O sessentão Renato Portaluppi foi padeiro ainda na infância . Montador de móveis adolescente. Ídolo máximo do Grêmio aos 21. Mistura de jogador com astro pop dos anos 1980 do Flamengo e despertou paixões em todo lugar por onde passou. O quasi, diriam os tifosi italianos.
Em entrevista no Abre Aspas do ge por quase 1h30 em Alcatraz, como chama carinhosamente a “prisão” de luxo que é o hotel onde vive em Porto Alegre, o treinador do Grêmio falou da vida, contou vantagens e falou de métodos particulares. Declarou-se ao Rio de Janeiro e prometeu, quando parar de trabalhar, ser mais um velhinho de 70, 80 anos na praia de Ipanema jogando futevôlei.
ge: Você começou a trabalhar criança numa padaria. Como chegou o futebol na sua vida?
— Eu trabalhei dos 12 aos 14 anos como padeiro. Não era da família. Era de um desconhecido. Um dia ele me viu na rua, com a minha mãe, e disse que precisava de um garoto para trabalhar. Com 12 anos, pensei que minha mãe não fosse deixar. Insisti: “me deixa para poder ajudar em casa”.
— Dos 14 aos 17 para 18 anos trabalhei numa fábrica montando móveis. Mas nesse tempo sempre jogava pelada no colégio. Jogava o torneio entre as fábricas que tinha. Jogava vôlei, basquete, futebol de salão, futebol de campo. Eu participava de tudo. Era bom em tudo (risos). Numa dessas competições, no campo, um olheiro do Esportivo me pediu para fazer um teste. No primeiro dia agradei, era 1979. Fiquei uns 4 meses na base. O (Valdir) Espinosa, que era o treinador do profissional, pediu para treinar entre os profissionais. Falei que não podia porque eu jogava só no final de semana na base e durante a semana eu trabalhava pra ajudar a sustentar a família. Eram tempos difíceis.
Eram 14 irmãos. Você é o penúltimo dessa escadinha. Como era essa casa com tanta gente?
— A gente rezava para alguém casar para sair de casa (risos). Torcia muito. As minhas irmãs casaram e saíram de casa. Aí sobrava mais comida, sobrava mais espaço na casa. Um dos 14 irmãos morreu logo, mas são todos da mesma mãe e do mesmo pai. Nossa família sempre foi bastante unida. Todo mundo tinha que trabalhar, ajudar de uma forma ou de outra. Os meus irmãos foram saindo de casa, foram casando e fui ficando. Sempre falei que não queria casar tão cedo, porque queria ajudar meus pais. Por isso botei na minha cabeça que com o futebol eu ia conseguir.
A sua infância te remete a sacrifício pelo trabalho ainda criança? Ou você tem saudade?
— Minha infância foi dura porque não tive, por exemplo, oportunidade de poder começar a trabalhar com 16, 17, 18 anos. Comecei com 12 anos porque eu tinha necessidade de ajudar minha família. Estudava num período, trabalhava no outro. Por isso que digo que minha infância foi muito sofrida. Então não tive muito tempo...
— Parei de estudar praticamente na 1ª série. Tive que largar os estudos para trabalhar o dia todo. Aí quando saí da fábrica de móveis e queriam que eu fosse jogar… mas precisava trabalhar. Aí falaram: “a gente te dá um salário”. Aí fui jogar. Não é aquela infância que todo garoto gostaria de ter, entendeu? Foi sofrida assim, mas ao mesmo tempo amadureci cedo.
Você que quis largar a escola e trabalhar em horário integral?
— Minha mãe não queria. “Não, não deixo… Você já nos ajuda”. Mas eu via a dificuldade que passávamos e falei que ia largar os estudos. Tinha aquilo na minha cabeça. Eu vou ser jogador de futebol e através do futebol eu vou ajudar todos vocês. E foi o que aconteceu. Troquei os estudos pela faculdade da vida. Meus estudos praticamente foram a faculdade da vida.
— Eu ainda tive um baque quando eu tinha 19 anos, para 20, quando perdi meu pai. Quer dizer, aí tive que virar pai de família mesmo. Minha família começou a depender muito de mim. Comecei a botar tudo em casa. Aos pouquinhos fui ajudando, ajudando. E eu sempre tive aquilo na minha cabeça, ganhar cada vez mais, correr atrás para poder ajudar a família toda.
Você estava longe quando seu pai faleceu?
— Estava aqui em Porto Alegre. Cheguei em 1980 no Grêmio, em 1981 perdi meu pai, ainda estava naquela transição base-profissional, base-profissional. Tínhamos sido campeões na base e eu chego em casa com a faixa. É um pouco antes do meu pai falecer. Ele, colorado, não gostou muito que eu cheguei em casa com a faixa de campeão do Grêmio (risos).
Por isso teve que pular janela para sair de casa e treinar no Grêmio? Falou para o seu pai?
