Com o futebol parado, receitas desaparecendo, contratos de patrocínio sendo revisados para baixo e possibilidade de aumento de inadimplência, os valores dos clubes vão diminuindo diante dos olhos e bolsos de potenciais compradores e investidores.

Desse modo, a demora para aprovar o projeto de lei que regulariza os clubes-empresa vai tornando cada vez menor para as agremiações o 'poder de salvação' trazido pela medida, segundo afirmou para o ESPN.com.br o deputado federal Pedro Paulo (DEM), relator do projeto.

Aprovado na Câmara em novembro de 2019, o projeto está parado no Senado. Muito por conta da necessidade de trazer para a pauta de votação questões mais urgentes e relacionadas à pandemia de COVID-19, especialmente num cenário de votações remotas.

Mas também, conforme interlocutores e especialistas ouvidos pela reportagem, porque o entusiasmo do presidente da casa, senador Davi Alcolumbre (DEM), é menor que o do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), para tratar a questão.

"A verdade é que os clubes vão perdendo valor com o passar da crise, os ativos vão se tornando menos interessantes", resume Pedro Paulo.

"Todas as votações que se tenta de maneira remota que não tenham objeto de especifico de combate à COVID-19 nao estão prosperando. O parlamento, diante da urgência, está logicamente priorizando a avaliação de ações que beneficiem uma parcela maior da sociedade", explica ele.

Mas ainda que se decidisse pela colocação do projeto em votação o mais rapído possível, ainda haveria impasse e demora. Isso porque existem dois projetos de clubes-empresa: o de Pedro Paulo, da Câmara, e um com algumas divergências, que já tramitava no Senado, relatado por outro parlamentar do DEM, o senador Rodrigo Pacheco.

A ideia de Davi Alcolumbre é que haja uma fusão de dois projetos, algo a que o deputado Pedro Paulo não se opõe, embora entenda que sua proposta seja mais simples de aplicação.

"A diferença básica é que o meu projeto permite que os clubes se enquadrem em um dos cinco tipos de formas de constituição societária já existentes, tais como empresas limitadas, sociedades anônima,etc. O projeto do senado cria um sexto tipo, exclusivamente para os clubes-empresa, as SAF (sociedades anônimas do futebol)", explica o parlamentar.

Segundo ele, não há nenhuma outra indústria que tenha um modelo societário exclusivo para si, e não faz sentido haver um só para o futebol, portanto, se todos as outra atividades econômicas conseguiram se enquadrar em um dos cinco.

O diálogo de Pedro Paulo com Rodrigo Pacheco e a equipe que desenvolveu o projeto do Senado vem acontecendo. E, em nome de uma aprovação rápida, ele aceitaria abrir mão de alguns pontos específicos. Mesmo assim, a demora para votação poderia seguir acontecendo, devido à questão da pandemia.

Para evitar que a erosão nos valores dos clubes seja muito grande, Pedro Paulo é favorável à adoção de medidas que permitam postergar pagamentos de dívidas com o governo, como o Profut, por exemplo, e gerar alívio nos caixas das agremiações.

"Se a gente não ajudar agora, pode significar, mais para frente, clubes mais endividados e menos atraentes para os compradores, que também estão perdendo capacidade de investimento devido à crise", diz.