Dener disputou duas Copinhas pelo Flamengo. Chegou aos 16 anos e ficou até os 22 — Foto: Agência Estado
Após ter anunciado a aposentadoria por problemas decorrentes de lesões no joelho, o ex-zagueiro Dener Machado, de 23 anos, ingressou com ação trabalhista contra o Flamengo. O atleta pede indenização no valor de R$ 4,2 milhões. A base do processo é a mesma já alegada em entrevistas dadas por ele por ocasião do anúncio da aposentadoria: de que o departamento médico do clube errou no tratamento de suas lesões a ponto de torná-lo inválido .
O processo foi distribuído para a 1ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, nesta quarta-feira.
Dener fez parte da geração de base que formou jogadores como Lucas Paquetá, Felipe Vizeu e Léo Duarte. Na ação, os advogados narram a cronologia de suas cirurgias. Uma no joelho direito e duas no esquerdo, sendo estas, as que provocaram o fim de sua carreira.
Segundo conta na ação, após a segunda cirurgia, Dener não teve o tratamento adequado por parte do clube em sua recuperação. No documento, ele afirma que sentia fortes dores enquanto já realizava a transição para o campo, mas ouvia de quem o tratava (Dener não cita nominalmente os médicos ou preparadores que o atendiam) que "era normal" e deveria continuar a transição para o campo.
No trecho destacado abaixo, ele afirma que sofreu um novo entorse enquanto treinava com os profissionais, durante sua recuperação.
Trecho do processo em que Dener afirma que sofreu um entorse durante sua reabilitação — Foto: Reprodução
A ação detalha os problemas médicos identificados a partir da ressonância magnética e afirma que, mesmo com o diagnóstico e a necessidade de uma nova cirurgia (na visão de Dener e de médicos consultados), o clube optou por não realizar o procedimento :
Neste trecho, Dener afirma à Justiça que foi colocado par treinar e jogar "sem estar em condições físicas" — Foto: Reprodução
Diante da negativa e com dúvidas, narram os advogados, Dener procurou o Figueirense. O atleta estava no Flamengo emprestado pelo clube de Santa Catarina. Os médicos do clube de origem tiveram opinião diferente da dos médicos do clube rubro-negro:
“Os médicos do Figueirense FC prontamente identificaram a lesão do joelho esquerdo. Os médicos imediatamente recomendaram que fosse realizada nova cirurgia no joelho esquerdo . Os médicos da Reclamada tentaram convencer o Reclamante a não realizar a cirurgia, todavia, as fortes dores, inchaços, a cirurgia foi realizada em 22/06/2018", afirmam os advogados Filipe Rino e Thiago Rino que assinam a ação.
Por "reclamada", no trecho acima, entende-se: Flamengo. E por "reclamante", o jogador Dener.
Segundo Rino, essa segunda cirurgia foi realizada no Rio, com supervisão do Flamengo, mas a recuperação teria sido prejudicada por ter ocorrido durante a Copa do Mundo de 2018 e o clube ter entrado em recesso. Segundo a ação, Dener ficou 20 dias sem atendimento, nem fisioterapia o que provocou, afirmam, uma fibrose no joelho.
"Nesses 20 dias, não houve acompanhamento de nenhum profissional. Por conta desse período, o joelho esquerdo enrijeceu, ficou “duro”, causando fibrose, que foi diagnosticada meses após",
O atleta permaneceu por mais quase um ano no Flamengo até que em março de 2019 pediu rescisão contra a sua vontade, afirma nos autos, voltando ao Figueirense.
No clube, ainda passou por mais uma cirurgia, dessa vez para tentar "limpar" o joelho da fibrose. O procedimento não foi suficiente para recuperar o zagueiro e, após mais uma bateria de exames, recebeu recomendação médica para se aposentar.
Laudo médico que decreta o fim da carreira do jogador — Foto: Reprodução
Ainda como argumentação, os advogados anexaram aos autos declarações do ex-meia Ederson. O agora ex-jogador culpou uma cirurgia "mal sucedida por irresponsabilidades e negligências" feita quando ainda estava no Flamengo. Quando o anúncio feito por Dener de que estava deixando a profissão, Ederson se solidarizou com o zagueiro.
Dener ficou no Flamengo por cinco anos. Chegou com 16, permanecendo até os 22 . Nesse período, participou de duas Copas São Paulo de Futebol Júnior, sendo capitão em algumas partidas.
Segundo seus advogados, o Flamengo não mantinha seguro obrigatório por acidente de trabalho, o que é cobrado na Justiça. Além da ausência do seguro, o atleta pede indenização por dano moral, reparação de danos materiais pela interrupção da carreira e estabilidade provisória .
Sobre as afirmações de Ederson, na época da publicação, o Flamengo preferiu não se manifestar. Nas redes sociais, o vice-geral do clube, Rodrigo Dunshee de Abranches, mesmo sem citar nomes disse que "Ex atletas não são qualificados para julgar condutas médicas".
Postagem de Dener sobre o encerramento de sua carreira com acusações ao Flamengo — Foto: Reprodução
Ouvido para esta publicação, o departamento jurídico do Flamengo enviou a seguinte nota:
"O Vice-Presidente geral e jurídico do Flamengo, Rodrigo Dunshee, esclarece que o atleta não tem qualificação técnica para apontar erro médico em seu caso. Na avaliação dos profissionais médicos do clube não houve qualquer erro de procedimento no atendimento ao atleta. Se o atleta se julga prejudicado, deve então buscar o judiciário".