Silva Batuta: Ídolo no Flamengo, artilheiro na Argentina e alvo de racismo no Barcelona

Falar da carreira de Walter Machado da Silva, o Silva Batuta, morto na noite desta terça, é, antes de tudo, exaltar seus feitos. O ex-atacante foi ídolo no Flamengo e mostrou seu faro de gols em muitos dos clubes por onde passou. Só no Rio, ele atuou ainda por Vasco e Botafogo. Mas foi no clube rubro-negro que criou laços.

Ele chegou ao Flamengo em 1965. Antes, havia passado por São Paulo, clube que o revelou, Corinthians, onde marcou 89 gols em 140 jogos, e algumas equipes do interior.

30 MINUTOS DE FLAMENGO: Infectologista fala sobre casos de Covid-19 no clube

Foi no Flamengo que ele levantou sua primeira taça, o Carioca de 1965. Em duas passagens com a camisa rubro-negra (até 1966 e entre 1968 e 1969), Batuta Marcou 70 gols em 132 partidas. A identificação foi tanta que, já aposentado, trabalhou por décadas na sede social do clube. Lá ficou conhecido como o "Tony Tornado da Gávea", em referência ao cantor e ator vencedor do V Festival Internacional da Canção, de 1970, no qual defendeu a hoje clássica "BR-3". O motivo: sua obsessão em "garfar" a cabeleira crespa com os muitos pentes que colecionava.

Apesar do carinho recebido na Gávea, sempre conviveu com a alcunha de "vira casaca" por ter vestido a camisa do Vasco. O fato ocorreu em 1970, um ano após sua despedida do Flamengo. Então jogador do Racing (onde tornou-se o único brasileiro a ser artilheiro de uma competição na Argentina), o ex-atacante decidiu retornar ao Brasil por acreditar que só assim teria chance de ser convocado para a Copa do México. Foi o clube de São Januário quem lhe abriu as portas. Mas o sonho da convocação não se concretizou e ele sempre sentiu um nó na garganta quando comemorou seus gols em cima do time do coração.

A única Copa da qual Batuta participou foi a da Inglaterra, em 1966. Formou o ataque ao lado de Pelé e Jairzinho. Mas a seleção fez ali sua pior participação num Mundial.

Apesar do revés, a carreira de Batuta seguia de vento em popa. Ele estava no auge. Seus gols na primeira passagem pelo Flamengo despertaram a atenção do Barcelona. E é aqui que entra outro momento importante de sua trajetória que, por razões óbvias, não merece vir à frente de seus feitos. No Barça, o ex-atacante foi alvo de racismo do próprio presidente do clube catalão.

Após o fracasso na Copa de 1962, a Espanha proibiu a contratação de jogadores estrangeiros. Ao trazer Batuta, Enrique Llaudet acreditava que conseguiria revogar este decreto. Afinal, outros clubes também demonstravam insatisfação com a norma. Mas a imprensa, que não demonstrava a mesma confiança, insistia em perguntar o que ele faria caso não pudesse inscrever o brasileiro.

"Se não pode jogar, o usarei como chofer. Sempre quis tem um chofer negro", declarou Llaudet na época.

A regra não caiu, e a passagem de Batuta pelo Barcelona se resumiu a 15 amistosos e oito gols marcados. Dois deles sobre o Botafogo, seu primeiro jogo com a camisa azul e grená. O destino quis que, no último, o adversário fosse o próprio Flamengo. O clube presidido por Llaudet acabou derrotado por 1 a 0, gol de Fio Maravilha, negro igual a Batuta.

O Flamengo perdeu na noite da última terça-feira o ídolo Walter Machado da Silva, o Silva “Batuta”, aos 80 anos. Com passagens também por Corinthians, Vasco e Racing, o ex-atacante estava há dez dias internado no Hospital Pró-Cardíaco em Botafogo. Ele estava com Covid-19, de acordo com o jornalista Pedro Ivo Almeida, mas a causa da morte ainda não foi revelada.

Em suas redes sociais, o Flamengo homenageou o ídolo. Ele morreu aos 80 anos. A causa da morte não foi revelada. Mas Batuta estava internado há dez dias no Hospital Pró-Cardíaco, em Botafogo, por ter contraído Covid-19.

Fonte: O Globo
publicidade
publicidade