Talento extraclasse de Pedro e Arrascaeta vai ditar ritmo do Flamengo na temporada

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Em 2019, quando o Flamengo fez poderio econômico se transformar em títulos e se recolocou entre os grandes vencedores do país e do continente, o setor ofensivo do time tinha algo até então raro de se ver no Brasil. Uma soma de talentos e capacidade de decisão, reunida em quatro jogadores que, além de estarem um nível acima do futebol brasileiro e sul-americano, viviam o ápice de suas carreiras: dos 23 anos de Gabigol aos 30 de Everton Ribeiro, passando por Arrascaeta, então com 25, e Bruno Henrique com 29.

A versão 2025 do Flamengo, que se apresentou em modo exibição para um Maracanã com 67 mil pessoas, ainda é uma das grandes reuniões de talento do país, mas com algumas características diferentes. Entre defensores e volantes, os rubro-negros têm uma generosa dose de jogadores bem acima dos padrões locais. Mais à frente, ainda há bons atacantes. No entanto, se já não estão mais Gabriel e Everton, ou se a fase adiantada da carreira faz de Bruno Henrique um jogador capaz de ajudar o time em circunstâncias específicas, o que se viu ontem na goleada sobre o Corinthians foram atuações sublimes dos dois talentos ofensivos extraclasse que o Flamengo de hoje tem: Pedro e Arrascaeta.

Claro que há diversas formas de um time campeão ser construído, entre elas com padrões coletivos que façam individualidades florescerem. E o Flamengo de Filipe Luís é muitíssimo bem treinado. No entanto, é difícil fugir à sensação de que o nível que este pode assumir na temporada dependerá do que acontecerá, em meio ao massacrante calendário, com estes dois jogadores. Pedro parece plenamente recuperado, o que não anula o fato de que é um jogador que acaba de voltar de uma cirurgia no joelho. Arrascaeta, que durante 80 minutos desfilou pelo Maracanã seu interminável repertório, costuma despertar preocupações com seu físico.

Se em tantos jogos da temporada o Flamengo deixou dúvidas sobre a capacidade de converter seu domínio em chances, Pedro e Arrascaeta são as melhores soluções deste time.

O jogo teve 70 minutos em que pareciam jogar times de classes distintas: da pressão rubro-negra contra a saída de bola do Corinthians até a capacidade de envolver o rival com a bola. Pressionando ou iniciando ataques, Pulgar e De La Cruz faziam o Flamengo atrair adversários e gerar espaços às costas deles. No primeiro gol, uma inversão da direita para a esquerda encontrou um vazio aproveitado por Everton Cebolinha, com ajuda crucial de Ayrton Lucas. No segundo, Arrascaeta atraiu Carrillo para o lado, criou um clarão e o próprio uruguaio aproveitou, graças ao passe de De La Cruz e ao apoio de Pedro.

Mas dominar jogos é algo que o Flamengo faz. O que muda muita coisa é a presença de Arrascaeta e Pedro no nível em que jogaram ontem. O centroavante quase fez um gol de antologia em lance individual e marcou com rara técnica após o erro de Hugo Souza. Mas Pedro era, também, uma espécie de eixo em torno do qual o ataque girava. Saía do centro do setor e oferecia apoios, tabelas, fazendo o jogo fluir.

Já Arrascaeta, sempre que está fisicamente saudável, tem o poder de juntar o time, achar passes ou finalizar. Seu chute no segundo gol é de rara precisão.

E ainda sobre os dois, pode parecer rigor excessivo, mas houve um período entre os 15 minutos e o segundo gol do Flamengo, em que o time teve certa instabilidade e a pressão ofensiva afrouxou. Filipe Luís entende que o Corinthians mexeu em seu posicionamento. Mas é possível especular o quanto Pedro e Arrascaeta serão capazes de pressionar rivais o tempo todo. E o time rubro-negro depende muito disso.

O Flamengo é evidente candidato aos títulos da temporada, e será ainda mais se tiver, com frequência, Pedro e Arrascaeta neste nível.

Inadmissível

Não é aceitável que uma torcida viaje e seja impedida de entrar no estádio até o intervalo. Aconteceu com os corintianos no Maracanã, acontece com alguma frequência Brasil afora. Ontem, no clássico das maiores torcidas do Brasil, mais de mil pessoas foram privadas de metade do jogo. E ainda precisaram esperar o esvaziamento do estádio para poderem sair. Os corintianos ficaram mais tempo vendo o gramado vazio, do que assistindo ao jogo.

Botafogo tem atuação coletiva de alto nível em nova vitória contra Fluminense — Foto: Vitor Silva/Botafogo
Botafogo tem atuação coletiva de alto nível em nova vitória contra Fluminense — Foto: Vitor Silva/Botafogo

Centelha

Por 45 minutos, a forma como pressionou o Fluminense sem bola e a dinâmica que apresentou sempre que se organizou para atacar fizeram o Botafogo reviver traços do time de 2024. Não que este seja o único caminho para o alvinegro vencer em 2025. Mas, pela primeira vez, se viu um time dominante e intenso. A missão, agora, é tornar isso um padrão. E encontrar peças decisivas para transformar em gol o domínio do jogo.

Renato Gaúcho em derrota do Fluminense para o Botafogo — Foto: MARCELO GONÇALVES / FLUMINENSE F.C.
Renato Gaúcho em derrota do Fluminense para o Botafogo — Foto: MARCELO GONÇALVES / FLUMINENSE F.C.

Fragilidade

O que mais chamou atenção no Fluminense, no clássico de sábado, foi a dificuldade para encontrar respostas diante de um Botafogo que ocupava o campo ofensivo e era muito intenso. Parecia faltar capacidade de competir, ganhar duelos e, com a bola, de sair da pressão. Mesmo quando teve a posse por mais tempo na segunda etapa, o tricolor raramente foi perigoso. Ainda assim, pode reclamar do pênalti não marcado em Arias.

Fonte: O Globo