— Não falei para ele. Eu conseguia tudo que eu queria através da minha mãe. Eu falei: “mãe, preciso fazer esse teste. O Espinosa quer me levar para o Grêmio, vou lá fazer o teste”. Ela ficou meio assim, “você é muito novo para sair de casa”. Coisa de mãe né. Meu pai já não ia deixar. Aí ajeitei tudo com a minha mãe, pulei a janela no dia seguinte, cedo, 5h30 da manhã. Ralei (faz gesto batendo numa mão com a outra). Meu pai acordou logo em seguida e eu já tinha partido para a vida.
Como era a relação com seu pai?
— Era boa. Mas na época, não só eu, como irmãos também, se pisava na bola, ia apanhar. Não aliviava ninguém. Meu pai batia na gente, entendeu? Era dureza (risos). Tinha que trabalhar, não podia pisar na bola. O couro comia em casa. Mas a minha relação com ele foi… sempre boa. Tinha uma relação beeem melhor com a minha mãe - mãe é mãe né. Chegou em determinado momento que me aproximava cada vez mais dele, eu fazia a barba dele, eu muitas vezes cortava o cabelo dele. Comprava melancia para ele, que ele gostava, comprava a erva para o chimarrão, que ele gostava... Minha relação com meu pai sempre foi muito boa. Mas… apanhava, apanhava mesmo.
Essa sua personalidade foi moldada de que maneira? Você era muitas vezes expulso quando era mais jovem. É irreverente, mas também você diz que é tímido.
— Cara… tenho personalidade muito forte. Desde criança eu gostava de tomar decisões, entendeu? Ao mesmo tempo, muita gente não acredita, sou tímido para caramba. Quando comecei a jogar tinha muita confiança em mim, sabia que eu poderia fazer muita coisa dentro das quatro linhas. E pela idade, pela juventude, eu chegava ao ponto até de me aproveitar disso. Por isso comprava barulhos dos meus companheiros, discutia com os adversários, discutia com os árbitros. Por isso muitas vezes era expulso. Não era por ser um cara desleal, por ofender adversário. Mas por cobrar, tomar amarelo, aí o segundo amarelo, um vermelho porque discutia com o árbitro, aquelas coisas, entendeu?
— Eu sempre tive na cabeça que o meu negócio era ganhar. Botei na cabeça: vou ser um vencedor na minha profissão. No par ou ímpar quero ganhar. Tudo que eu entro quero ganhar. Talvez isso tenha me ajudado bastante até em ter vencido na profissão. Eu não aceito derrota. Isso lá atrás, lógico. Porque tem que saber perder também… O tempo vai te amadurecendo, você vai aprendendo as coisas. Mas a minha confiança era muito grande quando eu entrava em campo. Eu queria a bola, às vezes eu xingava meus companheiros porque não me davam a bola. Queria a bola porque sabia que poderia decidir.
Que memória você tem da construção da sua relação com o Rio?
— O que existia comigo era que eu tinha um ídolo que era o Zico. E Zico-Flamengo-Rio de Janeiro. Assistia a muitos jogos do Flamengo e ao mesmo tempo eu me encantava com o Rio de Janeiro. Eu cheguei com 18 anos no Grêmio. Com 19 para 20 anos fui convocado pela primeira vez para a seleção brasileira. E a seleção brasileira era (ir para) Teresópolis (RJ). Sempre amei praia, gosto de sol, gosto de esportes na praia. Então uniu o útil ao agradável. Jogava no Grêmio, mas vivia no Rio porque treinava com a Seleção. Todo mundo que jogava no Rio dizia: “pô, você tem que vir jogar aqui, tem que vir para cá”. E aquilo foi entrando na minha cabeça, foi entrando, foi entrando.
— Até que um dia cheguei no Grêmio, no final de 1986, e falei: “gosto demais do Grêmio, agradeço muito ao Grêmio, mas eu ganhei tudo aqui no Grêmio. Eu quero buscar espaço maior, quero desafios maiores”. Eu queria ir embora. Aí fui para o Flamengo.
Lembra a primeira vez que foi para a praia no Rio?
— Eu tinha 24 anos quando fui para o Flamengo. Comecei a ir para a praia, comecei a ver o pessoal jogando futevôlei, aí me encantei. Aprendi logo a jogar futevôlei. Aí sempre antes do treino eu ia para a praia, depois do treino eu ia para a praia. Quando tinha treino de tarde, ia para a praia de manhã e jogava futevôlei. Quando era treino de manhã, jogava de tarde. Muitas vezes os caras do Flamengo ficavam maluco comigo.
— Eu chegava de sunga no treino. Saía direto da praia, cheio de areia, chegava lá, tomava banho rápido, ia para o treino e para o jogo. Aí o Zico dizia: “deixa, deixa. Ele se sente bem assim. Deixa ele”. No primeiro ano que ganhamos o Brasileiro ganhei a Bola de Ouro como melhor jogador do Brasil.
Mas essa não foi a primeira vez no Rio de Janeiro né?
