No clássico em que dominou o Vasco, mas deixou escapar a vitória nos minutos finais, o Flamengo estreava Alex Sandro e Gonzalo Plata. Na véspera, o líder Botafogo colocou em campo pela primeira vez os laterais Vitinho e Alex Telles para derrotar o Corinthians. O time paulista viu Carrillo jogar seus primeiros minutos pelo clube, enquanto Memphis Depay ainda busca a melhor forma.
No Sul, derrotado pelo Juventude, um Fluminense que ainda tem urgências no campeonato estreou o lateral colombiano Fuentes, enquanto o São Paulo foi ao Mineirão derrotar o Cruzeiro com três caras novas: um brasileiro, um irlandês e um argentino.
A rodada do fim de semana colocou em campo 19 jogadores que até a última semana de agosto jamais haviam vestido a camisa de seus clubes. Eles são as mais recentes aquisições de uma janela de transferências que, pela segunda vez no ano, ultrapassou R$ 1 bilhão em gastos com direitos econômicos, além de ter atraído nomes de impacto. É uma demonstração de vigor do mercado brasileiro, mas que encobre um dilema difícil de resolver.
Enquanto nossa temporada já passou da metade, as principais ligas europeias mal começaram. E viveram, em agosto, os dias finais de suas janelas de registros. O que, em tese, induz o Brasil a manter aberto o seu período de inscrições para permitir a reposição de perdas. O efeito colateral é ver times passando por reformulações quase completas com 70% do principal campeonato do país disputado. Num regime de urgência, clubes correm atrás de jogadores que atuarão por três meses em algumas equipes daqui.
Mundo afora, a segunda janela de registros do ano funciona como uma espécie de ajuste, com pequenas correções do plano original. Não vale para o Brasil. Aqui, grandes oportunidades para clubes mais ricos se abrem no verão europeu, assim como a necessidade de repor as inevitáveis vendas. As mais recentes chegadas coincidem com a 26ª rodada do Campeonato Brasileiro, a aproximação da semifinal da Copa do Brasil e a preparação para as quartas da Libertadores. Há times que parecem encaixar reforços de modo menos traumático, como o líder Botafogo ou o Palmeiras. Outros, como o Flamengo, correm para suprir lesões de um calendário massacrante e também a lentidão do clube, num país permissivo com quem demora a resolver questões de seu elenco. De alto a baixo na tabela, são muitos os times que aparentam estar em permanente processo de formação em plena reta final do ano. Não é natural ter um campeonato de elite com times tão fortemente impactados a 12 rodadas do fim.
Claro que jogadores como Alex Sandro, Plata, Vitinho ou Alex Telles – sem falar em Felipe Anderson ou Maurício, contratados algumas semanas mais cedo - formarão a base de Botafogo, Flamengo e Palmeiras nas próximas temporadas. É assim nos times mais ricos. Mas, a janela escancarada do Brasil induz a uma corrida às compras para solucionar problemas que persistiram por boa parte do ano. É uma tentativa e erro que dá pouco prêmio a quem se planeja bem em janeiro. Não solucionar problemas durante oito meses do ano custa barato no Brasil.
O que se cria são relações instáveis. O Atlético-GO, último colocado na tabela, trouxe oito reforços. Ao menos metade deles têm contrato apenas até dezembro. Ou seja, os que chegaram em julho jogarão pelo Dragão por pouco mais de quatro meses. O mesmo acontece com o Criciúma, que foi buscar seis reforços, quatro deles com vínculo até o fim desta temporada. Já o Juventude, que contratou sete jogadores, fez contrato até o fim do ano com quatro deles.
Há mais dinheiro em nosso mercado, mas a sensação de eterna instabilidade nos times não nos faz bem.
FERIDA ABERTA
É humano que eliminações em Copas do Mundo marquem jogadores e treinadores. É igualmente humano que seja difícil mexer em tais memórias. Mas é parte do trabalho. Tite sempre respeitou imensamente a imprensa, mas se equivocou ao dizer que o jornalista “não podia” abrir uma ferida ao traçar paralelos entre o gol do Vasco no domingo e o gol da Croácia no Catar. A pergunta, mais do que pertinente, era quase inevitável.
CORRIDA DE DOIS
O Palmeiras oscilou na temporada, mas exibe suas versões mais promissoras desde que caiu nas copas e pôde dedicar foco e fôlego ao Brasileiro. O Botafogo, mesmo envolvido na Libertadores, joga o melhor futebol do país e tem fartura no elenco para o sprint final. Diante de um Fortaleza que pontua mais do que rende, e de um Flamengo que se distancia, é justo entender as 12 rodadas que restam como uma corrida de dois times.
VIRADA NO SUL
O rendimento atual do Fluminense indica que a fuga do rebaixamento tende a ser natural. Mas a virada sofrida em Caxias do Sul pune o time em duas frentes: não deixa o tricolor abrir uma margem de segurança do Z-4, e impede o time de dosar forças no clássico com o Botafogo, que será entre as duas partidas da Libertadores, contra o Atlético-MG. Após um primeiro tempo absoluto, o time sucumbiu de forma muito fácil à pressão do Juventude.