Comandante do Flamengo , Jorge Jesus já deixou claro várias vezes que não gostar de ser contrariado. Quando era treinador do Estrela Amadora , clube da segunda divisão portuguesa, na temporada 2002/2003, ele deixou isso bem claro para o brasileiro Evando.
O jogador, que foi colocado como um meia mais centralizado em uma partida contra o Maia pela 19ª rodada da competição, recebeu ordens claras do Mister.
"Ele pediu para eu fazer diagonais de dentro para fora e caindo nas costas dos laterais. Eu consegui fazer uma jogada, saiu uma falta e fizemos o gol. Eu fiquei por ali na ponta e joguei muito bem. O extremo, Tiago [Lemos], ficou no meio. No intervalo lá no vestiário, o Jesus me disse: 'Você pode ficar no vestiário, não volta mais para o jogo'. Eu fiquei e nós perdemos o jogo por 4 a 1", disse o ex-atacante, ao ESPN.com.br .
Evando foi substituído com apenas 11 minutos do segundo tempo porque contrariou as ordens do treinador. No jogo seguinte - válido pela Taça de Portugal - contra o Sporting, o brasileiro foi para o banco de reservas e só entrou no fim do segundo tempo.
"Eu era titular absoluto. Ele pediu ao atleta que ficou no meu lugar para fazer a mesma coisa que eu. Nós perdemos por 1 a 0 com um gol do Jardel. No dia seguinte eu o chamei: 'Mister, quero falar com senhor. Quero saber por que o senhor me tirou do time e pediu ao atleta para fazer o mesmo que eu?'", recordou.
"Ele olhou para mim e disse: ‘Tens personalidade’. Eu ri, e depois expliquei para ele, que respondeu. 'Vais jogar no domingo'. Jogamos em casa contra o Lamas, vencemos por 3 a 2 e fiz 2 gols. Nunca mais saí do time", contou o ex-jogador.
Depois disso, Evando entendeu como seria o processo de trabalho com o técnico.
"Eu acredito que a mensagem que ele me passou foi: Quando eu mandar fazer alguma coisa, faça. Aqui quem manda sou eu", analisou.
O ex-atacante de Santos e Avaí afirma que aprendeu muito com o Mister.
"Ele falava assim: ‘Esse jogo é para pensar. Não é para jogar à toa’. Ele tinha razão sobre a estratégia. Um atleta não consegue jogar hoje em dia sem pensar na estratégia, na tática e nas qualidades do adversário".
Apesar de ter trabalhado apenas uma temporada com Jesus, Evando manteve uma boa relação com o comandante.
"Quando eu fazia um gol ele me telefonava para mandar os parabéns pelos jogos que fazia no Brasil. Nunca deixou de acompanhar o nosso futebol. Sempre vinha ao Brasil para ver jogadores", explicou o ex-atleta.
"Ele falava que o jogador brasileiro tem muita personalidade. Ele admirava que os brasileiros mesmo quando chegavam aos times médios de Portugal falavam que queriam ser campeões. O fato deles acreditarem em si mesmos era espetacular. Por isso, os times dele sempre tiveram brasileiros".
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EVANDO
Natural de Timóteo-MG, Evando começou em uma escolinha e passou rapidamente pela base do Cruzeiro antes de chegar ao Vitória, com 16 anos. Em cinco anos no Barradão, ele defendeu a seleção brasileira sub-20, sendo campeão do Torneio de Toulon, na França.
Lançado em 1995 no profissional, foi para a Espanha no meio do ano seguinte.
"Fui para o Valencia e cedido ao Villarreal, da Espanha. Eu era muito jovem e abri mão do pré-contrato com o Valencia para voltar ao Vitória", contou.
O jogador passou por Goiás, Vitória de Guimarães, Santa Cruz, Estrela Amadora até chegar ao Avaí, em 2004.
"Foi o grande clube da minha vida, joguei cinco vezes aqui. Hoje, faz cinco anos que sou auxiliar técnico. Floripa foi a cidade que escolhi morar com a família. Tenho orgulho de ser reconhecido como o Evando do Avaí. Poucas pessoas lembram de mim em outras equipes por causa da sintonia que consegui aqui", contou.
Depois de se destacar na Série B de 2004, ele foi no começo do ano seguinte para o Santos, então campeão brasileiro.
"Tinha o sonho de jogar lá, desde criança tinha admiração pelo uniforme branco e a mística da Vila Belmiro. Foi um privilégio, mas foi uma passagem muito rápida. A equipe tinha Robinho, Deivid e Basílio no ataque. Eu estava participando pouco, mas entrava bem e fazia gols. Veio a Ponte e vi uma grande chance de ser titular porque seria difícil no Santos", afirmou.
Depois, passou por Fluminense, Al-Shamal (Catar) até voltar ao Avaí e entrar para a história do clube ao marcar o gol do acesso para a Série A do Brasileiro em 2008.
"Fazia 30 anos que o time não jogava a elite, era uma geração inteira sem ver isso. Também fiz um gol de bicicleta contra o Corinthians que as pessoas até hoje falam. Um cara me disse que quebrou a mão socando na comemoração (risos). Muito legal receber esse carinho e poder marcar de forma positiva a vida das pessoas. Nossa carreira é muito curta", emocionou-se.
Após pendurar as chuteiras como um dos maiores ídolos da história do Avaí em 2012, Evando virou auxiliar-técnico fixo. Ano passado, ele comandou a equipe avaiana em algumas rodadas, incluindo uma partida contra o Flamengo de Jorge Jesus.
"Foi bom revê-lo, mas o resultado foi horrível. Perdemos por 6 a 1. Conseguimos fazer um primeiro tempo equilibrado até uns 35 minutos, mas depois não teve jeito", recordou.
Após o rebaixamento para a Série B, o Avaí passa por um processo de reconstrução.
"Nossa ideia é voltar para a Série A do Brasileiro", finalizou.