Rivais em campo, Flamengo e Botafogo investem alto nas TVs próprias de olho em receita e aproximação com o torcedor

Faz tempo que os torcedores brasileiros não dependem mais apenas das mídias tradicionais para acompanhar seu time. Entre os novos canais, estão as televisões de clubes, que passaram por uma guinada desde o período da pandemia do coronavírus, no qual grande parte das pessoas aumentou seu tempo na frente das telas. Mais do que isso, tornaram-se plataformas estratégicas para as instituições em diversas pontas. Flamengo e Botafogo , que fazem clássico hoje às 18h30, pelo Brasileirão, no Maracanã, vem sendo dois bons exemplos.

O alvinegro remodelou a Botafogo TV em março de 2024, e trabalha há mais de um ano em um moderno estúdio dentro do estádio Nilton Santos. Nele, mantém um elenco que faz principalmente transmissões de partidas. O projeto quadriplicou a audiência em seu primeiro ano, e deu ao clube mais de 500% em retorno financeiro, com patrocinadores e retorno orgânico das plataformas, a principal delas o YouTube.

— Seguramente, é o melhor produto de comunicação que o Botafogo tem para se relacionar com o torcedor e se assegurar como marca — diz o diretor de comunicação Julio Gracco ao GLOBO. — Entendemos que era um canal estratégico para o clube. Foi o primeiro a implementar transmissões para o mundo todo. Ficamos muito satisfeitos que outros clubes seguem.

A Botafogo TV tem sido usada pelo setor de marketing para atrair parcerias e gerar novas receitas. Se a transmissão nacional de jogos do Brasileirão ainda não é uma realidade — apenas em áudio —, o público estrangeiro já pôde acompanhar as partidas do alvinegro com narração em inglês, feita pelo jornalista Roby Porto, com o objetivo de alcançar o máximo de público estrangeiro.

Porém, não falta atenção para o torcedor local, em especial quando há compromissos dos times feminino e de base.

— Os jogos tem que ser cobertos na máxima abrangência, para o torcedor já saber onde assistir. Queremos avançar nisso — conta Gracco.

Equipe da TV do Botafogo — Foto: vitor silva/botafogo
Equipe da TV do Botafogo — Foto: vitor silva/botafogo

Os profissionais do elenco são todos alvinegros e houve preocupação para que a equipe tivesse uma divisão igualitária de gênero. passada para o torcedor reflete no time. Sem haver uma invasão de espaços, estes dois lados não andam distantes no dia a dia. Inclusive, sempre há conteúdos especiais com os jogadores e transmissões pontuais de treinos no CT Lonier.

— Hoje, os jogadores nos procuram para propor pautas e desafios entre eles. Eles veem que o conteúdo é feito por companheiros de trabalho — revela o diretor de comunicação.

Além de novos quadros pensando no Mundial de Clubes, que começa no mês que vem nos Estados Unidos, o próximo grande projeto em vista será a Botafogo Films, voltada exclusivamente para produção de documentários sobre a história do alvinegro:

— Estamos começando a tocar projetos estratégicos. Vamos lançar a Botafogo Films, com documentários e minidocs, sobre a história, títulos e jogadores — antecipa Gracco.

Sob nova direção

A mudança de filosofia no rival acontece há menos tempo. A nova Flamengo TV foi lançada em março deste ano com algumas ideias similares e outras contrastantes. O clube contratou os jornalistas João Guilherme e Daniela Boaventura, que encabeçam as transmissões dos jogos — também em áudio — e uma vasta gama de conteúdos semanais. A conta ainda inclui os eventos de esportes olímpicos, como as partidas do time de basquete.

Os jogos do Brasileirão também contam com transmissões internacionais. A diferença é que são feitas em português e querem atingir o flamenguista fora do Brasil— o clube estima estarem na casa das 900 mil pessoas. A venda desse conteúdo é feita de maneira avulsa ou em um pacote de assinatura que engloba todas as partidas como mandante no campeonato.

Ainda há o plano de erguer um estúdio novo na sede da Gávea, além do utilizado no Maracanã e no Ninho do Urubu. Além dos jogos, a programação inclui noticiários e tem até quadros de brincadeiras com as redes sociais.

— Os clubes de futebol possuem uma legião de torcedores ávidos por conteúdos. Ninguém melhor do que a própria instituição para gerar esses materiais diferentes e especiais, mas é preciso ter planejamento e estrutura para gerar engajamento e monetizar da forma adequada — analisa Fábio Wolff, sócio-diretor da Wolff Sports e especialista em marketing esportivo.

Equipe da TV do Flamengo — Foto: hermes de paula/flamengo
Equipe da TV do Flamengo — Foto: hermes de paula/flamengo

O rubro-negro lançou a nova plataforma de maneira agressiva, planejando que ela se torne uma das dez maiores do mundo do futebol. As inspirações para a internacionalização são as TVs dos gigantes espanhóis Real Madrid e Barcelona.

Futuramente, o Flamengo quer que as receitas geradas por sua TV se tornem um centro de custo tão importante que ajudem até mesmo na contratação de jogadores para o elenco. Os valores não viriam apenas do retorno das plataformas, mas também dos acordos comerciais selados a partir dela, algo que o Botafogo já vem realizando.

Procurado pela reportagem do GLOBO, o clube não quis comentar oficialmente sobre a plataforma. Os dois meses ainda representam uma espécie de "quarentena" para entender os prós e contras.

Por fim, Botafogo e Flamengo convergem na questão da linha editorial, levando ao público apenas informações oficiais e respeitando a blindagem dos departamentos de futebol. Cabe ao torcedor dosar a escolha de um conteúdo não tão crítico, mas também feito "em casa".

Fonte: O Globo
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