Ao levar o Volta Redonda à semifinal do Campeonato Carioca , o técnico Neto Colucci busca o primeiro título como profissional. Ex-jogador de futebol e futsal, começou a carreira à beira das quatro linhas quase por acaso e voltou às quadras pelo filho. O comandante esteve por diversas temporadas na base do próprio Voltaço e foi multicampeão como treinador no cenário universitário. Mas o primeiro contato mais estreito com jogadores profissionais se deu, curiosamente, por meio da música .
O adversário na luta por vaga na decisão do Estadual será o Flamengo (hoje, às 21h05), que conquistou a Taça Guanabara e é o atual campeão Carioca. O primeiro confronto será no Raulino de Oliveira, hoje, enquanto o segundo será no Maracanã, no próximo sábado. No último dia 24, coincidentemente, os times se enfrentaram em duelo que valeu o título desta primeira fase do Estadual — o Rubro-Negro venceu por 2 a 1 .
"A expectativa, ainda mais por ser em casa, é boa. A gente não fez a partida ideal, o que gostaríamos de fazer, contra o Flamengo no Maracanã. Acho que oscilamos em alguns momentos, principalmente no início, que deu ao Flamengo mais confiança. Demoramos a entrar no jogo, mas no segundo tempo conseguimos ter boas ações, ter um pouco mais da posse de bola, e competir melhor. Ficou aquela sensação de que podemos evoluir e fazer melhor", disse, ao UOL Esporte .
"Playboys do Samba"
A relação de Neto Colucci com o futebol começou ainda cedo. Natural de Mendes-RJ, atuou na base de alguns times da região, o Voltaço entre eles, até chegar ao Serrano, de Petrópolis. Mas sofreu uma lesão e deixou os gramados.
Foi nesta época que uma brincadeira entre amigos virou coisa séria, e Neto Colucci, que tocava repique de mão, se tornou integrante de um grupo de pagode , o "Playboys do Samba ", que chegou a ser apadrinhado pelo lateral Júnior, pentacampeão pela seleção brasileira na Copa do Mundo de 2002 (ouça a faixa 'Desejo fatal' abaixo).
"Na época eu estava morando em Barra do Piraí e a gente tinha um grupo de amigos que jogava futebol. Neste meio, rola o pagode, o samba. Começou como uma brincadeira, cada um tocando um instrumento, e deu certo. Todo último dia da festa de exposição de Barra do Piraí, tinha ' Playboys do Samba'. Em um desses shows tinha uma empresária de São Paulo assistindo, prima do Luizão [centroavante]. Ele nos apresentou o Júnior, que nos abriu muitas portas. Com o tempo, estávamos longe de casa, gastando mais do que ganhando. Foi aí que pensei: 'Vou voltar, fazer educação física e trabalhar na área que gosto", conta.
Técnico 'por acaso'
Colucci voltou, fez educação física e retomou a carreira no mundo da bola, mas, desta vez, nas quadras. Vestiu a camisa do Piraí, Mendes, Vassouras e do Fluminense, que defendeu em 2002, centenário do clube. E foi justamente o fato de ter atuado pelo Tricolor das Laranjeiras que, indiretamente, fez ele iniciar a caminhada como treinador.
"Tem uma competição aqui no Sul Fluminense, organizada pela afiliada da Globo [Copa Rio Sul de Futsal], e fui impedido de jogar porque não podia profissional. Aí, virei treinador. Eu não podia jogar, já estava me formando em educação física e trabalhava com base. Acabei assumindo o adulto de Mendes. Ali fiquei um bom tempo", lembra.
Volta às quadras pelo filho
Havia, porém, uma lacuna nesta história. Pai de um casal, ouvia dos filhos o pedido para que eles pudessem vê-lo em ação. Em 2017, aos 41 anos, Neto se preparou e retornou. Atuou na Copa Rio Sul de Futsal por Mendes:
"Tenho uma filha que hoje tem 18 anos [Barbara] e um filho de 11 [Brenno]. Em 2016 meu filho falava que nunca tinha me visto jogar e queria me ver atuando. Eu disse: "Então tá, em 2017 papai vai jogar". Emagreci de seis a oito quilos, voltei a treinar e joguei a competição para que ele pudesse me ver jogando. Foi uma realização para ele, que ia aos jogos e ficava doido."
