Tal qual a eleição do presidente dos Estados Unidos mexe com o futuro do resto do planeta, há pleitos de clubes que interferem no restante do futebol. Seria o caso do Palmeiras este ano, não fosse a recondução de Leila Pereira para mais um mandato a previsão mais óbvia e, portanto, a que gera menos ansiedades em todo mundo. É o caso do Flamengo, disputado por Rodrigo Dunshee e Luiz Eduardo Baptista, o Bap; dificilmente alguém fora dessa polarização.
Gostem os adversários ou não, o Flamengo tem sobrepeso em questões de interesse coletivo. Quando a diretoria rubro-negra tretou com a Globo e se aliou a Jair Bolsonaro, em 2020, para instalar a Medida Provisória 984/20, deu o impulso necessário para o surgimento da Lei do Mandante. Essa mudança na legislação determinou tudo o que está aí hoje: a dinâmica da venda dos direitos de transmissão de 2025 a 2030, o racha dos clubes entre Libra e LFU, etc.
Foi o Flamengo, aliás, que deu início ao atual movimento pela fundação da liga, quando Rodolfo Landim se aproximou do advogado Flavio Zveiter e do executivo do entretenimento Lawrence Magrath e deu sinal verde para a busca de investidores — na época em que ninguém imaginava que haveria tal mercado. Foi também o Flamengo que, na insistência por garantias mínimas e decisões por unanimidade, travou consensos e dificultou a união de dirigentes.
Dito que o presidente rubro-negro não é um presidente qualquer, voltemos ao presente. A escolha entre um dos candidatos, a se decidir em 9 de dezembro, interessa obviamente aos flamenguistas, pelas decisões que serão tomadas no futebol, nas finanças, sobre o estádio, blá, blá, blá. Mas importa também ao futebol brasileiro. O que esperar de Dunshee e Bap?
Além de ser situacionista, eleger Dunshee é eleger Landim — pelo menos, é o que a campanha faz crer. Antes, Landim se lançaria à presidência do Conselho Deliberativo. Agora, o plano mudou para que ele seja o CEO de Dunshee. Sou cético da ideia de que o atual líder influenciaria para sempre o mandato do sucessor, pois a cadeira de presidente do clube muda a cabeça das pessoas. Acordos são desfeitos, alianças acabam; já vimos essa história antes. Mas é no que querem acreditar.
Nesta hipótese, da vitória de Dunshee e Landim, qual a postura do Flamengo perante o coletivo? O contrato que eles assinaram com a Globo e a permanência na Libra devem se manter inalterados, pois foram decisões do próprio Landim. Adiante, há avanços a se fazer na unificação dos blocos de clubes. Landim delegou exageradamente esses assuntos, dentro e fora da estrutura do Flamengo, e talvez por isso não tenha contribuído como poderia. Mas ainda tem três meses para fazer algo
Já Bap não chega a ser oposição-oposição, pois deriva do mesmo grupo que comanda o clube desde 2013, e as suas impressões digitais estão em quase tudo que deu certo e errado no marketing e na governança do clube. Mas o perfil dele é outro: se por um lado leva a vantagem de ter raciocínio próprio e indivisível, por outro tem a desvantagem da imprevisibilidade e da impulsividade. Com ele, ninguém sabe se o Flamengo encara a missão da liga de clubes ou reabre o bloco do eu sozinho.
É natural que, em tempos de eleição rubro-negra, só se pergunte aos candidatos de futebol, política e estádio. Mal e mal, a administração entra superficialmente em pauta. Desta vez, por tudo que está em jogo fora de campo, eu queria mesmo saber que Flamengo se pode esperar para além da Gávea.