganhamos nos pênaltis do Flamengo e do Grêmio. Ganhou com autoridade do Inter, mas também ganhou nos pênaltis do Junior, da Colômbia. Se você pegar o Athletico de 2020, que teve uma renovação de jogadores, com a mesma filosofia, com as mesmas ideias, já não conseguiu entregar os mesmo resultados. É um processo que leva tempo, mesmo num clube que já tem um identidade institucional e tem muito menos pressão que um Flamengo ou um Corinthians.
ESPN - Quando e até quanto o técnico deve insistir em suas ideias diante de um grupo que não absorve?
TN - É uma questão de expectativa e entrega. Quando eu sou contratado pelo Corinthians, o rótulo que me é colocado é ‘o Tiago Nunes é extremamente ofensivo, que vem mudar nossa cultura pragmática defensiva e de contra-ataques para o protagonismo, ofensivo e dominante’. Mas isso traz uma ideia para torcedor que só vai ganhar o jogo assim. E eu surjo para o cenário nacional em 2018, mas eu tenho uma carreira de 20 anos que me precede, na qual eu experimentei e trabalhei de diversas maneiras, com diversas linhas metodológicas e diversas linhas de equipe, no que tange ao jogo. Eu vim buscar o jogo de protagonismo, mas também sei me adequar às circunstâncias.
ESPN - E você conseguiu implantar alguma mudança no Corinthians?
TN - (No Corinthians) Eu trabalhei três meses. Teve o Paulista e a Florida Cup, onde eu fiz a preparação. Aí paramos para a quarentena, quase 4 meses, mais de 100 dias. Voltamos, e eu fiquei mais dois meses e meio. Se você pegar um processo de continuidade, ele não existiu. Foram 28 jogos, e se você consegue mudar um time em 28 jogos, temos maneiras diferentes de avaliar. A continuidade não existiu. Eu não consigo enxergar uma mudança (em uma cultura) tão impregnada e tão enraizada como havia. Tanto que tenho que tentar mudar muito as características do jogadores.
Quando a gente vai pra quarentena, fiz mudanças pontuais. Coloquei o Carlos Augusto na lateral esquerda, a gente passa a jogar praticamente com três zagueiros: Carlos, Avelar e Gil, liberando mais o Fagner. Eu coloco Gabriel e Ederson, jogadores que não têm o potencial de construção técnico de Camacho e Cantillo, mas tem mais potencial físico e atlético para competir e ser mais agressivos na disputa. E tiro um jogador de velocidade, porque a gente não estava conseguindo achar esse jogador. E coloco o Mateus Vital para jogar. primeiro com o Boselli, depois com o Jô, para tentar criar uma equipe mais consistente defensivamente, mas que tivesse o mínimo potencial técnico para não perder as ideias construídas.
ESPN - Saiu como você desejava?
TN - A gente passa seis jogos e sofre um gol só, na final, do Palmeiras. E não ganhamos o Paulista por detalhes, nos pênaltis. Aí, o Carlos é vendido. Então, retomamos com o Sidcley, que é um lateral mais ofensivo, que estava bem fisicamente, mas não tecnicamente. E depois colocamos o Piton.
Antes da parada, era uma equipe que criava muito e sofria muito. Depois, sofria menos mas não criava muito, e a gente não conseguiu encontrar, precisava mais tempo, mais jogos. O equilíbrio foi o desafio até a minha saída. A gente não conseguiu encontrar uma sequência. Eu havia subido alguns da base como Xavier, Roni, Gabriel Pereira, Ruan Oliveira, o processo fica naquilo de tentativa, erro e acerto. E você começa a ser avaliado externamente. E começam a dizer que o treinador está perdido. Isso numa realidade que tem o corona, eleição e os salários atrasados.
ESPN - Você se arrependeu de ter saído do Athletico para ir para o Corinthians?
TN - Não, de maneira alguma, zero arrependimento, até porque foi uma decisão muito pensada. Eu, quando vou mudar meu rumo profissional, penso no melhor e no pior cenário. Eu dimensionei que, se desse certo, abriria portas no Brasil e fora. E, se desse errado, sofreria críticas e geraria uma interrogação sobre mim. A gente ainda tem no Brasil, e em outros lugares, o ‘melhor treinador da semana’. Você tá sendo julgado semanalmente, e isso não é o que interfere na minha carreira. Eu precisava dessa experiência de dirigir um clube com essa representatividade e cobrança e exposição para entender o que é estar na alça de mira de opinião pública. (O Corinthians) me trouxe aprendizado e confiança para lidar nos próximos trabalhos, para não voltar a cometer erros que tive lá, de gestão e de ideias.
ESPN - Você voltaria para o Athletico-PR? E para o Corinthians?
TN - Não tenho nenhuma restrição em relação ao Corinthians. E, sobre o Athletico, tenho certeza que vou voltar. Não tenho a mínima noção de quando. Minha saída foi conturbada, não foi fácil sair, eu também conduzi de maneira errada. Fiquei com muita raiva do presidente na época ( Nota: Mario Celso Petraglia).
