Renê acredita que cresceu mais em cinco meses com Jesus do que nos anos anteriores de Flamengo com outros treinadores

O elenco do Flamengo é repleto de estrelas, mas Renê ainda busca o seu lugar ao sol. Um dos mais antigos jogadores do atual elenco — foi contratado em 2017 —, o lateral-esquerdo roeu o osso durante um período e agora degusta o filé das conquistas em 2019. Embora não seja titular, o camisa 6 tem sido peça fundamental nas partidas em que Filipe Luís é poupado. Os números defendem essa tese, principalmente no Brasileirão, onde foi um dos maiores desarmadores.

Perto de disputar o Mundial de Clubes, Renê diz que aprendeu em cinco meses com Jesus mais do que evoluiu nos anos anteriores, no Ninho, com outros treinadores. Garante que quer renovar contrato, revela como se tornou batedor de pênalti e fala sobre a relação com torcedores: “A cada ano que passa, eu conquisto mais o coração dos torcedores”.

Rio, 12/12/2019, ESPECIAL, Entrevista com o jogador do Flamengo Rene, foto de Gilvan de Souza / Agencia O Dia - Gilvan de Souza

Esta temporada é a melhor da sua carreira?

"Um ano muito bom, com muitos títulos. Individualmente um ano de muito aprendizado. A gente sabe que tivemos um crescimento muito grande com a chegada do Mister. Um ano não só de vitórias, mas também de muito aprendizado. Um grupo maravilhoso. É um ano que não vai ficar na história só do Flamengo, mas de todos que fazem parte deste grupo vitorioso. Espero que a gente consiga o Mundial para terminar o ano com título.

Por que o atual elenco é tão especial?

É um grupo maravilhoso. O Mister já repetiu várias vezes que é o melhor grupo que ele já trabalhou. Não tem vaidade, muito pelo contrário. O Mister comenta sempre com a gente que lá fora (exterior), ele tinha que pedir algumas coisas que a gente já faz sem ele mandar. É um grupo especial. Quando eu cheguei, em 2017, também era, mas esse ano está sendo diferente. Um grupo totalmente sem vaidade. Isso certamente ajudou a gente.

Você é do Nordeste, o que achou da campanha encabeçada pelo Fortaleza, este ano, de dizer que não tem torcida mista no Nordeste?

Eu acho que o torcedor tem o direito dele de torcer para quem quiser. Eu sou do Nordeste, do Piauí, e a maioria é torcedora do Flamengo. Eu cresci vendo isso. Eu acho que é um pouco de ciúmes dos clubes. Você pode torcer para quem quiser. O brasileiro pode torcedor para o Liverpool, se quiser. Acho que não precisava disso. O torcedor tem o direito de torcer para quem quiser. Acho que é um pouco de ciúmes. Eu vivi muito o Nordeste e sei como eles são apaixonados.

*Veja abaixo os posts do Fortaleza e do perfil da Copa do Nordeste sobre torcida mista:

Soube que você foi o autor da ideia de pintar o cabelo em caso de título na Libertadores. E para o Mundial?

(Risos). No Mundial a galera pediu para não prometer nada. Até brincaram com a ideia de tatuar o troféu, mas tem alguns que não gostam de tatuagem e acabou que não fechamos nada. Eu falei que se a gente ganhasse a Libertadores, a gente ia descolorir o cabelo. Conquistamos o título e está todo mundo loiro.

Qual é o diferencial de Jesus para os demais técnicos?

É um cara especial. Eu vi que ele lançou o livro e todos estavam interessados para ler. Ele falou que ia dar de presente para todos os jogadores. O Mister é um cara sensacional. Depois do treinamento é uma outra pessoa. No trabalho ele é extremamente detalhista e vive o futebol. Esse é o diferencial dele. Vive mesmo o futebol. Ele está sempre ligado aos detalhes. Nos vídeos, ele de repente para o vídeo e pergunta se alguém tinha visto isso. E ninguém responde. Só ele vê as coisas. Isso que fez o grupo seguir tudo o que ele pede. Às vezes ele tem aquele jeito na beira do campo, mas sabemos que é o jeito dele. Acho que deu certo a equipe com essa comissão técnica.

O que você cresceu com o Mister, em cinco meses, é o mesmo que você cresceu nos dois anos anteriores de Flamengo?

Acredito que sim ou até mais. Depois que cheguei ao Flamengo, eu cresci bastante. Mas com o Mister, eu aprendi não só na parte ofensiva, mas também na parte defensiva. É um cara sensacional. A gente aprende muito com ele. Ele gosta muito de treinar a parte defensiva. Acho que o meu conhecimento aumentou. Não só o meu, mas dos demais jogadores também. Todos evoluíram. Ele respeita a sua característica. Isso faz a diferença.
Rio, 12/12/2019, ESPECIAL, Entrevista com o jogador do Flamengo Rene, foto de Gilvan de Souza / Agencia O Dia - Gilvan de Souza / Agencia O Dia

Como é a sua relação com Filipe Luís?