— Foi em 1982, quando eliminamos o Fluminense e fomos para a final contra o Flamengo. Eu entrei naquele jogo… Basicamente começou ali, minha estreia no Maracanã foi nesse jogo aí. Aí tivemos a final contra o Flamengo, aqueles três jogos. (Lembra do suposto toque de mão de Andrade na decisão de 1981) Eu pego no pé do Andrade até hoje. Jogamos no Flamengo, na seleção, na Roma: “pô, Andrade, me tirou um bichinho gordo naquele jogo” (risos). Mas fazer o que… já foi, deixa para lá, não vai voltar o tempo. É a mesma coisa que o Zico pega no meu pé até hoje que o gol do Fla-Flu de barriga ele fala que fiz com o braço. Sem chance, foi de barriga mesmo.
O Rio para você tinha esse fascínio da música, dos artistas, da cultura carioca?
— Claro. Cheguei no Flamengo jogando muito, muito… então, nas festas que eu ia, nos locais que eu frequentava, sempre tinha gente conhecida também. Da música, da televisão, fui me enturmando rapidinho. Todo mundo tem um clube para torcer. Mas lá a maior parte era Flamengo. Sempre fui muito bem-vindo nas festas, vários convites. Então fui me enturmando. Tenho muitos amigos até hoje, tanto na música como na televisão.
Uma história que poucos conhecem é que antes de vir para o Flamengo, o empresário italiano Antonio Caliendo queria te levar para o Corinthians. Como foi isso?
— O Caliendo queria me levar para o Corinthians. Ele me levou para São Paulo. E me deixou dentro do quarto, me deixou no hotel. “Não sai daqui, deixa eu resolver, tal, tal”. Naquela época, eu falei: “tá bom, eu fico aqui”. Eu fiquei lá dois, três dias dentro do hotel em São Paulo. Aí nisso o Brasil todo começou a falar que meu passe estava na federação, coisa assim, e aí o Flamengo se interessou. Na época, eu lembro que o pessoal do Flamengo começou a me ligar. Leandro, Zico, Mozer: “pô, vem para cá, vem para cá…” Aí eu falei para o Caliendo: “eu quero ir para o Flamengo”. Ele: “não…” “Eu quero ir para o Flamengo!”. Aí eu estava meio que sequestrado mesmo num hotel em São Paulo. Eu falei: “olha, me leva, quero sair daqui”. Ele me tirou, me levou para o Rio, aí era o Márcio Braga na época o presidente. Aí me acertei e fiquei no Flamengo. Por que tanto Flamengo como o Corinthians me queriam na época e meu passe estava na federação. O Flamengo chegou e depositou.
Quanto valeria esse passe livre hoje?
— Eu falo para os meus jogadores hoje, “olha, se estou jogando hoje, não queria nem ver” (risos). “Eu queria isso aqui, mil vezes mais do que vocês ganham e livre de imposto.”
— Meu Deus do céu, eu quero descobrir quem botou na cabeça de vocês que é difícil jogar futebol. Por que é tão simples, tão fácil jogar futebol. Para alguns né. Bem difícil para outros.
O que algum craque da sua geração tinha que você queria ter?
— Admirava muito o Romário e o Careca. Jogadores que jogavam assim, mais centralizados, embora cada um com suas características. Gostava do contato com o adversário, porque me garantia na força. Então jogava um pouco mais fora da área. Mas eu admirava muito as características de jogadores dentro da área. Os caras eram gênios. Os caras pensavam numa velocidade, estavam sempre na frente do adversário. Bebeto, Romário, Careca, cara, a gente aprende bastante com esses jogadores. Eu e o Muller éramos mais jogadores de lado. Depois começou a aparecer o Edmundo também. Geração de gênios. Os caras eram muito acima da média.
Você acha que é injusto quando se coloca Romário e Ronaldo, por que ganharam Copa, acima de outros craques que não ganharam?
— Sim, sim. Olha, o Zico. Ou alguém vai discutir a qualidade do Zico? Pô, o cara era um gênio. Pegou uma geração top, aquela de 1982, por exemplo. Só Deus sabe como eles não ganharam aquela Copa do Mundo. Infelizmente, o Zico jogou muita bola, mas não teve a sorte de ter sido campeão. Até porque, se não me engano em duas Copas, estava com joelho já meio baleado. E eu vi o quanto ele sofria, porque joguei com ele no Flamengo em 1987. Eu via o que ele sofria por causa daquele joelho dele. Aquela geração de 1982 merecia ter sido campeão. Acho que foi a melhor seleção de todos os tempos que eu vi jogar. Lógico que fica na história quem ganha, quem venceu, mas aquela lá, pelo amor de Deus…
É verdade que você falava para o Zico, “corre que eu penso”?