Foi ruim meu modo e o deles, ficou uma situação ruim nesse sentido. Mas criei vínculos com as conquistas, vou voltar daqui 15, 10, 20 anos. No Corinthians, não sei, porque o clube se transforma. Não foi como eu gostaria, e isso me provoca para tentar conquistar um caminho. Mas isso é incontrolável. É deixar na mão de Deus e merecer ser convidado, se não no Corinthians, num outro clube desse tamanho.
ESPN - Eu tive acesso ao processo que você move contra o clube. Essa raiva tem a ver com os problemas que levaram ao processo?
TN - Minha ideia lá era assim, cumprir meu contrato em 19 e sair em 2020. Eu queria cumprir todo meu contrato e comunicar o clube que não iria permanecer para o ano que vem. Tendo isso em vista, ele (Petraglia) foi muito objetivo e pediu para eu sair. Em respeito ao presidente e ao clube, eu saí. Mas eu queria fazer um processo de transição. Não ia ajudar a contratar o próximo técnico, mas ia explicar os processo, idealista que sou, imaginei isso.
ESPN - Mas e a raiva?
TN - O que acontece é no meu processo de renovação de 18 para 19. O processo tem a ver com a questão de mudança de formato de direito de imagem, para carteira (|CLT). Não foi conduzido de modo adequado e não pagaram a premiação da Copa do Brasil. A minha renovação de 18 para 19 foi conturbada. Eu era campeão da Sul-Americana, passei o ano como interino. A nomenclatura não importava, Mas enfim, no dia 12 (de dezembro de 2018), somos campeões. No dia 13, folgamos. No dia 14, tivemos uma reunião de planejamento para 2019, e eu estava esperando uma posição do (diretor) Rui Costa* pela renovação. Esperei Natal, nada. Virada do ano, nada. E eu esperando. Faltando dois dias para a gente se reapresentar, eu não sabia se era o treinador do Athletico. Dentro disso, houve negociação, pedi uma valorização que não veio.
(* Nota: Em contato com a reportagem, Tiago Nunes esclarece que Costa fez sua parte no processo, mas que seu trabalho à época dependia de anuência de Mario Celso Petraglia.)
Recebi muitas propostas que não aceitei, em respeito ao Athletico, mas a condução foi complicada. E essa falta de tato se repetiu em 19, os clubes me procurando, e dessa vez eu quis uma posição do clube, que me fez uma proposta de renovação quatro vezes menor do que eu tinha. Essa é a raiva. E quando veio a proposta do Corinthians, eu acelerei o processo, para não repetir o que acontece de 2018 para 2019.
ESPN - Você falou em trabalhar fora do Brasil, você tem o Paulo Autuori como um exemplo, e ele trabalhou no Oriente Médio, América do Sul, Europa...
TN - Meu mercado é o brasileiro, e estou de olho nisso. Eu tive algumas propostas e não aceitei. E ainda recebi contato de um time com treinador e nem conversei. É uma falta de respeito total. Mas estou de olho para o Nacional do ano que vem. Porque assumir agora um time é apostar na sorte. Porque a gente não enxerga um time que repita escalação, então, qual o papel do treinador?
Eu me enxergo muito mais pegando um trabalho com potencial maior de interferir no trabalho. Há mercados em que você compete e ganha muita grana, como o Oriente Médio, que você não vê um cara saindo de lá e indo para a Europa ou se tornando um expoente mundial.
Pode acontecer de ir se surgir um convite por peso competitivo e financeiro, como você falou do Paulo (Autuori), quero buscar ser um treinador que possa buscar ir para outro cenários. Quantos técnicos brasileiros temos na América Latina? Tem o Alexandre Guimarães, que é mais costarriquenho, que foi campeão na Colômbia. Tem Tuca Ferretti no México, que também já está lá há décadas.
ESPN - Na Libertadores, por exemplo, só tem técnicos brasileiros nos times brasileiros
TN - É que o mercado nacional paga melhor que os mercados da América Latina. Poucas vezes os treinadores brasileiros têm o desejo de enfrentar esse tipo de desafio. E o mercado sul-americano não enxerga isso nos brasileiros. Aí você vê uruguaios, argentinos, chilenos em vários clubes da América do Sul. E assim eles têm um potencial de Europa maior que o nosso, porque eles têm muito mais abertura, porque já sabem “ser estrangeiros”. O Paulo (Autuori) é uma exceção, trabalhou no Peru, na seleção peruana, Bulgária, Japão, Oriente Médio, Portugal. Tenho essa inquietude, mas se não acontecer nada nesse sentido, vou pensar em buscar alguma situação fora para melhorar o idioma e entender as rotinas de um clube.
ESPN - Fazer um estágio, talvez? Alguns técnicos brasileiros têm feito...
TN - É, mas tem que ver o que é esse estágio. Se for para ir, conversar com técnicos, ver modos de trabalho, participar, tudo bem. Mas não vou para sentar na arquibancada e ver treino. Aí, não é estágio.