Rodolfo Landim afirma ser favorável a implementação de SAF no Flamengo e dispara: "Eu quero o Flamengo bem"

Na recente entrevista concedida ao “ge”, o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, abordou um tema que vem gerando intensos debates entre dirigentes e torcedores rubro-negros: a possível transformação do clube em uma Sociedade Anônima de Futebol (SAF) e qual modelo seria adotado nesse processo.

Landim expressou sua inclinação favorável à adoção de uma SAF no Flamengo, porém com características distintas das já existentes no futebol brasileiro. Ele sugere a criação de uma empresa como o caminho ideal para a construção do tão almejado estádio, argumentando que esse modelo possibilitaria erguer a arena sem recorrer a endividamento, preservando os investimentos no futebol.

Para embasar sua visão, Landim mencionou o caso do Bayern de Munique, que estabeleceu uma empresa com o mesmo nome da associação civil e vendeu participações minoritárias para três empresas alemãs, com as quais mantém parcerias de longo prazo. Empresas como Adidas, Allianz e Audi possuem 8,3% cada da empresa Bayern, enquanto a associação detém 75% e o controle.

O presidente revelou ter dialogado com possíveis investidores estrangeiros, destacando o interesse tanto de fundos de investimento quanto de empresas. Ele acredita que uma potencial venda de 25% de uma SAF rubro-negra, mantendo o controle da associação, viabilizaria a construção do estádio de maneira mais segura.

— Criar uma empresa que é dona do futebol, e eu faço uma diluição dela a exemplo do que o Bayern fez, que vendeu 25% dessa empresa com aumento de capital. Então, se 75% valem R$ 4,5 bilhões, coloca R$ 1,5 bilhão do lado de cá e fica com 25%. Eu posso vender para três caras como o Bayern fez: um que queira o naming rights, um que queira se associar ao Flamengo por 50 anos pela importância que o Flamengo tem ou por algum aspecto estratégico que possa trazer. E aí eu tenho dinheiro para fazer o estádio.

— Mas vamos lá que eu não consiga fazer isso e eu precise colocar algum dinheiro… Eu tenho a finança estruturada para eventualmente botar esse dinheiro. A estrutura de fazer estádio é idealmente sem precisar focar no dinheiro. Mas, se eventualmente for necessário, eu tenho o clube estruturado para não me criar problema. O que eu quero é que o Flamengo, se for fazer um estádio, cresça ainda mais a capacidade para melhorar as receitas de match day e conseguir melhorar ainda mais o desempenho financeiro do Flamengo. É como eu penso — detalhou Landim.

Landim argumenta que o modelo de governança de uma empresa possibilita a preservação do legado construído ao longo dos 11 anos de reestruturação financeira do Flamengo.

— O clube, uma associação desportiva, não tem dono. Os donos são os sócios do clubes que têm o seu título. Têm o olhar apaixonado de torcedor, e não é um olhar de quem está preocupado estruturalmente com a saúde financeira. E a preocupação que eu tenho é que talvez nem todo mundo tenha sido forjado na vida, falando um pouco de mim, como eu fui. Eu não tenho problema de assumir desgaste, de resistir à pressão, mas isso é uma questão pessoal.

— Fica a dúvida de quem vai sentar na cadeira, se o cara aguenta a pancada. Porque na hora da pancada às vezes saem as decisões de “Vamos comprar alguém para calar a torcida”, “Vamos fazer não sei o quê”... Então, o pouco de gente que coloque dinheiro e vá cobrar porque tem dinheiro na mesa vai cobrar disciplina de capital nas tomadas de decisão. Para mim, seria algo bom para o legado futuro do clube.


Em relação às críticas que sugerem a utilização da SAF para perpetuação no poder do clube, o presidente afirmou que assinaria um compromisso para não ocupar o cargo de CEO da eventual empresa. Entretanto, ele não pretende se afastar da política do clube, mesmo com o fim de seu mandato em dezembro.

