Um dos réus no processo pelo incêndio no Ninho do Urubu, que matou dez jovens jogadores do Flamengo em 2019, o técnico em refrigeração Edson Colman apontou em sua defesa na Justiça o que considera uma falha na linha de investigação da Polícia Civil e, posteriormente, confirmada em denúncia pelo Ministério Público.
Segundo os advogados de Edson, o aparelho de ar condicionado que seu cliente consertou dias antes do incêndio não foi o que teria provocado o incêndio. O equipamento consertado estava localizado no quarto 2 ou 3 do container e não no quarto 6, onde teve início o incêndio, segundo perícia . A informação foi confirmada por depoimentos feitos à Polícia, entre eles, da assistente social Gabriela Espinoza.
Defesa de Edson Colman, réu no processo decorrente do incêndio no Ninho do Urubu — Foto: Reprodução
Além da assistente social, o próprio Edson forneceu esta informação à Polícia Civil, em seu depoimento durante a fase de investigações. O esclarecimento deste ponto, no entanto, não foi abordado nas argumentações do relatório policial.
"O reparo realizado no aparelho do quarto 2 ou 3 não foi causa determinante ou relevante para ocorrência do incêndio. Já o laudo, conforme previamente apontado, afirma que o incêndio se iniciou no aparelho de ar-condicionado do quarto 6. Como se pode ver, ambos os depoimentos são convergentes no que diz respeito ao reparo realizado não ter relação com o ar condicionado que deu causa ao incêndio", sustenta a defesa à Justiça.
Na petição, Edson também dá ênfase à afirmação de que ele não era responsável pela manutenção elétrica do Centro de Treinamento, mas sim pela manutenção dos aparelhos de ar condicionado do Ninho . Para sustentar a afirmação, seus advogados anexam o contrato de prestação de serviços da empresa Colman Refrigeração LTDA, documento que já havia sido levado à Polícia Civil.
“Admitir que um técnico de refrigeração seja responsável pela instalação elétrica de um estabelecimento é o mesmo que exigir do jogador de futebol a responsabilidade pela manutenção do gramado do estádio”, afirmam os advogados que assinam a defesa, Bruno Rodrigues e Juliana Marmello da Silva.
“(...) como atribuir a alguém que era apenas responsável pela manutenção de aparelhos de ar-condicionado a responsabilidade de trocar disjuntores? Quando o Defendente foi contratado não lhe foi solicitada a realização de vistoria na rede elétrica dos aparelhos para identificar possíveis falhas na instalação".
Dessa forma, a defesa nega que Edson tenha qualquer responsabilidade nos problemas elétricos que porventura tenham levado ao incêndio, como ter sido responsável por checar as capacidades dos disjuntores, um dos pontos centrais da denúncia do MP.
Troca de peça
Quanto à afirmação das investigações de que Edson teria "excluído a conexão de segurança" do aparelho no qual fez o reparo, os advogados afirmam que a peça retirada foi o "motor do ventilador" e que o equipamento "não é um dispositivo de segurança". Para comprovar tal afirmação, a defesa pede que a Justiça providencie perícia para verificação.
Para os advogados, as oscilações no fornecimento de energia elétrica na região do Ninho do Urubu, em Vargem Grande, podem ter sido a causa inicial do incêndio. Eles pedem que o juízo oficie a companhia de energia do Rio de Janeiro, a Light, questionando se houve oscilações de eletricidade no Ninho do Urubu naquela madrugada.
Defesa de Edson Colman, técnico em refrigeração, sugere que oscilações de energia levaram a incêndio — Foto: Reprodução
Por fim, os advogados de Edson afirmam que a denúncia é contraditória e não explica qual foi a responsabilidade dele no incêndio .
"(...) além de lhe atribuir responsabilidades que não lhe diziam respeito a sua contratação, não menciona quais foram as omissões cometidas, de que forma os atos do acusado contribuíram para o resultado e nem, ao menos, indicam a conduta que deveria ter sido tomada (e, caso fosse, como teria evitado o resultado)."
Tragédia vista do alto: o incêndio no Ninho do Urubu — Foto: Agência Estado
Esta é a primeira vez que a imprensa tem acesso à manifestação de Edson. Sua defesa foi a primeira a ser acostada aos autos do processo, que correm na 36ª Vara Criminal. A ação será julgada pelo juiz Marcel Laguna Duque Estrada.
O Ministério Público foi procurado, mas afirmou que não comenta casos em fase de julgamento.