Retrospectiva 2023: Flamengo soma fracassos e crises em um dos anos mais frustrantes da história

Em termos de frustração, o Flamengo talvez só tenha tido algo parecido em 1995, quando perdeu o Carioca meses após a chegada de Romário e fracassou no segundo semestre com o Ataque dos Sonhos, formado pelo Baixinho, Sávio e Edmundo.

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A primeira mudança que impactou radicalmente o início do ano rubro-negro foi a de treinador. Em 25 de novembro do ano passado, a diretoria optou por não renovar o contrato de Dorival Júnior, que conduzira o Flamengo ao tri da Libertadores e ao tetra da Copa do Brasil.

Vítor Pereira, que havia apresentado problemas de relacionamento no Corinthians e que fora derrotado por Dorival em mata-mata das duas competições citadas, foi o escolhido. A decisão não foi bem digerida pelo plantel. Tanto em relação à saída quando a respeito do substituto.

Assim que terminou a Libertadores do ano anterior, a torcida do Flamengo só pensava no sonhado confronto com o Real Madrid numa possível final de Mundial. O VP de futebol Marcos Braz, em tom de brincadeira e ainda no vestiário de Guayaquil no inesquecível 29 de outubro de 2022, puxou o grito que embalaria o sonho dos rubro-negros: "Real Madrid, pode esperar, a sua hora vai chegar".

A música se tornaria pesadelo e viraria hit nas torcidas de rivais e até mesmo de modestos adversários que venceriam o Flamengo ao longo da temporada.

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O janeiro rubro-negro definiu a saída de João Gomes e o retorno de Gerson. O Flamengo perdeu em combatividade, já que João entregava muita disposição ao lado de Rodinei na temporada passada, mas ganhou em talento. O Coringa foi o único reforço do primeiro semestre.

Depois de testes no Carioca, o Flamengo perdeu o primeiro grande desafio do ano. Em 28 de janeiro, foi derrotado por 4 a 3 pelo Palmeiras na final da Supercopa. Quatro dias depois, com time mesclado, fez péssima partida na vitória por 1 a 0 sobre o Boavista e viajou ao Marrocos sob desconfiança.

Veio o Mundial, e um Flamengo sem padrão caiu na semifinal diante de um Al Hilal bem diferente do que tem Neymar companhia atualmente. Matheuzinho e Santos se enrolaram no primeiro pênalti, e Gerson, grande reforço do ano, cometeu outro e acabou expulso.

O Coringa pisou no pé direito de Vietto e, após análise do VAR, levou o segundo amarelo e deixou o Fla com menos em todo o segundo tempo. Os rubro-negros reclamaram muito, especialmente de cartões mostrados com muito rigor - um deles o primeiro amarelo de Gerson -, mas não adiantou. Derrota por 3 a 2, com dois gols de Pedro. Restou o terceiro lugar, conquistado após vitória por 4 a 2 sobre o Al Ahli, do Egito.

O fevereiro do Flamengo terminaria com vice-campeonato da Recopa no Maracanã, diante do Del Valle. Março começaria com derrota para um limitadíssimo Vasco e o vice da Taça Guanabara mesmo com a vantagem do empate diante do Fluminense.

Abril marca a despedida de Vítor Pereira. O português inicia o mês com expectativa de uma resposta após tirar o Vasco na semifinal do Carioca sem sustos e uma vitória convincente sobre o Fluminense por 2 a 0 na primeira partida da decisão, garantindo ao Flamengo larga vantagem. Na final, VP havia tomado decisão corajosa: barrou Gabigol, e o Fla respondeu bem. O próprio Gabriel respondeu bem e disse que tinha pedido a Vítor para brigar por posição no ataque.

Na quarta-feira seguinte, a primeira decisão que fez Vítor Pereira cair muito no conceito da diretoria e do grupo. Levou para a estreia da Libertadores, em Quito, um time todo misto e perdeu para o fraquíssimo Aucas por 2 a 1. Na finalíssima, foi contra suas convicções e, mesmo com Gabigol pedindo para atuar como centroavante, o trouxe de volta ao time e o colocou ao lado de Pedro.

O Flamengo entrou em campo de forma apática e sofreu vexame histórico ao levar 4 a 1 do Fluminense. Detalhe: o gol de "honra" foi marcado no fim. VP não resistiu.