— Já falaram isso. Pensam isso. Não tem problema nenhum, eu assino um papel de que jamais serei CEO de SAF alguma, com o maior prazer. Isso não é pessoal, é um problema estrutural. Eu quero o Flamengo bem. Estou dedicando seis anos da minha vida ao Flamengo, eu poderia estar trabalhando e ganhando dinheiro. Mas faço isso pelo fato de que entrei com um grupo de malucos que veio comigo para cá. Isso aqui é um sonho nosso. De fazer alguma coisa por algo que é importante na nossa vida. Isso é difícil de explicar porque o Flamengo tem essa dimensão na vida, mas tem.

— O que eu acho é que, se eu tiver alguma coisa a mais para contribuir para o Flamengo depois desses seis anos, e é algo que eu tenho discutido com alguns sócios para ver se ajudo a fazer, são essas transformações estatutárias que permitam dar um pouco de segurança a continuidade de uma gestão com disciplina de capital no clube.

Quanto às finanças, Landim confirmou que o Flamengo está se preparando para o grande investimento no estádio. Apesar de continuar contratando jogadores, o clube não possui dívidas bancárias, reduziu obrigações fiscais pendentes e evita criar novos compromissos. Essa estratégia visa deixar a associação em condições adequadas para iniciar as obras da futura arena.

— Eu ouço muitos jornalistas esportivos fazendo comentários interessantes. Falam de gestão de empresa e eu ouço: “O Flamengo do jeito que está estruturado, vai passar 10 anos com desempenho maravilhoso”. E eu digo para vocês: com três meses de má gestão dá para destruir o Flamengo. Não precisa de muito tempo. Com a minha caneta, dá para destruir o Flamengo. Tudo o que se construiu a gente destrói em três meses. Eu compro o Neymar, o Mbappé e mais um. Coloco 600 milhões de euros de dívidas no balanço do Flamengo.

Confira outros tópicos na entrevista exclusiva que Rodolfo Landim concendeu ao “ge”.

A responsabilidade sempre é do presidente?

— É exato. Isso é uma grande verdade. No fundo, quem tem a caneta e quem tem o poder de mudar é o presidente do clube. Eu tenho o poder de trocar quem eu quiser. Se alguma coisa foi feita errada, a culpa é minha. Se foi feita certa, a equipe é brilhante, boa e mereceu. Se deu errado, é minha. A vida é assim. A responsabilidade maior é minha. Eu continuo achando isso. Os problemas do Flamengo, quando tem problemas, sou eu o responsável. Se foi cometido o erro por alguém, foi alguém que eu coloquei lá e dei poder para ele tomar essa decisão que saiu errada. No fundo, é isso mesmo.

Diferenças para as outras SAFs

— Essa palavra SAF é complicada. Ela traz uma percepção para as pessoas porque elas não conseguem dissociar a palavra SAF do modelo SAF que tem no Brasil, que veio para salvar clubes. Quando fala em SAF, pensa no Botafogo, Cruzeiro e Vasco, que eram clubes que precisavam de dinheiro para pagar conta de água, que estavam com tudo atrasado. É difícil imaginar você estruturar o modelo de uma empresa, com participação não majoritária, porque quem é dono do Botafogo é o Textor, quem toma decisão no Vasco não é o Pedrinho, que foi colocado pelos sócios, é o Josh, ele que manda. Não é esse modelo. O Flamengo nunca vai deixar de ser o clube plural, que você tenha sócios para escolher o mandatário, como é o Bayern.

— Eu estou chamando atenção porque a palavra SAF é maldita. Ela diz que o Flamengo vai deixar de ser tocado, como sempre foi, pelo seu clube. Mas não é isso. Seria uma estrutura financeira distinta, mas com a governança ainda controlada pelos sócios do clube, porém, com proteções de quem colocou capital lá, que vai querer que uma série de regras de disciplinas de capital sejam implantadas. É isso. Mas é difícil, emocionalmente, conseguir conduzir com os sócios.


Fonte: S1Live