— Falo para ele até hoje (risos). Cheguei no vestiário, na pelada dele no ano passado. Falei para o Zico, “ó, estou com a coluna toda ferrada aqui e estou te processando…” “Como assim?” “Você é culpado, o que eu te carregava nas costas não era mole, não (risos). Aí eu brincava com ele: “corre que eu penso”. No Flamengo, o ataque era eu, ele e o Bebeto. Os caras pegavam muito, davam muita porrada no Bebeto. “Deixa que eu saio mais, deixa que eu vou para o confronto para os adversários”. E o Zico só metendo a bola para a gente. E o Zico muitas vezes estava com o joelho sempre inchado, mas a gente enchia o saco dele: “Não, você tem que jogar”. Ele, com 20% das condições, “mas você entra em campo que três vão te marcar, Zico, o adversário vai ficar sempre preocupado contigo e vai sobrar espaço para mim e para o Bebeto”.
O Zico te tornou mais profissional no dia a dia de treinos, te deu mais maturidade?
— Eu aprendi muito com o Zico, dentro e fora de campo. Não que eu não (fosse profissional)… Taí uma coisa… Eu gostava da noite, da boate, do meu chope, mas eu era um dos primeiros a chegar para o treino no dia seguinte, tinha responsabilidade, e um dos últimos a ir embora. Eu treinava que nem um cavalo. Treinava e treinava muito. Aí me perguntavam, “mas você não está cansado?”. “Não tô, não, estou fazendo isso porque me garanto”. Sabia que tinha que treinar forte, porque no dia do jogo os caras iam me cobrar, o adversário ia me bater, e se eu não estivesse preparado, não ia conseguir superar o adversário.
Quando você começou a beber? Foi desde adolescente, por isso que seu pai brigava contigo?
— Não, nessa época (das brigas) nem bebia. Bebia uma cervejinha assim devagar. (Começou) quando vim para o Grêmio. Sempre gostei de chope, nunca gostei de bebida forte, whisky, vinho, caipirinha, essas coisas. Eu gosto de chope. Mais barato, também. Sem colarinho, lógico. Com colarinho, nem pensar. Aqui no Sul os caras gostam de carne mal passada e chope com colarinho. Eu já nunca gostei de colarinho e gosto de carne bem passada. Os caras falam: “ah…” Não, sempre foi assim aqui também.
Você tem que assar o teu churrasco então.
— Não, assar nem pensar. O malandro é o cara que não sabe assar churrasco. Eu vou te falar por quê. O cara que fala, “ah, eu sei assar”. Eu admiro, o cara vai lá, engole fumaça para caramba, é xingado para caramba. O malandro está sentado na mesa e só esperando. E ainda xinga o cara que está se ferrando todinho (risos). “Pronto. Vai em frente”. É assim (risos)
Quando percebeu que não conseguia mais manter a mesma batida? Do corpo dando sinais que tinha que tomar dois chopes a menos, dormir mais cedo?
— Eu vou te falar, sempre tive força. Eu comecei a dar uma segurada neste sentido que você está falando quando comecei a ter lesões na panturrilha. Aí que, sabe… Mas não foi porque eu saía, porque eu tomava chope. Eu jogava muito futevôlei. Chegava no treino, treinava para caramba. Quando joguei no Atlético-MG em 1994 muita gente falava, “ah…” eu realmente tive três ou quatro lesões naquele ano. Aí em 1995 vim para o Fluminense, aí diziam “não sei se está a fim, se ainda tem força”. Falei “o quê?” Deu no que deu em 1995.
O Galo é a Selegalo?
— Isso. Eram muitos craques, mas ao mesmo tempo muito bandido. Quando vi aquela bandidagem toda, falei "meu Deus". Era muito bandido (risos).
— Passaram dois, três técnicos. Juntou um pessoal pesado. Mas em todos os times que joguei, sempre fui muito querido pela torcida. Em todos os clubes que passei, com toda humildade, joguei bem. No Atlético-MG não consegui jogar praticamente, mas dois anos antes joguei muito no Cruzeiro. Joguei cinco meses no Cruzeiro e ajudei a ganhar dois títulos, Estadual e a Supercopa.
Como foi o jogo que você fez cinco gols? Foi o único?
— Foi contra o Nacional de Medellín. Espera aí... Cinco gols não é toda hora que consegue fazer (risos). Que eu lembre, foi a única vez sim. Na Supercopa. Dia endiabrado. As oportunidades apareciam, fiz um gol até deitado. Essa noite deu tudo certo. Nesse mesmo dia o Raí fez cinco também pelo São Paulo.
Tem um lugar que você não foi ídolo, que foi na Itália. Quando chegou, o técnico o chamava de “Gullit branco”. Li que um jogador da seleção italiana, o Giuseppe Giannini, te boicotava. O que aconteceu?
— Ele era um meia, o pai era o vice-presidente, era o queridinho… Mas eu cheguei e a torcida gostou de mim. Tinha ele e mais o Massaro que não me davam a bola dentro de campo. Apesar que tive três lesões seríssimas, saí do Rio de Janeiro, 40 graus, cheguei e um frio danado. Tive um estiramento atrás do outro. Voltava e sentia. Quando recuperei e comecei a jogar, os caras não me davam a bola. O técnico era o Nils Liedholm, o sueco. Um dia eu falei para o grupo e para ele: “vim para ajudar vocês, não é para roubar vocês não. Não coloquei o revólver na cabeça de ninguém não, foram me buscar”.