Títulos no futebol universitário
O atual técnico do Volta Redonda busca uma conquista inédita no currículo, mas já levantou taças no futsal e foi multicampeão também no ciclo universitário. Colucci foi técnico de equipes masculinas e femininas de equipes que disputavam competições entre universidades, como a turma de Medicina e Engenharia da Universidade de Vassouras, e a de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Neste período, inclusive, vivia uma maratona e conciliava a agenda da base do Voltaço com os treinamentos dos jovens universitários. "Eu dava treino de manhã no Volta Redonda, à tarde para o pessoal de Medicina em Vassouras e à noite, às vezes era Engenharia, às vezes Direito, no Rio de Janeiro. Começava às 8h e tinha dias que estava iniciando treino às 22h, no Aterro do Flamengo", disse.
Mas Neto Colucci tinha um objetivo na carreira: ser treinador de uma equipe profissional. Com isso em mente, abriu mão das universidades e passou a se dedicar apenas ao Volta Redonda. A primeira oportunidade foi no Pérolas Negras, em meados de 2018. No retorno à base do Voltaço, levou o time à melhor campanha até hoje na Copa São Paulo de Futebol Júnior, tendo ficado na sexta colocação — foi eliminado para o finalista Vasco nas quartas.
Rápida passagem pelo Botafogo
Posteriormente, foi promovido à comissão técnica do profissional. Na retomada das categorias de base após a paralisação devido à pandemia de coronavírus , surgiu um convite para o sub-17 do Botafogo. Ele aceitou, mas a passagem acabou sendo rápida. Deixou General Severiano para realizar o sonho, e "em casa".
"Em 2019, após a Copinha, fizemos um bom Carioca. Quando o Toninho [Andrade] saiu, houve um apelo para que eu assumisse em 2020. Mas, em novembro, o Volta Redonda trouxe o Luizinho Vieira. O vice-presidente me chamou para ser auxiliar permanente. Aceitei, mas deixando claro que, respeitando o Luizinho, gostaria de ser treinador. Após a retomada da pandemia, apareceu o convite do Botafogo. Eles me liberaram, mas disseram que contavam comigo para 2021. E para ser honesto, eu não levava fé que em 2021 seria eu", lembrou.
"Com os tropeços do Luizinho, o clube ficou em uma situação difícil. Pensei: 'Vamos que é a hora'. Perguntei se independentemente do que acontecesse eu permaneceria em 2021 e mergulhei de cabeça", completou.
Surpresa consistente
"O Volta Redonda, nos últimos anos, tem feito bons trabalhos e figurado em cima. Isso já ajuda bastante. Agora, o que mais deu sustentação durante a competição foi a mudança de postura. O meu conceito de jogo, atrelado ao trabalho da preparação física e comissão técnica, é de jogar mais ofensivo, e, não, 'como time pequeno', como dizem, por uma bola ou duas no jogo. Acho que fez com que o Volta Redonda surpreendesse".
FICHA TÉCNICA
VOLTA REDONDA X FLAMENGO
Competição
: Campeonato Carioca, semifinal
Data
: 1 de maio de 2021, sábado
Horário
: 21h05 (de Brasília)
Local
: estádio Raulino de Olveira, em Volta Redonda (RJ)
Árbitro
: Rafael Martins de Sá
Auxiliares
: Michael Correia e Wallace Muller Barros Santos
Flamengo: Diego Alves, Matheuzinho, Bruno Viana, Gustavo Henrique e Renê; João Gomes, Diego, Everton Ribeiro e Vitinho; Michael e Pedro Técnico: Rogério Ceni.
Volta Redonda: Andrey Ventura; Oliveira, Heitor, Gabriel Pereira e Luiz Paulo; Bruno Barra, Emerson Jr. e Luciano Naninho; MV, Alef Manga e João Carlos (Marcos Vinícius) . Técnico: Neto Colucci.
Imagem: Caique Coufal/Volta Redonda