Clube mais rico do futebol brasileiro nos últimos anos, o Flamengo enfrentou críticas por sua política de contratações em temporadas recentes. Em 2025, ao assumir o comando do futebol rubro-negro, José Boto estabeleceu como prioridade a reformulação do departamento de scout.
O português contratou novos profissionais para mudar processos, criar etapas e passar e deixar tudo com a cara dele. Quem comanda a área é o ucraniano Andrii Fedchenkov, com quem Boto havia trabalhado no Shakhtar Donetsk (Ucrânia) e no PAOK (Grécia). Mas você sabe como funciona um departamento de scout? O ge foi ao Ninho do Urubu para entender como o Flamengo mapeia o mercado para se manter competitivo na briga por títulos.
Há poucos meses no Brasil, Andrii fala português perfeitamente. Ele começou a carreira no FC Karpaty, da Ucrânia. Em 2018, chegou ao Shakhtar, contratado por Boto. Os dois trabalharam juntos por quatro anos no clube antes de seguirem para o PAOK. Em 2023, o ucraniano foi para o Cardiff, do País de Gales, antes de reencontrar o diretor português no Rio de Janeiro.
O Flamengo tem, hoje, uma equipe de cinco pessoas no departamento de scout do futebol profissional, dois deles recém-chegados. A escolha por trabalhar com um grupo menor foi do clube, já que algumas equipes da Europa preferem usar, por exemplo, 20 ou 30 scouts.
Eles ficam no Ninho do Urubu, em sala dentro de um espaço restrito, ao qual poucas pessoas têm acesso. Por lá, fazem reuniões às segundas e sextas-feiras para debater jogadores e ideias. A rotina, no geral, se adapta às demandas, mas o contato é diário.
– Para nós, é importante o fluxo da informação. Que seja fácil e rápido. No mundo do futebol, você não pode perder muito tempo pela comunicação, então queremos que flua muito rápido. Por isso a equipe mais curta. Podemos nos comunicar com os scouts todos os dias, sem perder tempo – explica Andrii.
José Boto fez carreira na Europa como chefe de scout. Por isso, chegou ao Fla com uma ideia clara de mudança no departamento. Em sua única janela de transferências até o momento, o português admitiu que o processo ainda não estava sendo feito com sua metodologia preferida . Nela, os scouts passam os nomes com antecedência para que sejam analisados com calma por dirigentes e integrantes da comissão técnica.
José Boto e Andrii Fedchenkov, diretor de scout do Flamengo — Foto: Gilvan de Souza/CRF
Os dois jogadores contratados — Juninho e Danilo — surgiram da experiência de Boto e de Filipe Luís para identificar alvos. Na próxima janela, em junho, a metodologia Boto estará mais bem estabelecido.
— Estamos cada dia mais perto de estarmos satisfeitos. Não posso dizer que encontramos algo ruim, mas tínhamos que melhorar muitas coisas, implementar outras. Por exemplo, criamos uma base de dados em uma plataforma, criamos o modelo do relatório do jogador concreto e detalhado. São detalhes muito importantes que tínhamos que fazer. Um dos últimos passos é a contratação dos dois profissionais – afirma Andrii.
O processo com a antiga diretoria ocorria de maneira diferente. Sempre houve um departamento de scout que fazia indicações e análises, mas a estrutura também contava com o "conselhinho", que mudou de figuras ao longo dos seis anos de Rodolfo Landim no comando.
No fim do mandato, estavam nessa formação Diogo Lemos (VP de gabinete), Reinaldo Bellotti (CEO do clube), Bernardo Amaral (VP de planejamento) e José Luiz Correa (Comissão de Finanças do Conselho Deliberativo). Esse grupo participava da etapa de proposição dos nomes que seriam debatidos depois entre Marcos Braz, Bruno Spindel, presidente e o treinador.
Depois, a dupla de dirigentes iniciava as negociações e frequentemente viajava para a Europa, algo que não acontece, atualmente, com Boto.
As novas tecnologias facilitam a vida dos scouts. Se antigamente era necessário estar in loco em todas as partidas, agora o profissional acessa diversos sistemas em busca das informações e vídeos. No Flamengo, a ideia é estar no estádio em situações específicas, quando há um alvo pré-estabelecido que requer uma análise detalhada. Entre as plataformas usadas, estão Hudl Statsbomb, Scoutastic e Wyscout.