— Falei para o treinador - eu falo um pouco de italiano - que podia me tirar do time, desse jeito é melhor ficar fora. Aí diziam, "primeiro ano de estrangeiro é assim". Até hoje sofrem. Quando o Falcão chegou na Roma, depois, e o presidente era o mesmo que me levou, os caras falaram: "você é jogador de futebol mesmo?" Tem que ter paciência com o idioma, precisa se adaptar ao país. O Falcão depois foi o Rei de Roma. Teve paciência.
Valeu a pena em termos de grana ir para a Itália?
— Cara, o sonho do jogador é jogar na Europa. Por um milhão de coisas, futebol europeu, dinheiro, óbvio, mais chance de chegar na seleção brasileira, mas acima de tudo é o sonho por causa do dinheiro. Não dá para comparar o salário lá e aqui. Eu fui um dos primeiros a voltar e basicamente trazer próximo do que se ganhava lá fora para o Brasil. Eu tinha mais três anos, o pessoal da Roma falava para ficar, “não volta, primeiro ano é assim, você vai arrebentar aqui, fica”, mas, hoje, eu não teria voltado.
— Tinha muita saudade do Rio de Janeiro. Falei: “vou voltar”. Abri mão de tudo. Mas o contrato que peguei (com o Flamengo), não peguei nada para mim, dei praticamente um apartamento para cada um dos meus irmãos. Sempre tive o sonho de ajudar todos meus irmãos, ajudo até hoje dentro do possível, vi o que poderia ganhar, o que poderia fazer para família, dar um teto e falei cada um segue seu caminho.
Te faz falta, olhando para trás, queria ter tido sucesso lá na Roma?
— Queria ter vencido porque sabia que tinha condições de jogar em alto nível no futebol europeu. Ninguém desaprende. Tinha ganho a Bola de Ouro no futebol brasileiro, jogando em alto nível. Até hoje dou conselho. Quando fui para a Itália, os primeiros três meses, tinha feito três vezes minha mala. Estava com a minha mulher, e ela: “você vai ficar, vai ficar”. “Não estou aguentando de saudade”, já falava o italiano, entrosado com a cidade, Roma é maravilhosa. Sofri com as lesões, com os problemas no clube, mas falavam que era tudo normal no primeiro ano. Não paguei para ver. Hoje, com a minha experiência, talvez não tivesse voltado. Tinha certeza que poderia vencer na Europa. Tanto é que voltei para o Flamengo e continuei na Seleção.
Você se colocou em dúvida por esse momento na Itália?
— Dúvida, não. Nos meus 20 anos de carreira nunca me coloquei em dúvida, nunca, nunca. Sempre confiei muito. Lá fora tive problemas de lesões e o principal foi a saudade. Não é fácil sair do Rio, tinha tudo do bom e do melhor, a praia que eu amava, futevôlei, Maracanã, sendo melhor jogador do Brasil, largar tudo. Foi uma mudança radical na minha vida.
Você sempre passa férias no Rio. Não viaja para outro lugar, não?
— Isso é uma briga na minha família, minha mulher, minha filha, “Vamos viajar…" Vivo em avião e hotel o ano todo. Chego no Rio e não coloco uma calça. É sunga, bermuda, chinelo de dedo, camiseta. E me esquece. Casa, praia, bar. Bar, praia, casa. Dali não saio. Elas falam "tá de brincadeira conosco". “De brincadeira estão vocês, querendo ir para aeroporto, viajar”. Me deixem aqui que estou bem.
Você vive aqui no hotel em Porto Alegre…
— Alcatraz (risos)...
E sempre foi assim como treinador do Grêmio. Não é uma vida solitária dentro de quarto de hotel?
— Nem penso nisso, se eu pensar... Tenho tudo aqui, me sinto em casa. Esse tempo todo que trabalhei, sempre fiquei na mesma suíte. Todo mundo fala, porque não vai para uma casa, apartamento. Estou sozinho aqui, minha família fica no Rio, tenho negócios lá e não posso trazer. Eles vêm de vez em quando, vou para lá. Ficar em casa dependeria muito de empregada. E eu preciso tudo na hora, o hotel fornece tudo. Roupa, lavar, passar, café, janta, lanche. Mas é isso. Moro aqui no Alcatraz. Não posso descer (risos).
Como é essa dinâmica? Você faz reuniões com a comissão numa sala no hotel?
— (Reunião) é dentro do quarto. É um quarto grande, faço as reuniões com a minha comissão, com presidente, com vice, com executivo. É um quarto, nada de mais. Faço refeição, tem frigobar, a cama. Não posso descer porque aí não consigo almoçar, jantar. De manhã passo direto, tomo café no clube, almoço no clube sempre que eu posso.
E se quiser pegar uma piscina ?
— Vou de vez em quando, aqui, aí começa a chegar gente, começa a perturbação, aí saio. Se tiver gente na piscina, nem desço. O Alcatraz diz tudo.
