Na manhã desta segunda-feira (23), o Flamengo deu mais um passo significativo em direção à construção de seu novo estádio ao assinar um termo de compromisso com a Prefeitura do Rio de Janeiro. O acordo, que visa a viabilização da arena no terreno do Gasômetro, inclui a utilização do potencial construtivo da sede da Gávea como parte fundamental do financiamento do projeto.
O Flamengo planeja captar cerca de R$ 500 milhões por meio do Cepac (Certificado de Potencial Adicional de Construção) da Gávea. O recurso será crucial para o financiamento do estádio, cujo custo total está estimado em R$ 2 bilhões.
O modelo de transferência de direito de construir da Gávea, que será regulamentado por um Projeto de Lei a ser elaborado pela Prefeitura, foi apontado como uma solução viável pela diretoria rubro-negra, afastando a necessidade de uma SAF (Sociedade Anônima do Futebol).
- A prefeitura não só nos ajudou no processo, ao desapropriar o terreno, ao renegociar todo o potencial construtivo que existia naquele terreno para outras áreas, cedendo isso e trabalhando para que isso fosse feito num processo de mediação com a AGU. Como ainda está nos ajudando para direcionar o potencial construtivo daqui da Gávea como um dinheiro carimbado para a construção do nosso estádio. Fazendo contas rápidas aqui, essa ajuda, a retirada do potencial construtivo de lá e nos oferecer esse potencial construtivo daqui, nos dá um impacto de mais ou menos R$ 1 bilhão para nos ajudar nesse estádio - explicou Rodolfo Landim no início do evento.
A medida segue um exemplo similar ao adotado pelo Vasco para a reforma de São Januário, ainda que o rival enfrente desafios na regulamentação do processo.
- O Flamengo não ganhou da prefeitura o terreno, pagou um valor adequado por aquilo. É óbvio que a prefeitura manda um projeto de lei mudando a legislação para que não seja cobrado do Flamengo o Cepac ali porque é um investimento de utilidade pública. Flamengo uma instituição paraestatal, que tem uma enorme dimensão pública por mais que tenha uma gestão privada. O normal de qualquer ação dessa é você criar incentivos, benefícios que só podem ser cumpridos pelo poder público. Então nós criamos as condições para o Flamengo. Estamos nos comprometendo a dar plena capacidade ao Flamengo para exercer um direito que já possui (na Gávea). Já que o poder público não permite que o Flamengo construa na área que lhe pertence, esse direito pertence ao Flamengo. O que estamos fazendo, igual fizemos com o Vasco, é permitir exercer esse direito equivalente a R$ 500 milhões para ajudar na construção do estádio. Recursos que só poderão ser utilizados na construção, vai ser uma exigência da prefeitura - disse o prefeito Eduardo Paes, que complementou:
- O projeto só não está indo hoje para a Câmara de Vereadores por um motivo: temos uma legislatura terminando, mais 15 dias de trabalho. Acho que não é adequado tendo em visto que há uma nova câmara eleita, então vamos deixar para a próxima legislatura. O projeto para que o trâmite possa se dar de maneira adequada também vai ser encaminhado. A minuta do projeto, os termos do acordo a gente assina nesse documento aqui hoje. Para a gente é uma alegria permitir que o patrimônio material dessa cidade, por mais que me cause profundo incômodo (como vascaíno), é uma alegria muito grande como prefeito permitir que o Flamengo possa ainda mais consolidar sua posição, mas se Deus quiser perdendo sempre para o Vascão.
A assinatura do termo ocorreu no Salão Nobre da Gávea, reunindo autoridades e dirigentes do clube, incluindo:
Eduardo Paes , prefeito do Rio de Janeiro;
Guilherme Schleder , secretário de esportes;
Pedro Paulo , deputado federal;
Rodolfo Landim , presidente do Flamengo;
Marcos Bodin , vice de patrimônio;
Marcos Braz , vice de futebol;
Reinaldo Belotti , CEO do Flamengo;
Os candidatos à presidência do clube em dezembro, Rodrigo Dunshee (atual vice geral e jurídico) e Maurício Gomes de Mattos .
Com o termo de compromisso assinado, a próxima etapa será a elaboração do Projeto de Lei pelo Município, oficializando a operação consorciada necessária para a transferência do direito de construir. A parceria com a Prefeitura e o potencial construtivo da Gávea fortalecem a confiança da diretoria na concretização do estádio no Gasômetro, projetado para ser um marco histórico na trajetória do Flamengo.
Rodolfo Landim concedeu entrevista após a assinatura, confira:
Importância do termo
- Serviu como uma prestação de contas para a prefeitura, vamos dizer, da evolução do projeto e de tudo aquilo que foi cobrado em termos de adequação, as exigências que a prefeitura tinha feito, da parte urbanística também, a adequação dessa obra e toda a urbanização daquela região. E também para a assinatura daquele compromisso formal que o prefeito já tinha feito de nos dar o potencial construtivo aqui da Gávea, que como ele bem explicou hoje seria algo que a gente teria direito para construir o estágio aqui, para poder construir em outro local, que é exatamente o local do nosso terreno. Um valor de R$ 500 milhões mais ou menos, que é o que a gente acredita que vai ter desse potencial construtivo, algo muito importante para auxiliar na construção do nosso estádio.