— Acreditamos que, para o resultado e o sucesso sustentável, é muito importante criar o processo. Processo bem definido, claro, com todos os membros do departamento alinhados. Foi o nosso foco nesses primeiros meses. Criar um processo bem claro desde a identificação do jogador até o ponto da apresentação dele ao diretor técnico ou treinador. Depois, a coisa que eu acho que ainda estamos melhorando, mas estamos trabalhando muito, é a integração da análise de dados no nosso departamento. Temos um departamento separado e excelente no clube para isso. Estamos nesse processo de ligar os dados com o scout para tomar melhores decisões ao final — conta o ucraniano.
Os nomes não surgem do nada. Nesse ponto também entra o trabalho do técnico Filipe Luís, que se envolve nos processos e busca reforços alinhados com seu estilo de jogo. No primeiro encontro com José Boto, ainda no ano passado, o comandante rubro-negro já deixou claro qual perfil desejava.
— Foi uma das primeiras coisas que alinhamos quando chegamos. É o que a gente chama de perfil do jogador. Ou seja, quais são as características fundamentais da posição e as características, digamos, secundárias da posição. Por isso, é muito fácil e muito bom trabalhar com o Filipe. Ele tem o estilo do jogo bem definido, sabe perfeitamente o que quer do jogador de cada posição. Às vezes, você tem treinadores que estão pedindo um jogador perfeito, que não existe. Que tenha todas as habilidades do mundo. Não funciona assim. O Filipe é muito claro com o que quer. Temos um documento e para cada posição temos as habilidades, as métricas, as características necessárias — diz Andrii.
Nos últimos anos, houve uma mudança perceptível no pensamento dos clubes. Com tecnologias mais avançadas, as equipes se organizaram para melhor adaptação ao novo cenário.
— Na Europa, os clubes começaram a investir 10 ou 15 anos atrás. No Brasil, nos últimos três, cinco anos. Talvez porque o lugar do Brasil no mercado do futebol global mudou um pouco. Há 10, 15 anos, o Brasil foi mais exportador dos talentos, todo mundo sabia que podia chegar e comprar atletas. O país sempre teve uma captação de base. Nos últimos anos, clubes brasileiros começaram a investir mais no talento fora do país. Para fazer esse tipo de investimento, precisa dos profissionais que fazem esse trabalho — relata Andrii.
— Tem uma parte do trabalho do departamento que é um pouco invisível para a torcida. Porque todo mundo fala sobre os jogadores que a gente contrata. Mas não se fala muito sobre os jogadores que o clube não contrata graças ao trabalho de scout. E isso, muitas vezes, salva o clube de cometer um erro e fazer um investimento errado — completa.
Há uma diferença importante dentro dos clubes entre os departamentos de scout, análise de dados e análise de desempenho. Muitas vezes, esses setores estão integrados, mas no Flamengo há uma separação. O scout se debruça sobre o mercado e sugere as contratações. O analista de dados ajuda a, claro, levantar os dados, filtrar jogadores e aprofundar as informações dele. Por fim, o analista de desempenho trabalha com avaliação de adversários e dos atletas do elenco, principalmente.
Passo 1: identificação dos jogadores
O pontapé inicial na busca por reforços pode ser de diferentes formas. Seja com uma observação do departamento de scout durante as partidas, indicações de fora ou nomes levados por José Boto e Filipe Luís. As possibilidades são muitas.
Passo 2: análise
Com um nome escolhido, os scouts passam para o momento da análise, uma mais curta e outra mais detalhada, que acontece junto aos analistas de dados. O objetivo aqui é ter todas as informações possíveis sobre as características dos atletas.
Passo 3: checagem do “fora de campo”
Neste momento, o Flamengo avalia tudo o que acontece com esse atleta fora do campo. As pessoas que o cercam, comportamento e qualquer coisa que possa influenciar no rendimento caso ele chegue ao Rio de Janeiro. Esse é o chamado “background check”.
Passo 4: apresentação
Depois que o jogador é aprovado em todas essas etapas, o scout faz um relatório detalhado para o treinador e o diretor com pontos fortes, pontos a melhorar e um vídeo do jogador. A parte financeira está sempre dentro dos estudos do departamento, mas a prioridade é o perfil do atleta.
Passo 5: negociação
José Boto assume a partir desse ponto para negociar. Cada caso é um caso e as formas de conversas mudam de acordo com cada atleta.
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