Essa vida tem um prazo, não?
— Tenho que viver a vida também. Se colocar nas contas, desde os 12 anos trabalho. Está na hora de daqui a pouco de parar. Eu trabalho porque gosto de fazer algo pelo futebol, ajudar as pessoas, aconselhar os jogadores. Consigo me divertir quando vou para o Rio. Aí as pessoas não entendem, tenho dia de folga às vezes e parece que o planeta virou de cabeça para baixo. Que faço o que quero no Grêmio, que abandonei o emprego. Se eu fui é porque fui liberado. Vou lá, converso com eles (direção), me liberam e vou. Nada de mais. Mas aí tem dois ou três que gostam de fazer a tempestade no copo d'água aqui.
A proporção não é pelo tamanho que tu alcançou?
— O tamanho proporcional que eu alcancei foi pelos meu méritos. São dois ou três (que criticam). Mas essas pessoas deveriam bater palma por eu estar trabalhando no Rio Grande do Sul. Eu faço muito pelo Sul. Muito pelo Grêmio. E sei que o Grêmio faz muito por mim também. É preferível ter pessoas deste nível trabalhando aqui do que não ter. Se estou trabalhando, é porque estou dando resultados. Não vou dar exemplos, cada treinador tem seus problemas e sua relação com presidente e diretoria. Tivemos dois exemplos agora.
— Dois no Brasil se apresentaram uma semana depois. Inclusive um aqui no Sul, que me dou com ele, o treinador do Internacional, o Coudet. Que eu não tenho nada a ver. Se se apresentou depois tem seus motivos. Não é meu problema. Ninguém falou nada. Eu sumo um dia o mundo vem abaixo. Não dá para entender vocês. Se sumir daqui parece que sumiu o Guaíba. Não posso nem na minha folga ir para o Rio.
Você começou como treinador no Fluminense enquanto jogava, mas depois, de fato, no Madureira. E ficou um período sem trabalhar. Por que?
— No Fluminense estava recuperando meu joelho, aí o grupo pediu para eu ser o treinador. Eu não queria. “Não sou treinador, sou jogador”. “Mas a gente confia em você, só vamos te escutar”. Faltava alguns jogos, aí, treinador, mesmo, comecei em 2001 no Madureira. Na época falei que ia parar um ou dois anos, amadurecer bem a ideia para ser treinador. Tive algumas propostas que não me agradaram, acho que foram dois anos sem trabalhar.
Há um tempo, você tinha uma pecha como do Valdir Espinosa, de que faz churrasco com o grupo... Esse tipo de coisa, quando falam que você não é taticamente desenvolvido, é o que mais te irrita?
— Não, nada me irrita. Aí já é o cara que quer me perseguir, me criticar, falar mal. Como pode, se pegar os títulos que ganhei, eu comprei? Todos os grupos nos quais trabalhei e fomos campeões, 90% ninguém acreditava. O que é isso senão trabalho? Ano passado consegui em uma fase ruim do Grêmio arrumei três ou quatro esquemas rapidinho que deram certo. Como é isso? Para alguns da imprensa, o treinador bom é o que fala bonito, palavras difíceis, passa uma semana na Europa e diz que foi estudar. Muita gente vai, fica uma semana, 10 dias, aí falam que estudou lá. Uma semana? 10 dias? Minha sabedoria está aqui (aponta para a cabeça). Aprendi com treinadores com quem trabalhei e tive a experiência, a faculdade da vida me ensinou outras coisas. E da minha cabeça tem muita coisa.
Mas você assiste aos jogos e anota algo para discutir? Falam que você assiste a jogo para caramba.
— Não (anoto), está tudo aqui. Tenho mais de 200 números de telefone na cabeça. Os caras falam, como pode? Eu gravo. Tenho facilidade. Pego o celular e já sei quem é. Gravo, vejo. Cada um com sua maneira de trabalhar.
O que te dá tesão ainda de ser treinador de futebol depois de tudo que viveu?
— Posso ser sincero? Posso ser sincero? Vou ser sincero... Para calar a boca de 1 ou 2% da imprensa.
Só por isso?
— Também. Para ganhar dinheiro que preciso ainda ajudar minha família. E para mostrar para algumas pessoas que não entendem nada e estão no ar-condicionado, não aparecem no treino, querem criticar o treinador no dia do jogo. Não sabe o que se passou com o jogador, querem criticar porque o treinador tirou ou não botou. E pergunto: o que ele sabe sobre o jogador? Quem sabe é o treinador. Porque tirou, porque não está jogando. Aí o cara que aparece no dia do jogo, quer criticar.
— A gente comete erros também, claro, mas quer criticar e não sabe o que passou na semana. Se tem lesão, se está sentindo algo. Eu vejo, sem sacanagem, cada absurdo que algumas pessoas falam. E não tenho medo da imprensa. Respeito, tenho minha personalidade. Quando faz a crítica que mereço, ok. Mas quando começa a inventar, ir para o lado fora do profissionalismo, sabe... Aí de vez em quando tenho que atacar um ou outro por causa disso. Tenho que dar um corte porque o cara se passa. Acha que é o dono da cocada e não é bem assim não.
