Romário marcou torcedores de Flamengo , Vasco , Fluminense , Barcelona e PSV. Na Holanda, aliás, foi tão bem que quebrou um paradigma e virou estudo de caso. O sucesso na cidade provinciana fez o clube criar a cultura de garimpar brasileiros. A herança do Baixinho cobrou um preço nada pesado décadas depois. Durante a corrida pelo gol mil, o camisa 11 ligou para Eindhoven atrás de estatísticas preciosas.
Foram cinco anos na Holanda com direito a 165 gols — muitos deles localizados em 2007.
A história é contada no livro Soccernomics , de Simon Kuper e Stefan Szymanski. Os autores citam Guus Hiddink, treinador de Romário no PSV. O histórico técnico holandês contou o método usado para manter o atacante brasileiro motivado e desafiado no dia a dia no PSV.
Hiddink viajou ao Rio de Janeiro para convencer Romário a assinar com o PSV. Na Holanda, o treinador designou a um fisioterapeuta do clube a missão de acordar o atacante. Nos treinos, haviam concessões para o astro do time e também provocações. Uma delas foi em relação ao horário de uma reunião.
Romário tinha por hábito se atrasar, mas depois de ouvir tantas cobranças e receber muitas multas, o agora senador sincronizou o relógio particular com o do CT. Hiddink notou e adiantou o relógio da sala em um minuto no dia anterior. Quando o baixinho chegou, ouviu que estava atrasado.
"Eu dispensei e ele ficou aborrecido", contou o treinador em sua biografia autorizada.
Romário ficou fora de um jogo do Campeonato Holandês e voltou em partida da Liga dos Campeões, contra o Steaua Bucareste. Irritado antes, durante e depois do confronto, o Baixinho descontou nos romenos: fez três gols.
"A gente se encarou no vestiário depois do jogo. Ele entendeu, eu também. O jogador realmente extraordinário entende. É um jogo, mas um jogo perigoso. Só se pode jogar uma vez", lembrou Hiddink.
Os gols de Romário fizeram o PSV investir em Ronaldo, Vampeta, Alex, Gomes e também houve tentativa por Robinho. Atualmente, Pepê — meia-atacante do Grêmio , está na mira.
Os dirigentes do clube entenderam que era preciso ceder em alguns hábitos para ter retorno em campo. Romário entregou tudo em troca da ajuda no dia a dia, com regalias que tornaram mais fácil a adaptação a um continente completamente estranho.
Depois de deixar a Holanda, Romário ajudou o PSV pelo menos uma vez. Foi quando ligou para Ronaldo e parabenizou o atacante que anos depois ganharia o apelido de Fenômeno pelos gols marcados em jogo recente. O contato, óbvio, foi motivo de orgulho para o jovem ex- Cruzeiro . A história foi repetida várias vezes nas dependências do clube, segundo o relato do livro.
O pedido de ajuda
Quando lançou a ideia de chegar aos mil gols, Romário começou a contar as bolas que mandou para a rede. Os números precisavam ser exatos e chegar o mais perto possível da meta. Foi então que o telefone tocou na Holanda. O Baixinho ligou para o clube e para um jornal local atrás de registros de partidas disputadas contra clubes pequenos.
O livro Soccernomics chega a mencionar "jogos de pré-temporada". A definição foi dada por Hans van Breukelen, repórter da publicação local e que conviveu com Romário. Os dados foram passados e o resto é história.