O Filipe é um cara sensacional. Ele é muito amigo do Diego. Na época, o Diego comentou comigo que se o Filipe fechasse seria bom demais. Apesar de ser da minha posição, eu tenho uma amizade forte com ele. É um cara com quem eu aprendo diariamente. A gente procura trocar ideias. Eu tento ajudá-lo também. Quando ele foi marcar o Marinho (do Santos), eu dei dicas, já que tinha jogado várias vezes contra o Marinho, nos tempos de Sport. Aí dei dicas e ele parou o Marinho no Maracanã. Depois do jogo, o Filipe me agradeceu. Não tem vaidade. Ele sempre torce por mim, eu sinto isso.

Com a chegada de Rafinha, o Pará decidiu mudar de ares. Você pensou em fazer o mesmo com a vinda de Filipe Luís?

Pensei nada. Nada disso. Até porque eu fiz um ano muito bom em 2018, conquistando prêmios pessoais. Em nenhum momento pensei em sair. Eu sabia que o Filipe iria chegar para ajudar. Na minha opinião, o lateral que se aproxima mais das características dele, sou eu. É um jogador que se posiciona bem, que não vai tanto à linha de fundo. Isso tudo ajudou o crescimento. É um concorrente forte, mas a chegada dele me ajuda a evoluir. Eu lembro que o Rafinha comentou isso comigo, que quando chega um jogador na sua posição para ser titular, vai fazer você elevar o seu nível. Eu trabalho para fazer o meu melhor e não para ser melhor do que Filipe Luís.

Seu contrato vai até dezembro de 2020. Vai renovar?

Tivemos algumas conversas, mas agora no fim do ano eu não sei como está. Estou feliz aqui. Se o Flamengo achar que tenho que ir embora, é com eles. Mas se depender de mim, a gente vai renovar por muitos anos para conquistar mais títulos.

Acha que deveria ser mais valorizado pela torcida?

Acho que é torcedor e envolve paixão. Não é que o torcedor não goste de mim, mas, às vezes, o cara prefere ver Filipe Luís jogar, um cara de Seleção. Graças a Deus nunca fui parado na rua para ser cobrado. Sempre fui bem recebido pelos flamenguistas na rua. A torcida tem um carinho por mim mesmo eu não sendo unânime. A cada ano que passa, eu conquisto mais o coração dos torcedores. Em 2017 foi mais complicado, em 2018 melhor e esse ano melhor ainda.

A atual diretoria do Flamengo é diferente da anterior?

"Acho que as diretorias são parecidas. Eles chegaram a trabalhar juntos, né? Eles são parecidos (Landim e Bandeira). Eles fizeram tudo. A gente sempre soube que estávamos perto dos títulos. Graças a Deus foi o que aconteceu. O Diego foi um cara que disse isso. Ele estava para sair, mas ficou porque sabia que íamos conquistar coisas grandes. A direção anterior fortaleceu a gente para conseguir os títulos desse ano."

Qual foi a maior emoção com a camisa do Flamengo?

Esse ano foi louco. No segundo gol do Gabigol (contra o River Plate) eu não sabia o que fazer. Foi um momento muito especial. Contra o Emelec também foi muito importante. Mas o momento que tive que bater o pênalti (contra o Emelec, na Libertadores), eu sabia que se eu perdesse, a galera nunca mais ia querer me ver aqui. Eu tinha treinado muito bem. Eu lembro que no dia do jogo, nós treinamos pela manhã. Eu consegui bater muito bem. Eu lembro que o pessoal falava que quem não morreu nesse dia de nervoso não morre mais. Quando eu fui bater, o silêncio tomou conta do Maracanã, porque ninguém sabia que eu estava treinando. Foi um momento muito especial.

Rio, 12/12/2019, ESPECIAL, Entrevista com o jogador do Flamengo Rene, foto de Gilvan de Souza / Agencia O Dia - Gilvan de Souza / Agencia O Dia

Como surgiu a ideia de bater pênalti?

Eu comecei a treinar e busquei uma batida diferente. Eu lembro que ficava olhando Henrique Dourado treinando. Eu adaptei uma batida dele para o meu jeito. Eu lembro que contra o Athletico (pela Copa do Brasil), eu era o sexto. Desde aquele dia eu comecei a treinar. Eu lembro que o Mister falou em treino que é difícil pegar a minha batida. Teve uma vez que ele tirou o Everton Ribeiro e me botou para treinar. Eu não entendi nada. Mas como ele diz que pensa lá na frente, ele sabia que o Ribeiro só ia jogar o primeiro tempo, e o Arrascaeta, o segundo. Aí treinei entre os cinco.

O Flamengo vai pegar o Al Hilal, equipe de Cuéllar. Tem conversado com ele?

Não tenho falado com ele. Ele tinha mais amizade com Rodinei.

Já pensou em marcar Salah, Firmino e Mané, craques do Liverpool?

(Risos). Já pensei várias vezes em marcá-los. Lembro que quando o Liverpool ganhou a Liga dos Campeões, o Filipe nem estava aqui, começaram a brincar que eu ia marcar o Salah. Eu imaginava isso, sim.


Fonte: O Dia