O futebol vicia muita gente. Essa adrenalina, de preparar o jogo, mexe contigo e te mantém?
— Sim, sim, adrenalina do jogo, de preparar o time na semana, do estádio lotado, de ser criticado ou elogiado. Ligo para a crítica quando ela é válida. Sendo elogiado, sendo ovacionado no dia seguinte por fazer essa mudança taticamente. Um jogo importante que classificou o time, foi campeão com o clube. Isso tudo é lógico que faz parte.
E sente falta disso nas férias?
— Não. Aí não. Me desligo totalmente. O cara vem falar de futebol comigo nas férias e digo: “meu amigo, estou de férias”. No máximo, faço as fotos e tal. “Mas estou de férias, respeita meu espaço. Até porque em um mês a minha cabeça está a mil e você não me deixou curtir…” Minha galera já não fala de futebol no bar, na praia comigo. Digo, estou de férias.
Nem liga a TV nesse período?
— Não, eu chego cansado em casa. Vou para a praia, chego tarde da noite. Chapado... (risos).
Ainda no teu início de treinador, no Vasco,você teve um episódio de empurrão no Valdir Papel na final da Copa do Brasil de 2006. É uma atitude que não te vejo repetindo. Como vê aquilo hoje?
— Cara, mas ali não fiz nada de mais. Os caras acham que fui brigar com ele ali. Não. Ele foi expulso, injustamente, porque os caras do Flamengo pressionaram por todos os lados. Eu fiquei bravo com meus jogadores do Vasco porque não pressionaram o árbitro e os caras do Flamengo ganharam na pressão aquela expulsão dele. E aí ele foi tentar se explicar. Eu falei: “sai daqui, vai para o vestiário”. Eu tentei tirar ele, não é que eu fui para agredir. Então eu falei: “sai daqui”. Foi na emoção, entendeu? Foi logo no início do jogo, inclusive, foi numa final.
Naquela ocasião você afastou o Valdiram do Vasco. Você esperava o fim trágico que ele teve?
— Nossa, o que fiz para aquele rapaz. O que eu ajudei ele. O que o que aquele moleque aprontava, o que ele aprontava, o que ele aprontava... Coisa pesada, então a gente segurava. Eurico Miranda também foi um pai para ele. A gente segurava, segurava, escondia, segurava, escondia… Cara, para, para, para. Estava dentro dele que ele tinha que aprontar uma todo dia. Não foi fácil segurar o rapaz. Ele começou a jogar bem, virou ídolo da torcida do Vasco. E quanto mais ele crescia, parecia que mais ele tinha que aprontar. Tem cada história daquele rapaz. Só eu e o presidente sabe o que nós seguramos.
Ele morreu muito cedo.
— Cara, eu… não (esperava algo assim) tão cedo. Eu sabia que lá, quando ele parasse de jogar, não iria ter o carinho e a proteção que ele tinha no clube, entendeu? E ele poderia se dar mal. Não tão cedo como acabou acontecendo. Fiquei muito triste, muito triste, porque no fundo ele tinha um grande coração, entendeu? Mas, cara, para aprontar era de uma hora para outra, mas infelizmente aconteceu.
Você é classificado sempre como excelente gestor de grupo. Gerir grupo é algo subestimado?
— A principal qualidade do treinador é ser gestor do grupo. É lógico que você tem que entender do futebol, tem a parte tática, a parte técnica. A gente tem 20 anos ali no campo, mas você gerir, ser gestor de um grupo de 30, 35 jogadores todos os dias? Eu nunca tive problema com jogador. Quer dizer, então, eu gosto que eles trabalhem com alegria, que cheguem no clube com alegria, do que chegar no clube desanimado. “Pô, lá vou eu, treinar naquele clube, droga, aquele treinador…” Não. Então para mim isso aí, sim, é uma qualidade que poucos têm. Você conta na mão. E essa pesquisa, é só você fazer com os jogadores do Brasil todo e vamos falar quem saber gerir grupo. E isso é fun-da-men-tal. É o pai da família, você tem aí a família aí de quatro, cinco pessoas. Se o pai e a mãe não souberem administrar a família, imagina quatro, cinco pessoas, agora, imagina se administrar 30, 40. Principalmente do jeito que está o mundo hoje.
Você proíbe celular no vestiário?
— O celular hoje é a pior doença para o jogador de futebol. E para o treinador. Tem horas que sim. Porque tem hora para tudo. Eu tenho a caixinha, é uma coisa minha antiga. Não vejo nos clubes a caixinha… hoje em dia ela é fun-da-men-tal. E comigo ela vai para onde eu for, ela vai. As regras vão comigo, onde trabalhar. Onde não tem caixinha, vira bagunça.