Dias após a queda de Vítor Pereira, a torcida do Flamengo viu a diretoria encarar um dilema: apostar no desempregado Jorge Sampaoli ou aguardar Jorge Jesus encerrar a temporada europeia com o Fenerbahçe. VP caíra no dia 10, e o Fla teria pela frente o modesto e novíssimo Maringá, da Série D.

Com uma atuação terrível, o Flamengo perdeu por 2 a 0 e teve de ouvir o que já escutara das torcidas de Volta Redonda e Fluminense durante o estadual: "Real Madrid, pode esperar, a sua hora vai chegar".

A derrota para o Maringá deixou claro que o Flamengo não poderia esperar e no dia seguinte Jorge Sampaoli foi anunciado.

A passagem do argentino, antigo sonho de Rodolfo Landim, seria conturbadíssima. De enorme dificuldade nas relações humanas, o treinador e a sua falta de diálogo transformaram o Ninho do Urubu para a pior. Não bastasse isso, não conseguiu nunca imprimir um futebol dominador, seja pela ofensividade que lhe é característica ou pela posse de bola.

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Fez bons jogos contra Fluminense e Grêmio pela Copa do Brasil, fases em que conseguiu vitórias com autoridade, mas nunca deu impressão de que engrenaria.

Quando conseguiu sustentar uma larga invencibilidade (11 jogos), uma agressão destruiu de vez o vestiário rubro-negro. No décimo jogo da série invicta, que terminou em vitória por 2 a 1 sobre o Atlético-MG em Belo Horizonte, Pablo Fernández, amigo de longa data e responsável pela preparação física, tomou atitude absurda que detonou o ambiente.

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Na reta final da partida, ao sentir que não entraria, Pedro recusou-se a aquecer. A reação do centroavante, artilheiro do Flamengo no ano anterior e um dos representantes rubro-negros na Copa do Mundo, revoltou o argentino. A resposta foi um soco no rosto do atacante.

Vinte e seis dias antes, Marcos Braz e Gabigol haviam travado discussão áspera por conta de uma torção sofrida pelo atacante no péssimo gramado do Maracanã. Apesar da grave troca de ofensas, Braz e Gabriel não chegaram perto de trocarem agressões.

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Para o ambiente ruir de vez, dias após a agressão de Pablo Fernández a Pedro, Jorge Sampaoli se pronunciou. Em vez de condenar o amigo, optou por colocar agressor e agredido no mesmo balaio.

Em mais uma demonstração de quanto o clima estava pesado, menos de três semanas depois após a agressão, um novo episódio grave. Varela partiu para cima de Gerson em um treinamento, e o Coringa respondeu com o direto de direita.

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O clube contemporizou e não cortou os atletas do jogo seguinte ao episódio - duelo decisivo de semifinal com o Grêmio. Os dois fizeram os pazes, o Flamengo venceu por 1 a 0, e os jogadores tentaram uma aproximação de Sampaoli com um abraço coletivo no gol de Arrascaeta. Na coletiva após o jogo, o argentino fez pouco caso da atitude do grupo e disse que isso também deveria acontecer em derrotas. Resultado: a distância continuou.

Àquela altura, o Flamengo já vinha praticando um futebol burocrático e, no meio de tanta confusão, em agosto, somava mais um fracasso gigante: a queda nas oitavas de final da Libertadores. Caiu diante de um Olimpia muito limitado tecnicamente e desperdiçou a chance de um Fla-Flu histórico.

Se o Flamengo sofria com a ausência de diálogo no Ninho do Urubu e muita tensão, um episódio cinco dias antes da final da Copa do Brasil acalorou o caldeirão rubro-negro.

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Em 19 de setembro, Marcos Braz, acompanhado de um amigo, foi a um shopping na Zona Oeste do Rio para comprar o presente de aniversário da filha, que completava 15 anos. Foi ofendido inicialmente por dois torcedores e não reagiu.

Posteriormente um terceiro torcedor veio ofendê-lo e, segundo relato do dirigente, Braz pediu que Leandro Campos da Silveira Gonçalves parasse pois sua filha estava próxima. De acordo com o VP do Flamengo , Leandro retrucou afirmando "F...-se sua filha", o que o fez partir para cima. Os dois trocaram agressões no chão do shopping.

Já sem qualquer respaldo do grupo e do comando do futebol, Sampaoli caiu após o vice na decisão da Copa do Brasil. O Flamengo perdeu jogando mal no Maracanã e com um empate no Morumbi diante do São Paulo.

O argentino fez uma campanha bastante irregular, marcada por pouca conversa, preocupação excessiva em não vazar a escalação e uma goleada por 4 a 0 sofrida para o Bragantino. O mais positivo que conseguiu foi o "descobrimento" de Pulgar.