Próximos passos
- Poxa, tem tantos passos aí pela frente. A gente está começando, então vocês já viram aqui que o nível do projeto que temos aqui já é mais do que um projeto básico, isso já permite que a gente saia atrás de licenças, também da busca dos nossos patrocinadores de naming rights, de tudo isso. Então, como o prefeito falou, ele vai estar encaminhando para a nova Câmara (o projeto de lei) em breve. Uma vez aprovado tudo isso, eu acho que temos muitos estudos a fazer, muitas licenças a obter. Nesse prazo aí eu diria de mais um ano, um ano e pouco, e aí começar efetivamente a construção do estádio para a inauguração no dia 15 de novembro de 2029.
Naming Rights
- A gente está conversando com muita gente já. "Pré-conversando". Não são só empresas, são às vezes instituições maiores do que empresas. Mas assim, não queremos adiantar muito, não (risos). Vou estar em São Paulo essa noite já conversando com gente lá, com gente de fora, sobre isso. São muitas coisas que a gente já está começando a marcar a partir de agora.
Inauguração
- A gente já está pensando no jogo de estreia e já vai começar a vender os ingressos daqui a pouco. Vai ser um jogo tão especial, uma data tão marcante para todos os rubro-negros, né? Que vamos começar a vender já no início do ano que vem os ingressos para a inauguração em 2029. Ou antes, mas não vamos começar a fazer promessa antes, não (risos). (Adversário) Não sei, vamos pensar.
Impacto nas finanças
- Isso tem sido falado muito como uma dúvida em relação ao fato de poder impactar ou não. Só para vocês terem uma ideia, a gente fez questão de encaminhar o orçamento do Flamengo para aprovação, no qual existe o orçamento do Flamengo e existe o orçamento do estádio, separados, para demonstrar que em nada, vamos dizer assim, a construção do estádio vai impactar o dia a dia do Flamengo. O que a gente tentou mostrar hoje aqui foi operacionalmente, quer dizer, o ganho que a gente acredita que terá com a construção desse estádio, o aumento da receita em relação ao que tem hoje no Maracanã. A gente vai poder precificar de forma muito melhor.
- Hoje tem sete produtos que a gente vende no Maracanã, fundamentalmente. Nesse estádio nós vamos ter 31 diferentes tipos de produtos que vamos poder vender. De assentos e serviços associados a isso. Isso permite que a gente possa melhorar muito sem com isso criar problema algum para a torcida do Flamengo, que vai poder ficar atrás dos gols, como ela sempre gosta de ficar, comprando os ingressos aos preços do dia de hoje. E pretendemos melhorar alguns ingressos com a parte de serviço associado.
Outras receitas
- Tem tanta coisa que vamos fazer. A gente vai vender, por exemplo, 1 mil cadeiras cativas para devolver, vamos dizer assim, o dinheiro utilizado para compra do terreno para o Flamengo. Apesar de já ter aprovado que os apartamentos do Morro da Viúva poderiam ser utilizados para construção e criação de patrimônio dentro do clube, não queremos utilizar isso, a gente quer que o estádio seja autossustentável. A gente tem ideias de fazer a venda antecipada, vamos dizer assim, do jogo inaugural. Tem o tijolinho eletrônico que queremos fazer aqui, e pretendemos ter contribuições, por exemplo, do que os torcedores do Flamengo fizeram no passado para a construção do CT.
- Eles teriam oportunidade de fazer isso também para a construção do estádio e vai ser muito bacana porque o compromisso que a gente assume com eles é que, além de colocarmos um painel no terreno em que vai ficar toda semana atualizando quem são os maiores contribuidores, vão ter os maiores contribuidores total, do mês e da semana. Então, promovendo uma certa competição entre todos para ver quem é que vai estar contribuindo mais para poder ajudar. E mais: o nome dele vai ficar eternamente fixado lá no estádio porque vão ter painéis para consulta eternamente de quem de alguma forma contribuiu para a construção, para poder mostrar para o filho, para o neto...
- Tem também vendas antecipadas de alguns assentos, mas por tempo limitado para poder auxiliar. Assim, nessa fase inicial, tem todo um plano econômico que foi preparado nesse orçamento e que foi encaminhado para a aprovação do Conselho de Administração. Mas óbvio que é fruto, vamos dizer assim, de um modelo de financiamento que nós temos na cabeça nesse momento, mas que pode vir a melhorar, depender de como for a negociação. Eu particularmente acho que pode ter gente interessada, em troca do naming right, construr o estádio para o Flamengo. Se você fosse uma instituição, quanto é que vale para você associar a imagem de 1/4 da população brasileira e que você foi o realizador daquele sonho? A gente está vendendo aqui a realização de um sonho. E eu acho que isso vale muito mais para qualquer instituição do que pura e simplesmente colocar nome no estádio.
Prazo para início da obra
- A gente acredita que pelo menos um ano que vai ter aí para poder passar todos os trâmites burocráticos, tudo isso. E paralelamente a gente já vai também fazendo os trabalhos de engenharia mais detalhados Nós temos hoje um projeto que vocês viram aqui, que é quase que um projeto básico, e vamos ter que entrar num projeto executivo, num projeto de detalhamento. E aí analisando todas as interferências que a gente tem de tudo que é um projeto mútuo, muito mais detalhado e que vai demorar muito mais tempo. Eu acredito que mais um ano e pouco a gente já possa estar começando a construir.