— Já falei para eles, uma hora dessa o cara vai cair dentro do campo, vai entrar a maca. O cara vai meter a mão na frente da sunga, vai puxar o celular e vai fazer uma ligação. Só está faltando. Por isso que tem que ter caixinha. E com multa pesadíssima.
Suárez contribuiu com a caixinha?
Não, ele era um puta de um profissional. Mas… assim, tem horas e horas para eles usarem os celulares. Dentro daqueles horários não tem problema nenhum. Mas o cara pisou na bola, está fora do horário, vai ser multado. Por exemplo, nas refeições. Eu chego nos clubes os caras estão assim, digitando, comendo, digitando, comendo. Daqui a pouco esquece da comida e fica só no celular. “Pô, espera aí…” Cheguei em clube em que 30 minutos antes do aquecimento, os caras estavam no celular. Tem alguma coisa errada. Aí o cara lá fora está falando com ele problema, problema... Aí o cara entra com aquele problema na cabeça. Nossa...
Você foi procurado pelo Rogério Caboclo, então presidente da CBF, naquela crise ali da Copa América de possível saída do Tite?
— Não, não. Alguém sempre chegava “ó, os caras vão te chamar…” Mas eu não trato com ninguém de qualquer clube enquanto o clube ou a seleção brasileira tiver treinador. Eu vou respeitar. Se alguém me procurar, pode me esquecer. Quer me contratar tem que estar sem treinador. Eu não vou sacanear colega de profissão.
Sentia que podia ser teu momento nessa última mudança da Seleção, antes do Dorival?
— Cara, eu vou te falar uma coisa. Vou te falar sinceramente, se eu fosse chamar para a Seleção agora, eu não iria. Com todo o respeito.
Por que?
— Nessa bagunça eu não vou entrar não. A seleção brasileira é meu sonho, mas a CBF tem que tomar vergonha na cara. A verdade é essa. Eu não quero chegar na seleção brasileira e ser mais um. Se um dia eu tiver que chegar lá. Mas chegar lá e daqui a 2 meses… “vai embora e me dá aí saco de arroz, saco de feijão, acabou tudo”. Nessa bagunça, eu estou fora. Graças a Deus ninguém me chamou. Eu não iria. Do jeito que está a situação na CBF, independente de quem quer que seja o presidente da CBF, mas ela tem que tomar vergonha na cara. Para o bem do futebol brasileiro.
O que você achou do Dorival assumindo agora?
— Não, nada a ver com Dorival. Eu liguei para ele. Dei os parabéns para ele. Ótimo, grande treinador, merecia a oportunidade, entendeu? Mas estou falando de mim. Se no lugar dele, se alguém tivesse me fala, do jeito que está a CBF, essa bagunça de hoje, estava fora. Ainda bem que ninguém me ligou. Mas ele, merecidamente, foi chamado. Ele aceitou. Cada um é cada um. Eu não teria ido.
Como lida com o passar do tempo? Passou pelos 40 anos, 50 anos, agora dos 60 anos, está com 61. Como é a vaidade do Renato que sempre teve a imagem de símbolo sexual nos anos 1980?
— Ah, as pessoas pensam que sou vaidoso, não sou vaidoso nada. O tempo passa para todo mundo. A gente tem que aceitar. Eu nunca fiz uma plástica, nunca fiz botox, nunca fiz nada. Vai ser do jeito que eu sou. O tempo passa e vou fazer o quê? Vou entrar em pânico. “Ah, mais um ano”. Tem um amigo meu lá do Rio de Janeiro que quando alguém fazer aniversário ele fala: “mais um ano a menos” (risos). É a vida, a vida não para. Procuro aproveitar a vida dentro do possível, vou trabalhar mais um tempinho e viver um pouco mais da vida. Porque minha vida sempre foi viajando e dentro de hotel.
A gente vai ver o Renato com 70, 80 anos naquele vôlei de Copacabana. O famoso vovôlei?
— Não, jogando futevôlei (risos). Mas a gente vai se encaixando nos jogos da nossa idade também. Vai jogando com pessoal do nosso tempo também. Sem problema. Na praia. Mas não vou deixar de fazer as coisas que eu gosto na praia. Independentemente da idade. Para mim é praia, meu mergulho, meu chopinho, isso eu não abro mão. Se fosse um cara vaidoso, que tivesse outras coisas, pô, ia só para Europa. Tenho condições. Ia viajar só para Europa, para cima e para baixo. Com carrão, relógio, ouro. Nada disso me atrai. O que me atrai praia, é o chinelo de dedo, minha bermuda, uma sunga. Aí está tudo ótimo.
Falando em praia e Rio de Janeiro, você tem dois amigos, Romário e Edmundo, que vivem brigando. Você já tentou interferir nisso? Ainda é amigo dos dois?
— Eu não tenho inimigos no futebol, só tenho amigos. Mas… cara, eu… na hora que eu cruzar com os dois, eu vou falar. Vivo falando com um e com o outro… “Para com isso, pelo amor de Deus”. São duas pessoas públicas. É difícil entender, não tem mais idade para isso também. É difícil.