Depois da esperada saída de Sampaoli, a diretoria apostou alto e, após longo trabalho de convencimento liderado por Marcos Braz, o Flamengo conseguiu contratar Tite, que só queria trabalhar em 2024.

O primeiro dia de trabalho impactou a todos no Ninho do Urubu. As relações humanas foram retomadas, o diálogo voltou e alguma esperança de título brasileiro passou a existir diante dos escorregões do Botafogo, que liderou a competição com muita folga por longo período.

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Tite chegou acertando o sistema defensivo e definindo Gabigol, em seu pior ano com a camisa do Flamengo , como reserva. Deu minutos ao maior ídolo da atual geração, mas não começou nenhuma das 12 partidas com Gabigol como titular. As duas primeiras partidas terminam em vitórias sem gols sofridos - 2 a 0 sobre o Cruzeiro e 1 a 0 diante do Vasco.

Sua chegada coincide com o crescimento de figuras importantes com Arrascaeta, Gerson e Pedro. Por outro lado, o Flamengo escorrega, sofre derrotas frustrantes para Grêmio e Santos, mas a tabela sorri de volta.

Na antepenúltima rodada, o Flamengo chega a liderar o Brasileiro por alguns minutos durante a vitória por 3 a 0 sobre o América-MG, mas termina o dia em segundo lugar por conta de um empate do Palmeiras com o Fortaleza. O problema daquele fim de semana foi a suspensão de Pulgar.

Três dias depois, contra o também mineiro Atlético, o Flamengo perdeu por 3 a 0 e praticamente deu adeus às chances do enea.

Despediu-se da temporada com derrota por 1 a 0 e o frustrante quarto lugar, mas a chegada de Tite encheu de esperança os torcedores para o ano seguinte. Silenciosamente, o treinador promoveu uma renovação. Fez Everton Cebolinha se destacar, arrumou um espaço para Luiz Araújo jogar bem e não teve constrangimento para deixar ídolos no banco, como Gabigol e Bruno Henrique.

A presença de um treinador do mesmo tamanho dos jogadores foi muito elogiada internamente. Tite venceu sete jogos, perdeu quatro e empatou um.

Se o ano do Flamengo foi majoritariamente triste em termos esportivos, a vitória por 2 a 1 sobre o Cuiabá, em 3 de dezembro, terminou como um dos dias mais emocionantes do ano. Os ídolos Filipe Luís e Rodrigo Caio despediram-se do clube com lindas homenagens. Taças no campo, mosaicos e produtos personalizados.

Rubro-Negro de coração e um dos maiores laterais do clube, Filipe foi retratado no Setor Norte em imagem quando era criança ao lado do avô Ivo. Rodrigo, zagueiro de alta técnica e muita raça, foi erguido no Setor Sul beijando a taça da Libertadores.

Um outro caso fora de campo marcou o ano do Flamengo . A Procuradoria da Justiça Desportiva Antidopagem ofereceu, no dia 21 de dezembro, uma denúncia contra Gabigol por tentativa de fraudar um exame de controle de doping. O caso ocorreu no dia 8 de abril deste ano, no Ninho do Urubu.

Com a denúncia, o atacante irá a julgamento - ainda sem data - no Tribunal de Justiça Desportiva Antidopagem (TJD-AD) por infração ao artigo 122 do Código Brasileiro Antidopagem, que se refere a "fraude ou tentativa de fraude de qualquer parte do processo de controle". O código prevê suspensão de até quatro anos em caso de condenação.

Após a publicação da reportagem do ge, o jogador se defendeu e negou qualquer tentativa de fraude do exame. No texto, enviado pela sua assessoria, o atacante afirmou que realizou o procedimento e o resultado deu negativo.

O Feliz Natal ( Feliz Navidad em espanhol ) do Flamengo deu ainda mais expectativa à torcida. Na tarde do dia 24 de dezembro de 2023, o meia Nicolás De La Cruz, ex-River Plate, foi anunciado como novo reforço. Desejo antigo da direção, o uruguaio custou US$ 16 milhões (R$ 80 milhões).

Com outros nomes em negociações avançadas, como os do zagueiro Léo Ortiz e do lateral-esquerdo Viña, desenha-se um Flamengo cada vez mais renovado e bem diferente do que ganhou praticamente tudo nos quatro primeiros anos da gestão de Rodolfo Landim.

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