Rodado e de bom trânsito de "A a Zico", Mattos preside Fla por um mês

Maurício Gomes de Mattos acompanhou as semifinais da Liga dos Campeões. A foto foi tirada no Santiago Bernabéu (Foto: Reprodução) Maurício Gomes de Mattos acompanhou as semifinais da Liga dos Campeões. A foto foi tirada no Santiago Bernabéu (Foto: Reprodução)

O advogado Maurício Roberto Gomes de Mattos, de 54 anos e formado pela Faculdade Brasileira de Ciências Jurídicas, presidirá interinamente o Flamengo entre 22 de maio e 26 de junho caso o Brasil chegue à final da Copa América Centenário. Substituirá Eduardo Bandeira de Mello, "convocado" para chefiar a delegação da seleção brasileira na competição. Ser o mandatário do clube de coração é um desejo antigo de Maurício Gomes de Mattos, embora ele evite confirmar tal intenção. Sócio rubro-negro desde 2002, Maurício tem ao seu favor a larga experiência dentro do Fla. Em 2004, assumiu a vice-presidência do Fla-Gávea durante a gestão Márcio Braga. Seis anos depois, foi eleito presidente do Conselho de Administração, cargo para o qual foi reeleito no primeiro mandato de Bandeira. Atualmente é vice-geral.

Dentro do Flamengo, Maurício é conhecido pela flexibilidade. Conversa com gregos e troianos. Dirigente que já trabalhou com o futuro presidente interino lança mão de metáfora para defini-lo: "O Maurício vai ao clube todo dia, respira Flamengo 24 horas por dia. Almoça com Márcio Braga de manhã e janta com o baixo clero à noite. Conversa com sócios de A a Zico". O mesmo garante que a dedicação do atual vice-geral ao Rubro-Negro é integral, relatando encontros semanais de Mattos com diversas correntes políticas.

Apesar da maleabilidade, Maurício tem um episódio que gera questionamentos internos contra si. Sócio do escritório Gomes de Mattos Advogados Associados, foi contratado em 2003 pelo Atlético de Madrid para defender causa contra o Flamengo. Os madrilenos alegavam à época não ter recebido corretamente pela negociação do ex-zagueiro Gamarra, contratado em 2000. A situação fez com que opositores à Chapa Azul o chamassem de "Maurício Gamarra" durante o último pleito.

No ano seguinte, deixou a causa, convencido por Márcio Braga a assumir a vice-presidência do Fla-Gávea, cargo à época denominado como vice-presidente social. O próprio garante que, apesar da saia justa, consta em ata que os dirigentes da época aceitaram sua inclusão no quadro diretivo.

Mesmo à frente do Fla-Gávea, Maurício se orgulha de ter advogado sem receber honorários, segundo o próprio, a favor do Flamengo no mesmo ano de 2004 em busca da obtenção de CNDs (Certidões Negativas de Débito) que permitiram ao clube interromper uma dívida de oito meses de salários atrasados com funcionários e cinco meses em relação ao elenco de futebol. Mattos também destaca a importante atuação de Rodolfo Landim, vice de planejamento no mandato de 2013 e 2015 e presidente da BR distribuidora na época da crise anteriormente relatada. Tais certidões possibilitaram o recebimento do dinheiro de patrocínio proveniente da Petrobras.

Há também quem o trate como botafoguense, mas Maurício garante que o alvinegro da família é seu irmão Mauro Roberto Gomes de Mattos. Consigo tem várias fotos vestindo vermelho e preto e de seus filhos ao lado dos jogadores em partidas cruciais do clube na década passada.

Divergências com o SóFla, braço principal da atual administração

Membro do grupo político FAT (Flamengo Acima de Tudo), um dos que apoiaram a reeleição de Bandeira, Maurício não era unanimidade para ser vice-geral do clube entre integrantes do SóFla (Sócios pelo Flamengo), principal pilar da campanha da Chapa Azul nas eleições do fim de 2012 e 2015. Correntes políticas rubro-negras garantem que não foram poucas as divergências entre ele e Rafael Strauch, atual vice-presidente de administração.

O choque mais emblemático entre Maurício e o SóFla deu-se em fevereiro, quando indicou Sebastião Pedrazzi, vice de finanças no último mandato de Márcio Braga, como candidato à presidência do Conselho Fiscal. Pedrazzi teve como vice José Pires, do grupo União Rubro-Negra, cujo um dos líderes é Cacau Cotta. O SóFla, por sua vez, apoiava Mário Esteves Filho, reeleito para presidir o CoFi em 22 de março.

Um dos candidatos à presidência do Conselho Fiscal, Francisco Gularte, viu a movimentação como um indício de que Maurício Gomes de Mattos tentará presidir o Flamengo em 2018.

-  Eu acho que isso é um plano para 2018, para virar candidato da oposição. Está firmando uma posição. É isso que está fazendo. O que eu acho é que não pode ter um Conselho Fiscal de membros do SóFla, que dominam a administração. Eu tentei chegar no SóFla e no FAT para fazer uma chapa mista, que é o que acho que precisa para fiscalizar o clube. Não uma chapa azul para fiscalizar os azuis. E aí o Maurício Gomes de Mattos teve a ideia de fazer uma chapa azul clara. Pegou o azul e jogou água sanitária, desbotou - disse Gularte, em entrevista ao blog Bastidores F.C., do GloboEsporte.com, em fevereiro.

À época, Maurício negou e disse que o próximo candidato do grupo que atualmente administra o Flamengo será eleito de forma unânime entre três grupos.

- - Não sou candidato. O candidato sairá do SóFla, FAT e Sinergia. O nome que sair estarei junto apoiando. Ninguém é candidato de si próprio.

Se o Brasil for bem na Copa América, Maurício terá mais de um mês para ficar à frente do comando do Flamengo. Será um presidente com plenos poderes ou sofrerá resistência de grupos que não o veem como nome ideal? É aguardar e conferir.



Fonte: Globo Esporte